BCE revê inflação em baixa e crescimento em alta no dia em que aperta muito os juros

Previsão de inflação da zona euro para este ano caiu de 6,3% em dezembro, para 5,3% agora. Taxa de crescimento da economia do euro em 2023 sobe de 0,5% para 1%, anunciou o BCE.

A previsão de inflação da zona euro para este ano foi revista em baixa pelo Banco Central Europeu (BCE), de 6,3% em dezembro, para 5,3% agora nas projeções de março, anunciou esta quinta-feira a instituição presidida por Christine Lagarde.

E a economia da zona euro parece estar a ganhar alguma força já que a previsão de expansão do produto interno bruto (PIB) em 2023 foi elevada de 0,5% (em dezembro) para 1% agora.

Em todo o caso, o BCE argumenta que a inflação subjacente (sem alimentos e energia) está a ganhar tração, ou seja, no entender dos governadores em Frankfurt a subida de preços muito eleva está a enraizar-se na economia do euro, o que para o BCE é intolerável.

Assim, é um dos argumentos mais fortes que hoje terá para justificar uma subida grande das taxas de juro (com a desta quinta) e as outras que se seguirão.

Dados já desatualizados por causa dos novos problemas com bancos

Em conferência de imprensa, a presidente do BCE, também sublinhou que os dados usados para a construção destas previsões só vão até ao dia 1 de março e que portanto não incluem os desenvolvimentos recentes nos mercados financeiros, as "tensões de mercado" que adicionaram mais incerteza ao ambiente económico e à inflação.

Estava a referir-se aos casos mais agudos e graves envolvendo bancos nos últimos dias, como a falência de dois bancos nos Estados Unidos (Silicon Valley Bank e Signature Bank), mais duas gestores de criptomoedas que evaporaram.

Em cima disto, ainda há os problemas crescentes com fundos de pensões no Reino Unido e, a cereja em cima do bolo, o Credit Suisse, que ontem se despenhou em bolsa e que deverá pedir ajuda ao Banco Nacional Suíço (que já disse que tem mais de 50 mil milhões de euros preparados para aliviar o gigante financeiro, se for preciso).

Lagarde reparou perante os jornalistas que esta alta incerteza foi "amplificada" pelos últimos desenvolvimentos e que é má para a zona euro, na medida em que a destabiliza em termos financeiros.

Seja como for, mesmo antes desses casos problemáticos com bancos eclodirem, os dados da inflação e a incerteza não são nada do agrado do BCE.

Lagarde explicou que "as novas projeções macroeconómicas dos especialistas do BCE foram finalizadas no início de março, antes do recente surgimento de tensões nos mercados financeiros".

"Assim, essas tensões implicam uma incerteza adicional em torno das projeções de referência para a inflação e o crescimento."

"Antes dos mais recentes desenvolvimentos, a trajetória de referência da inflação global tinha já sido objeto de uma revisão em baixa, sobretudo devido a um contributo dos preços dos produtos energéticos menor do que o anteriormente esperado".

No entanto, Lagarde alertou que "as pressões subjacentes sobre os preços permanecem fortes" e que "a inflação excluindo preços dos produtos energéticos e dos produtos alimentares continuou a subir em fevereiro e os especialistas do BCE esperam que seja, em média, de 4,6% em 2023, valor que é mais elevado do que o avançado nas projeções de dezembro".

Há três meses, a previsão para esta medida de inflação mais enraizada e subterrânea era de 4,2% em 2023.

"Temos ainda um longo caminho a percorrer"

Seja como for, "projeta‑se que a inflação permaneça demasiado elevada durante demasiado tempo" e que, portanto, "temos ainda muito caminho para percorrer" em termos de subidas de taxas de juro, alertou Lagarde.

Em maio e junho devem ocorrer novos agravamentos, uma "intenção" que já foi anunciada e que hoje foi reafirmada, embora este sempre dependente de novos dados, do andamento da inflação subjacente e da transmissão das subidas das taxas de juro do BCE às taxas de juro dos bancos e às famílias e empresas.

A líder do BCE diz que o seu staff de economista prevê agora "que a inflação [total] se situe, em média, em 5,3% em 2023, 2,9% em 2024 e 2,1% em 2025".

E que a inflação descontando comida e energia seja 4,6% em 2023, mas que depois "desça para 2,5% em 2024 e 2,2% em 2025, com o desvanecimento das pressões em sentido ascendente geradas pelos anteriores choques da oferta e pela reabertura da economia e com a maior restritividade da política monetária a atenuar cada vez mais a procura".

Lagarde repetiu várias vezes que a decisão desta quinta-feira de aumentar as taxas de juro de forma musculada, que o setor bancário do euro está bem e é "resiliente" e que o BCE está sempre pronto a ajudar e rapidamente bancos e outros agentes caso seja necessário com programas de apoio monetário. Relembrou os programas "muito eficazes" do tempo da pandemia, que foram ativados de forma muito rápida para contrariar os efeitos nefastos dos confinamentos.

Já as projeções de referência para o crescimento em 2023 "foram revistas em alta para uma média de 1%, em resultado quer da descida dos preços dos produtos energéticos quer da maior resiliência da economia à conjuntura económica internacional difícil". Em dezembro, a projeção dos especialistas do BCE apontava para um crescimento anémico de 0,5% este ano.

Os economistas do BCE "esperam que, então, o crescimento registe novo aumento, para 1,6%, tanto em 2024 como em 2025, apoiado por um mercado de trabalho robusto, pela melhoria da confiança e por uma recuperação dos rendimentos reais".

Mas a subida de juros tem um preço no bem-estar geral. Ela reduz a inflação, que é como um imposto injusto, que penaliza mais os mais pobres, mas "simultaneamente, o aumento do crescimento em 2024 e 2025 é mais fraco do que o projetado em dezembro, devido à maior restritividade da política monetária", ou seja, o aumento do custo do dinheiro tira fôlego à economia, à atividade das empresas e ao consumo das famílias.

(atualizado 15h25)

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