Empregos no norte e centro em maior risco com transição para economia verde e digital

São as grandes apostas da Europa, mas também têm custos, sobretudo nas zonas com baixas qualificações e setores de elevada intensidade carbónica.

São os custos de tornar uma economia mais verde e mais digital e que afetam de forma mais marcada as regiões europeias com maior intensidade carbónica ou qualificações mais baixas. E nesse lote está o norte e centro do país, segundo um estudo do Banco Europeu de Investimento (BEI), reconhecendo que "a automação e a transição verde criarão e destruirão empregos".

O emprego nestas regiões está duplamente exposto aos dois tipos de transição preconizados pela União Europeia: a digital e a descarbonização (o Pacto Ecológico Europeu - ou Green Deal - quer a neutralidade carbónica da UE até 2050, por exemplo).

"Algumas regiões que apresentam riscos elevados situam-se na Alemanha, Áustria, Espanha, Portugal e Itália", diz o relatório do BEI sobre a digitalização e a transição climática "Building a Smart and Green Europe in the covid-19 Era", publicado neste ano.

O documento defende que "cerca de 55% das regiões da Europa Central e de Leste estão expostas a elevados riscos da dupla transição, contra 23% no sul da Europa e 15% no norte e na Europa Ocidental".

O mapa do BEI está dividido em três escalas de exposição ao risco: a vermelha (elevada exposição aos dois tipos de transição, relacionada com a automatização e potencial perda de postos de trabalho devido a indústrias mais intensivas em carbono); a azul (exposição a uma das transições); e a laranja (baixa exposição aos riscos de ambos as transições).

A transição digital e a transição verde "podem obrigar a adaptar as qualificações exigidas e provavelmente aumentarão a procura por trabalhadores mais qualificados", acrescentam os autores desta análise, alertando para o "risco de destruição de empregos, mas também para os riscos ligados à inadequação de competências e à segmentação do mercado de trabalho com custos económicos e sociais" que extravasam a dimensão local.

Impacto em Portugal

No caso português, o BEI identifica as regiões norte e centro como as mais expostas (escala vermelha) estando praticamente todo o resto do Continente na escala laranja e apenas as regiões de Lisboa e Vale do Tejo e Setúbal escapam. "A diferença reflete a estrutura industrial das regiões, em que as atividades com maior valor acrescentado, que muitas vezes criam mais postos de trabalho, estão menos suscetíveis à automação", explicam os autores do relatório que identificam alguns padrões na exposição aos riscos. "As regiões com elevada exposição aos dois riscos tendem a ser mais pobres, menos densamente povoadas e muitas vezes com mão-de-obra menos qualificada", lê-se no documento.

Mas estas são zonas que já estão a enfrentar "dificuldades estruturais": "os níveis de rendimento são mais baixos nas regiões de alto risco, onde uma maior percentagem da população está em risco de pobreza, a população é mais velha e há menos pessoas com uma educação superior", resumem os autores.

Mas há outra componente de risco identificada neste estudo: as regiões com maior exposição aos efeitos da dupla transição (digital e verde), são aquelas que também apresentam taxas de investimento em investigação e desenvolvimento (I&D) mais baixas. "Entre estas regiões nenhuma está entre as 30 mais intensivas em I&D da União Europeia", sublinha o Banco Europeu de Investimento.

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