O emprego vai mudar. Esta é a opinião unânime dos empresários e gestores que fizeram parte do painel de debate que se debruçou sobre a oportunidade que a robótica e a inteligência artificial criam às empresas. “A nossa visão é automatizar aquilo onde o humano não acrescenta valor. Mas não vamos acabar com empregos”, assegurou Pedro Torres, da Vision-Box, uma empresa que já está a revolucionar os aeroportos através de sistemas de reconhecimento facial. No dia-a-dia, a Vision-Box automatiza o controlo de fronteiras, permitindo escoar mais passageiros e evitar filas. “O risco é muito menor do que aquele que existe se não tivermos uma máquina. O humano tem uma margem de erro e de falha muito maior”, explicou quando questionado acerca do risco, em termos de segurança, de ter tantos dados pessoais agregados através de inteligência artificial.
Na portuguesa ESI, integradora da KUKA Robotics - o robô líder mundial para a indústria e que já é utilizado em empresas como Boeing, Ikea, Coca-Cola ou Nestlé - as potencialidades das máquinas inteligentes não são questionadas. “Sem dúvida que as encaro como oportunidade. Os exemplos que recebemos dos nossos clientes e parceiros é que não têm diminuído o número de pessoas que trabalham para eles; pelo contrário, têm aumentado”, disse Gil Sousa, cofundador.
A Introsys é um exemplo disso. A empresa portuguesa está a equipar fábricas automóveis pelo mundo inteiro e nem por isso deixa de contratar. “Somos uma empresa que privilegia muito a relação com as universidades. Esta ligação é importante não só pelo recrutamento, mas pela inovação que precisamos de ter nos nossos talentos”. E a engenharia portuguesa é um trunfo lá fora, diz o CEO, Nuno Flores. “Tem um nível de qualidade que nenhum país da Europa consegue igualar”. O resto, acrescenta, “é trabalho, trabalho, trabalho”.
Apesar de também reconhecer o talento dos portugueses, José Rui Felizardo, CEO do CEiiA, não contrata apenas no mercado nacional, mas sim “em várias partes do mundo”. Neste centro de competências e investigação, onde se desenvolvem projetos como um carros voadores ou as scooters elétricas partilhadas da eCooltra, existem “sete nacionalidades”.
E na Feedzai, que atua na proteção do mercado financeiro, a tecnologia tem tanta importância como o capital humano. “Estamos sempre a investir em inovação. Estamos sempre a contratar, 70% a 80% são engenheiros. Contratamos em áreas muito diversas desde engenharia biomédica, aeroespacial, matemática, estatística. E informática até é onde investimos menos”, disse o cofundador da Feedzai, Pedro Bizarro, destacando que o grosso do investimento vai para a inovação e para se protegerem dos contra-ataques dos piratas informáticos. “Temos visto que quando se fecha um buraco de um lado, logo aparece de outro. Os ataques já são muito sofisticados”, alerta.
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No Sensei, o grande esforço faz-se no sentido contrário. Tentar passar para espaços físicos as potencialidades que as empresas que vivem no online já têm. “No e-commerce consigo saber o que o cliente gostou, quanto tempo está, onde voltou atrás, o que pôs no cesto. Em loja não. E é aí que entra o Sensei. Usamos câmaras como sensor para obter dados visuais”. Ou seja, a empresa portuguesa, que nasceu em áreas como a robótica e os carros autónomos, permite agora avaliar padrões de consumo. Desta forma, o espaço em loja é otimizado para dar a conhecer melhor o consumidor ao lojista e criar negócio. Este know-how, reconhece o gestor, exige uma grande análise de informação e um grande detalhe sobre o que é a privacidade.