

João AB da Silva
Economista e investidor
Economista e investidor
Artigos publicados


Fábricas de miolo sagrado
Heidegger dizia que a ciência é incapaz de pensar. Já Russell via nela o perfeito substituto da religião - coisa de paleolíticos intelectualmente imberbes. Resumindo e baralhando: agora que chegámos à maturidade intelectual do século XXI, não há nada mais sagrado que recusar-se a dar ao miolo.

Hipócritas do mundo, uni-vos!
Nem todos os socialistas são iguais. Felizmente, alguns são mais hipócritas do que outros. O caso do México é emblemático. AMLO é tão populista quanto os seus pares. Também ele falseia a democracia, sustentando o poder numa sociedade organizada por movimentos culturais e políticos que o favorecem. Também para ele a cultura é uma arma, desde que a licença de uso e porte seja da sua exclusividade -- prova disso são as mañaneras, programa de TV em que diariamente se dirige ao povo. E a ver pelo discurso, também ele gosta tanto dos pobres que só pensa em multiplicá-los (como diria Mariano Grondona).

O bom e o resto
O que está bem feito deve ser reconhecido. Nunca percebi, por exemplo, o exagero de críticas dirigidas à Web Summit. Trata-se da maior conferência europeia de tecnologias, envolvendo todo o tipo de empresas, desde as listadas na Fortune 500 às pequenas e médias do setor. Como pode isto ser mau em si mesmo?

Finalmente há vistos
Quatro anos depois de o AMIGOS Act ter passado no Congresso dos EUA, os portugueses podem agora a aceder aos vistos E1 e E2. O acordo começou com Trump e acabou por ir parar à caneta de Biden, que o assinou um dia antes da ceia natalícia. Isto significa que os nossos investidores e trabalhadores qualificados poderão, por fim, candidatar-se a residir nos EUA, desde que preencham os requisitos.

Zandinga
Acabou-se 2022 e, como qualquer ano que finda, vem acompanhado de profecias. Como é evidente, li-as todas. O mês passado foi mesmo à Zandinga. Consultei de tudo - cartomantes, astrólogos, quiromantes, especialistas em saúde e até PhDs em economia. Sinto-me, portanto, qualificado para também eu mandar as minhas postas de pescada. Então, o que dizem as estelas para este 2023?

Think-tanks, bacalhau e ampolas capilares
A sociedade contemporânea não vive sem laboratórios de reflexão ou de ideias. Na expressão inglesa, think-tanks. Estas plataformas sugiram há mais de um século, perdurando até aos nossos dias, como é o caso da Fabian Society (1884), da qual fizeram parte Bernard Shaw e H.G. Wells. Outro exemplo centenário é o Council on Foreign Relations (1921), cuja existência se deveu à necessidade de conceber um novo mundo, após a 1º Guerra Mundial e consequente queda dos impérios Austro-Húngaro e Otomano.

Caracol de corridas
Há um par de meses, o Governo de Liz Truss ameaçou cometer o maior sacrilégio dos nossos tempos - reduzir os impostos, com vista a manter os rendimentos na posse das famílias, dos trabalhadores e das empresas, ao invés de os transferir para o Estado. O que é o mesmo que dizer, perpetuar a dívida. Esta é a escolha que os políticos têm entre mãos: permitir que os comuns mortais retenham a riqueza que produzem ou extorqui-los com impostos, a troco de esmolas públicas, para satisfazer os delírios monetaristas de um mundo que, desde que saiu do padrão-ouro, mais parece uma impressora xerox.

César, Deus e arredores
Agora que a China venceu as eleições brasileiras, falemos de perseguição. Muitos a sentem hoje e sentirão ainda mais nos tempos que se aguardam. Refiro-me, sobretudo, aos cristãos do século XXI. Cerca de 340 milhões são discriminados ou vítimas de ações persecutórias, incluindo prisão, tortura e morte.

Gatinhos nos acudam
Dizer que a China é o modelo para o futuro rapidamente se tornou o cliché do século XXI. Na década de 2000, todos o apregoavam. Desde os capitalistas, levados pelo fascínio da globalização e ascensão de mercados emergentes, aos anticapitalistas, iludidos pela fantasia de um comunismo de mercado - uma evidente contradição, mas que muitos tomaram como real. A crise de 2008, entretanto, apenas veio reforçar esta ilusão. Recordo-me de Žižek encher a boca com as supostas lições de capitalismo que os comunistas orientais davam aos capitalistas do ocidente.

