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"O que construir? Como fazer? O que fazer? Como e onde apostar?" Foram estas as perguntas que serviram de premissa ao desafio lançado por Ana Maria Simões, Rui Vinhas da Silva e José Crespo de Carvalho, que compõem a comissão executiva da ISCTE Executive Education, para convidar um alargado e diversificado leque de portugueses a dar o seu contributo para o que poderá ser a reconstrução de Portugal neste pós-pandemia. "Que não nos doa a voz, os braços, o corpo, a cabeça e tudo o que precisamos para reerguer este país. Mais uma vez", escrevem, no prefácio de 67 Vozes Por Portugal: A Grande Oportunidade.
O resultado deste repto, em que participam vozes tão distintas como o escritor Afonso Reis Cabral e o histórico Adriano Moreira, o empresário industrial Guy Villax e o chef José Avillez, o economista Luís Mira Amaral e o empresário Marco Galinha, o músico Pedro Abrunhosa e o empresário Rui Miguel Nabeiro é hoje lançado na Praça Leya, na Feira do Livro de Lisboa, numa mesa redonda que junta cinco dos nomes que participam na iniciativa.

Da mesma forma que é diversificado o leque de contribuições, também os caminhos apontados são distintos mas complementares, funcionando numa lógica de encontro de vontades e partindo da disposição dos próprios autores para levar a cabo a transformação imensa que o país tem de agarrar para deixar a crise para trás e sair mais sólido e mais preparado desta pandemia."As crises são sempre momentos traumáticos para uma sociedade, pelos efeitos desestruturantes no tecido socioeconómico que provocam ou agudizam", lembra António Amorim, CEO da Corticeira Amorim, que deixa pistas no livro para uma saída mais sustentada. "Entre os setores que podem aportar mais valor e emprego ao país está também a fileira florestal e os seus principais recursos: pasta, papel e cartão, madeira, produtos resinosos e cortiça", aponta, lembrando que a economia portuguesa tem empresas, setores e atividades competitivos e que criam "externalidades positivas na sociedade", mas é "fundamental melhorar o ambiente empresarial (fiscalidade, custos de contexto, burocracia, formação, justiça, etc.) e aplicar com eficiência os novos fundos europeus, de forma a fazer crescer as nossas PME, fortalecer os nossos grupos económicos e capacitar o nosso ecossistema empreendedor".
Fatores que facilitem a iniciativa privada são nomeados por grande número destas 67 vozes, a par de mais ambição para o país. Um deles é Nuno Carvalho, fundador e CEO da Padaria Portuguesa. "A longo prazo, o país vai ser medido pelo valor dos seus recursos humanos, um dos poucos recursos naturais cuja qualidade podemos influenciar", lembra o empresário, expressando a vontade de uma aposta séria na educação, com maior ligação entre empresas e universidades, de forma a responder melhor aos desafios que se nos apresentam. "Um país com uma população mais preparada e competente será seguramente melhor em muitos setores e irá atrair um contínuo interesse estrangeiro", resume.
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A aposta na melhoria da qualificação dos portugueses é também um traço comum à maioria dos testemunhos recolhidos - a começar pelos promotores da iniciativa, que trabalham precisamente essa área da formação também ao longo da vida. E o administrador executivo da José de Mello Capital, Pedro Rocha e Melo, destaca a sua importância como "primeiro desígnio nacional", fundamental para garantir aos portugueses condições de participação na vida económica e social do país. "O segundo desígnio nacional passa pelo aproveitamento da oportunidade para tornar Portugal mais competitivo, para que possamos ter um crescimento económico acima da média da União Europeia", vinca o gestor, que aponta outros caminhos como a necessidade de captar investimento estrangeiro, dada a falta de capital no nosso país, "a simplificação de licenciamentos e decisões administrativas e a capacidade de promover uma justiça mais célere, mais eficaz e mais coerente".
Há um longo caminho a percorrer, que "só será bem sucedido se tiver o referencial da economia verde", lembra Marco Galinha, CEO do GMG (dono do Dinheiro Vivo), que foca ainda a importância de combater as desigualdades e de garantir justiça social para legitimar a democracia. "Menos desigualdade é um grande desafio da sustentabilidade, porque verde não é só verde", vinca, relembrando que o pilar ambiental só funciona em conjunto com os pilares da economia e social.
"Um país sem bloqueios" é a saída apontada por Tiago Mayan Gonçalves, advogado e fundador do Iniciativa Liberal, que se foca ainda na premência de o país apostar no "reforço da capacitação tecnológica, quer em meios técnicos quer humanos". O ex-candidato à Presidência da República fala ainda, entre outros temas, na possibilidade de se criar uma "conta-corrente com o Estado", como forma de simplificar processos e remover barreiras reais e burocráticas que atrasam e dificultam processos.
Em representação da indústria do calçado, Luís Onofre, presidente da APICCAPS, está confiante de que "a indústria procurará, depois da pandemia, conquistar novos patamares de excelência, com espírito renovado e a ambição de sempre". Porém, há que criar condições para "atrair uma nova geração de talento, capaz de projetar o setor para novos patamares de modernidade. De 67 vozes de todos os setores de atividade chegam muito mais propostas que podem ajudar Portugal a sair da pior crise de sempre mais forte e mais capaz de enfrentar o futuro.