Bruno Bobone: "Ser rico em Portugal é pecado"

Antecipando o Growth Forum na próxima semana, o líder da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa traça caminhos e desafios para a economia.

Portugal depende muito das exportações, e temos a economia a abrandar, quer a nossa quer a dos principais parceiros de destino, temos a sombra do brexit... Como é que esses desafios marcam este momento do Growth Forum e da necessidade de nos afirmarmos?

Devem ser elementos motivadores. Se somos quem mais precisa da economia mundial, se não participarmos no seu desenvolvimento sujeitamo-nos a que nos corra mal o que é essencial. A economia mundial está a passar uma fase estranha, com muita instabilidade, dúvidas constantes sobre o que se vai passar, a forma de gerir países alterou-se e a estabilidade que conhecíamos dos governos, principalmente dos líderes do mundo, tem sido muito mais volátil. São formas de trabalhar, mas trouxeram uma insegurança terrível às empresas. O que podemos fazer é interferir nessas relações de forma a garantir que há estabilidade suficiente.

Portugal só pode viver internacionalmente e nós estamos a viver fechados sobre nós mesmos há demasiados anos. Temos de dar os passos para nos relançarmos. Nesta perspetiva também há uma parte importante que eu pessoalmente assumi que foi tornar-me vice-presidente da Confederação Económica da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A CPLP é um veículo extraordinário para esse papel que Portugal deve assumir, desde que deixe de ser só baseado na política e passe a ter interesses económicos. Porque só as instituições com interesses económicos têm vida real e consistência.

Estou envolvido em promover isso porque acho que a capacidade da CPLP com essa componente vai ajudar-nos enormemente a termos esse papel de interventor. Juntar a CPLP com a comunidade britânica numa altura em que se fala de brexit pode ter um potencial extraordinário de desenvolvimento e nós podemos ser o pivô dessa relação.

Temos de aproveitar essa relação histórica com ambos os lados.

Sim, mas é preciso esta visão, esta vontade, essa coragem e não ter vergonha de dizer que queremos muito mais do que temos. E em Portugal, infelizmente, auto diminuímo-nos. Raramente temos essas ambições, mas quando a temos normalmente ganhamos. Foi assim na Comissão Europeia, nas Nações Unidas... e isso prova que basta querermos e trabalharmos para isso.

Isso implica mudar mentalidades...

Daí o trabalho da CCIP para promover uma sociedade civil mais forte, que se convença da sua competência e capacidade. É por isso que temos de ter uma câmara de comércio forte na opinião pública, para colaborarmos nessa mudança cultural. E a presença de duas pessoas nossas na televisão em espaços semanais de opinião de alguma forma ajudará a isso. Todos nós, ao falarmos e participarmos, estamos a ajudar.

Disse ser importante deixarmos de andar a reboque do Estado. Ainda na semana passada, em entrevista ao Dinheiro Vivo e TSF, o primeiro-ministro dizia que mais importante do que baixar impostos era o Estado concentrar-se no investimento. Concorda? Uma redução nos impostos não teria mais e melhor efeito do que a aposta em investimento público?

É absolutamente fundamental baixar impostos e criar estabilidade na política fiscal para atrair investimento estrangeiro e português – e isso compensa o investimento público, portanto não será um problema. Baixar impostos trará mais riqueza, logo mais receita fiscal mas não por a taxa ser alta, por haver maior riqueza, e isso permitirá ao Estado voltar a fazer os investimentos que devia fazer. Estou em completo desacordo com as políticas do governo. Baixar impostos é a grande aposta no futuro.

Também para as famílias?

Para todos. Porque as pessoas não têm de viver mal, e viver bem significa não pagar ao Estado uma parte tão substancial do que recebem. Há um exagero de carga fiscal face a rendimentos que nem sequer são tão altos quanto isso.

Há penalização da riqueza?

Ser rico é pecado em Portugal. Há 5% dos americanos que são multimilionários; se formos buscar os 5% aqui chegamos a pessoas com 40 mil euros anuais de rendimento. Não tem sentido, é triste, é frustrante perceber que estamos a levar o país não para um caminho de desenvolvimento mas de retorno. Por isso é que a política fiscal deve mudar radicalmente e deve promover-se a participação da atividade privada, do investimento privado na economia portuguesa. O Estado não deve ocupar espaços na economia mas deixá-los aos privados, sendo um regulador sério e correto. Mas não pode ser um regulador que não trabalhava porque tinha medo de agir e agora trabalha demais porque tem medo de não agir. Tem de ser equilibrado e correto.

Que mais era preciso mudar?

Acho que devíamos repor o que se reverteu nas Leis do Trabalho, porque tinha sido uma evolução interessante para a capacidade de desenvolvimento das empresas e a criação de riqueza – voltar agora atrás penaliza e não traz vantagens. E temos de ter algum cuidado com os custos de produção, incluindo os da energia que continuam altíssimos tanto para empresas industriais como para as famílias. As famílias de classe média-baixa não conseguem ter a casa quente no inverno – e isso é inaceitável. Não importa se é a parte da energia ou a dos impostos, são as duas e é preciso descobrir a solução.

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