Com o calendário a encolher, parece cada vez mais provável uma saída sem acordo do Reino Unido da União Europeia. O prazo estipulado por Downing Street é o dia 31 de outubro e o primeiro-ministro Boris Johnson parece decidido em cumprir a promessa de uma saída nessa data, com ou sem acordo.
Um cenário que levou a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE) a simular cenários de um divórcio litigioso nas previsões económicas intercalares divulgadas esta quinta-feira.
“A saída sem acordo produzirá um grande choque negativo para a economia do Reino Unido”, lê-se no documento. “O PIB cai perto de 2% em 2020, empurrando a economia para a recessão, tendo em conta a projeção do cenário base”, indica a OCDE, acrescentando que os “custos de curto prazo continuarão a aumentar em 2021-22”.
No primeiro ano, em 2020, o investimento empresarial estima uma diminuição de 9%, com uma “subida da inflação em 0,75 pontos percentuais, impulsionada pelo aumento dos preços das importações."
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
Para a zona euro e a União Europeia a 27, “o PIB diminui cerca de 0,5%, no curto prazo”, indica a OCDE. A queda é mais pequena na Alemanha, França e Itália, “mas entre 0,5%-0,75% em Espanha e na Dinamarca e maior na Holanda e na Bélgica, entre 0,75% e 1% do PIB”, refere a organização. A economia mais castigada acabará por ser a Irlanda, pela proximidade geográfica. Neste caso, o PIB poderá cair perto de 1,5% no curto prazo.
A instituição sediada em Paris refere que “na zona euro, como um todo, o investimento empresarial será particularmente afetado, com uma queda de cerca de 2% em 2020 e 2021.
Os efeitos em Portugal
Portugal não é referido no relatório da OCDE e nas simulações sobre um brexit sem acordo. Os primeiros efeitos serão sentidos pela comunidade portuguesa a residir no Reino Unido e que, segundo previsões do governo, atinge as 400 mil pessoas. Com uma possível recessão e aumento do desemprego, é previsível o regresso de muitos cidadãos nacionais, à semelhança do que aconteceu com a crise da construção em Espanha.
O segundo efeito será por via das exportações. O Reino Unido é o quarto cliente das exportações portuguesas de bens e o primeiro de serviços. Um estudo da Confederação Empresarial de Portugal divulgado no ano passado estima uma quebra potencial das exportações, num cenário mais pessimista, a rondar os 26%.
Para enfrentar estes riscos e dada a pouca margem de manobra do BCE para cortar mais as taxas de juro, a OCDE sugere que podem ser usadas medidas orçamentais direcionadas para amortecer o choque, “tanto através de fundos da União Europeia, como de políticas nacionais específicas.”