BCE agrava taxas de juro até 3%, um máximo de 15 anos, e tenciona repetir a dose em março

Taxa central passou de 0% em junho para 3% agora e em março o BCE diz que tenciona repetir a dose, subindo-a para 3,5%. Custo dos empréstimos indexados às Euribor explodiram e estão a empurrar muitas famílias e pequenas empresas para uma situação de quase rutura. E o aperto vai continuar depois de março, avisou Lagarde.

Luís Reis Ribeiro
Christine Lagarde, presidente do BCE. © Daniel ROLAND / AFP

As taxas de juro diretoras do Banco Central Europeu (BCE) aumentaram, como já se antecipava, 0,5 pontos percentuais. A taxa central (de refinanciamento) subiu assim para 3%, anunciou o BCE, esta quinta-feira.

Esta taxa de 3% é a mais alta dos últimos 15 anos, desde o tempo da grande crise financeira que eclodiu no final de 2008. em março, tenciona repete a dose: esta quinta, o BCE sinalizou que nessa reunião da primavera, a taxa deve volta a subir e chegará aos 3,5%.

Na conferência de imprensa, a presidente do BCE, Christine Lagarde, foi mais longe e disse que depois de março, as taxas de juro vão continuar a aumentar de forma constante (portanto, presume-se que os aumentos sejam sempre de 0,5%, como têm sido desde dezembro) e vão subir de forma "significativa" durante "tempo suficiente" -- que pode ser bastante tempo, há até quem anteveja dois ou três anos de subidas de juros, por exemplo.

A taxa diretora de refinanciamento é o preço normal cobrado aos bancos comerciais quando estes vão pedir emprestado dinheiro aos bancos centrais numa base diária para terem fundos para fazer os seus negócios, como vender crédito às famílias e empresas.

A entidade sediada em Frankfurt começou esta subida muito rápida e musculada das taxas de juro em julho do ano passado para tentar arrefecer a economia e baixar a inflação, que disparou para números nunca vistos (desde que existe o euro) com a guerra e a crise energética.

A taxa de juro central, que durante mais de seis anos esteve nos 0%, começou a subir em julho (aumento da taxa para 0,5%), em setembro, o BCE tornou-se ainda mais agressivo, avançando com uma agravamento de 0,75% e em novembro repetiu a dose com mais 0,75%.

Nas vésperas de natal, continuou o aperto monetário, mas abrandou um pouco o torniquete: aumentou a taxa em meio ponto percentual para 2,5%. Hoje, repetiu a mesma dose e a taxa principal da zona euro está agora, como referido, nos 3%, o tal máximo de 15 anos.

Em comunicado, o conselho do BCE -- onde tem assento a presidente Christine Lagarde e os governadores dos bancos centrais nacionais dos 20 países do euro, como o português Mário Centeno -- diz que, depois da subida de hoje, mais haverá até se considerar que a inflação está dominada e ancoraram no objetivo de 2%.

Hoje a inflação do euro está num nível totalmente incompatível com este programa do BCE: foi de 9,2% em dezembro e a primeira estimativa para janeiro diz que até abrandou para 8,5%, mas este valor é mais de quatro vezes superior ao objetivo normativo do BCE.

Assim, a autoridade liderada por Lagarde refere que "prosseguirá a trajetória de subida significativa das taxas de juro a um ritmo constante e mantê‑las‑á em níveis suficientemente restritivos para assegurar um retorno atempado da inflação ao seu objetivo de 2% a médio prazo".

Novo aumento de juros em março

Para isso, como referido, o BCE decidiu hoje por um aumento de 50 pontos base [meio ponto percentual, 0,5%] das três taxas de juro diretoras do BCE, as quais espera continuar a aumentar".

Mas "atendendo às pressões sobre a inflação subjacente, o conselho do BCE tenciona aumentar as taxas de juro em mais 50 pontos base na próxima reunião dedicada à política monetária, em março".

Nessa altura, o Banco "avaliará então a trajetória subsequente da política monetária", mas vai avisando já que "manter as taxas de juro em níveis restritivos reduzirá, com o tempo, a inflação, ao refrear a procura, e protegerá também contra o risco de uma persistente deslocação, em sentido ascendente, das expectativas de inflação".

Portanto, o caminho é a subir, mas o BCE ressalva que as suas futuras decisões sobre as taxas de juro diretoras vão "depender dos dados e seguir uma abordagem reunião a reunião".

(atualizado 14h15)

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