Menos penitência, mais decência
Vivemos em tempos de rasgar vestes. Em Itália os "maus" ganharam, enquanto pela Europa fora os "bons" se cobrem de panos de saco e cinza, vociferando: "sua culpa, sua culpa, sua tão grande culpa!" (na fórmula penitencial dos esquerdistas, a culpa é sempre dos outros). É o espetro do fascismo, dizem, como se essa palavra ainda significasse alguma coisa, além do mero insulto.

Por favor, não levem a mal
Como já era previsível, 2023 será mais um dos anni horribiles que têm assolado o nosso século. Em termos económicos e financeiros talvez venha a ser o pior. A culpa é do Putin? Ele não é lá muito bom rapaz, de facto. Terá de responder pela guerra injusta e criminosa que impôs à Ucrânia, sem dúvida. Mas, foi ele que elevou ao histerismo as medidas anti-pandémicas? Foi ele que tentou camuflar as respetivas consequências imprimindo dinheiro a rodos, literalmente, como se não houvesse amanhã? Foi ele que entrou numa espiral de sanções contra si mesmo, que levaram à solidificação do bloco russo-chinês e tiveram um efeito bumerangue devastador na Europa?

Não diga isso, Don Ricardo
Ora aqui estamos em setembro, todos moreninhos das férias, restabelecidos e preparados para mais um ano de trabalho. Vamos a isso? Calma. Ainda não. Não sem antes dar um último relance sobre um episódio ocorrido no final do mês passado e pelo qual, aparentemente, ninguém deu.

Nicarágua e a simpatia utopista
Já tenho alertado para o combate sem quartel que se está a travar na América Latina, entre os defensores da democracia ocidental - ou o que resta dela - e revolucionários do Foro de São Paulo, dispostos a cometer todos os crimes e atrocidades em prol do comunismo do século XXI. A tática destes últimos é sempre a mesma: aproveitar a hegemonia cultural granjeada a seu favor, ao longo de décadas, bem como o vasto processo de infiltração nas instituições democráticas para, então, tomá-las definitivamente de assalto. Assim, por meio da fabricação do consenso institucional e social, com espantosa malícia jurídica e cumplicidade dos media locais, têm conseguido impor a velha tirania comunista sob a capa de democracia popular e nacionalista.

Estacionário é pouco
No passado dia 27 de julho, Jordan Peterson publicou um vídeo no Youtube com uma advertência aos canadienses, sob o título: Reflections On The Sorry State of Canada. Recomendo vivamente. Não só porque não aparece na imprensa portuguesa como revela muitos dos problemas que aí se avizinham. Sobretudo, em países outrora tidos como estandartes do Ocidente livre e que, hoje, estão na linha da frente da luta pela venezuelização woke do universo.

A Ordem Alternativa
Desde a origem do comunismo que os revolucionários se preocupam primeiro em conquistar o poder. E logo, em perpetuar-se nele. O resto é conto de fadas para ressentidos e sonhadores baratos. A China foi e é, talvez, o caso mais emblemático deste fenómeno. A sua história tem ocorrido em ciclos, umas vezes abrindo-se ao exterior, outras fechando-se, manifestando um total desinteresse pelo mundo que a rodeia.

Ponto de rebuçado
Não esperem ver isto nos telejornais portugueses. No início deste mês, a emissora argentina La Nación Más convidou o analista Gustavo Segré a fazer um breve resumo do estado da economia brasileira. O resultado é esclarecedor.

Ora et labora, pá!
Para Marx, o trabalho escraviza quando sujeito à alienação capitalista. Para os nazis, liberta. Hitler e Estaline esperavam que o povo trabalhador edificasse o paraíso nacionalista. Trotsky preferia o internacionalista. Já os transumanistas anseiam que ciência e tecnologia os livrem do suor para que uma dúzia de super-homens possa enfim desfrutar.

A cada um o que é seu
Desde que Musk comprou o Twitter não têm faltado moralistas de Rolex a atirar postas de pescada contra o capitalismo e o empreendedorismo. Novidade? Nenhuma. Sobretudo em Portugal, fazer dinheiro continua a ser visto como sinal de egoísmo, ganância, promoção da desigualdade e apropriação do trabalho alheio. Basta, porém, constatar a realidade histórica para nos darmos conta de que, afinal, o socialismo e o comunismo é que caem nos pecados que alegam combater.
