Avaliadores de imóveis com quebra de 40% na atividade

Para o presidente da ASAVAL, a retoma do imobiliário vai ficar "muito dependente da evolução do ciclo económico e do dinamismo do sector do turismo".

Para que os avaliadores de imóveis pudessem manter-se em atividade neste período de afastamento social, a Associação Profissional das Sociedades de Avaliação (ASAVAL) conseguiu que a Comissão do Mercado de Valores Imobiliários (CMVM) aceitasse novas regras para a realização da operação em contexto da pandemia.

Como explica, Paulo Barros Trindade, presidente da ASAVAL, em entrevista via email ao Dinheiro Vivo, a inspeção continua a realizar-se, mas agora com recurso a meios tecnológicos e desde que seja aceite pela instituição financeira a que se destina a avaliação

O problema é que "o volume de avaliações realizadas no âmbito do crédito à habitação reduziu-se substancialmente". Essa quebra, "em certas situações, já atinge os 30 a 40%", revela Paulo Barros Trindade. O futuro a médio prazo também não é promissor. Como diz, a retoma do mercado imobiliário vai ficar "muito dependente da evolução do ciclo económico e do dinamismo do sector do turismo".

Com o primeiro decreto de estado de emergência, que entrou em vigor a 22 de março, a avaliação de imóveis ficou suspensa. Como analisa esse primeiro período na atividade?

A atividade não ficou completamente suspensa, mas realmente existiu uma redução significativa do número de avaliações realizadas. Antecipando este problema e perante a necessidade de manter o sector financeiro a funcionar, nomeadamente, o associado ao crédito hipotecário, a ASAVAL a 13 de março remeteu para a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e Banco de Portugal uma proposta de manutenção da atividade de avaliação imobiliária, que integrava as diretrizes da Direção-Geral da Saúde quanto à necessidade de se manter o afastamento social. Essa proposta foi entretanto melhorada e remetida novamente para as mesmas Instituições a 20 de março. A proposta previa a substituição da inspeção física presencial aos imóveis por uma inspeção ao interior realizada por videochamada e complementada por uma inspeção pelo exterior, realizada diretamente pelo perito avaliador.

Entretanto, foram criadas novas regras para que a avaliação de imóveis pudesse decorrer dentro desta 'normalidade'. Exatamente o que foi regulamentado e como se procede atualmente à avaliação de imóveis?

A CMVM emitiu a 25 de março uma comunicação indicando que as inspeções aos imóveis se devem continuar a realizar e que no caso de não ser possível fisicamente, a inspeção poderá ser realizada com recurso a meios tecnológicos, desde que essa modalidade seja aceite pela instituição financeira a que se destina a avaliação, identificando quem colaborou para a realização da inspeção com meios tecnológicos e conservando o registo tecnológico em arquivo. Os relatórios de avaliação devem incluir a referência ao contexto em que estão a ser realizados.

Essas medidas vieram efetivamente ajudar a ou as pessoas continuam a adiar os processos de compra?

No final de março ainda existia um conjunto considerável de propostas de crédito que estavam pendentes de relatório de avaliação, pelo que claramente estas medidas permitiram que se realizassem operações de crédito, nomeadamente, de crédito à habitação. Durante abril ainda se verificou esse efeito, no entanto, é evidente que o volume de avaliações realizadas no âmbito do crédito à habitação se reduziu substancialmente.

Quantas pessoas estão diretamente envolvidas nesta atividade no país?

Para realizar avaliações para o sector financeiro é necessário os peritos avaliadores estarem inscritos na CMVM, sendo que entre sociedades de avaliação e peritos avaliadores individuais, estão inscritos pouco mais de 1.500. Se considerarmos os peritos que realizam outro tipo de avaliações, nomeadamente, diretamente para proprietários e investidores, para o sector fiscal e para expropriações, estimamos existirem cerca de 2.000 peritos avaliadores de imóveis no nosso país, ainda que muitos não desenvolvam a atividade a tempo inteiro.

Qual o impacto desta paragem na economia na avaliação de imóveis?

O abrandamento da economia e, consequentemente, do crédito hipotecário, traz obviamente uma redução substancial da atividade dos peritos avaliadores que operam no sector financeiro, pelo que o nosso sector já sente uma grande redução da atividade, que em certas situações já atinge os 30 a 40%.

Acha possível que em maio seja possível retomar o ritmo anterior à pandemia?

Face às notícias que parecem indiciar que a retoma da atividade económica será gradual, julgamos que se manterão durante algum tempo as regras sobre o afastamento social, pelo que será expectável que as condições extraordinárias em que temos trabalhado se possam prolongar por mais algum tempo.

Como vê o futuro a curto médio prazo do sector do imobiliário?

Já se verifica em muitas das propriedades que se encontram em comercialização, uma redução no preço solicitado. Com os mercados financeiros a perderem valor dentro dos 2 dígitos e a quebra que já se verificou no mercado do petróleo, o contágio ao mercado imobiliário será uma realidade, ainda que de forma não equivalente. Neste momento, as transações são escassas ou mesmo nulas, pelo que não existem ainda dados concretos que demonstrem que queda existirá nos preços dos imóveis, mas seguramente existirá uma queda, sobretudo no curto/médio prazo e a retoma do mercado imobiliário ficará muito dependente da evolução do ciclo económico e do dinamismo do sector do turismo.

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