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Os benefícios de pertencer à União Europeia (UE) não se veem apenas no roaming mais barato, na livre circulação de bens e pessoas ou nos fundos comunitários que chegam a Portugal e aos restantes Estados-membros a cada ciclo no âmbito dos quadros financeiros e de programas extraordinários como o NextGenerationEU, a conhecida bazuca europeia. Há também efeitos menos visíveis, como por exemplo através da criação de emprego pelas exportações dos diferentes países europeus para o resto do mundo.
Uma nova ferramenta estatística desenvolvida pelo Eurostat permite agora saber como é que as vendas de um Estado-membro para fora do espaço comunitário criam postos de trabalho nos restantes países. Portugal é beneficiário, mas também contribui para a criação de empregos noutros locais da UE.
De acordo com os cálculos do Dinheiro Vivo com base nos dados do gabinete europeu de estatística, as exportações nacionais para fora do espaço comunitário asseguraram 44 242 empregos, em 2019, distribuídos por todos os Estados-membros, sem contar com o impacto doméstico.
Espanha é o principal "beneficiário" das vendas portuguesas para fora da UE, tal como o contrário também é verdade, com as exportações espanholas a assegurarem o maior número de postos de trabalho do lado de cá da fronteira entre todos os países do clube de Bruxelas.
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No país vizinho há 20 600 postos de trabalho que dependem das exportações nacionais para fora do espaço comunitário, uma ínfima parte (0,1%) do total do emprego. É um valor ligeiramente abaixo do contributo das vendas a terceiros de Espanha para o emprego em Portugal: 21 510 postos de trabalho.
Por tipo de atividades, é o comércio por grosso e a retalho que mais empregos assegura do lado de lá da fronteira, quase seis mil. Já as exportações da indústria transformadora nacional garantem 3325 trabalhos em Espanha.
Em sentido contrário, a indústria transformadora espanhola foi responsável pelo maior número de empregos criados em Portugal. O cruzamento de dados da matriz indica que quase sete mil postos de trabalho na indústria nacional dependiam desta atividade em Espanha. Já 2274 empregos na agricultura eram assegurados pela indústria transformadora espanhola.
Mas também o setor industrial francês e alemão surge com um importante peso.

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Um em cada oito empregos em Portugal
Portugal é o segundo país europeu cujos empregos menos dependem das exportações extra-UE. A análise aos dados divulgados esta semana pelo Eurostat permite concluir que somente um em cada oito empregos (12,5%) dependiam das vendas para fora do espaço comunitário, correspondendo a cerca de 617 mil postos de trabalho. Apenas a Grécia tinha uma dependência inferior (12,2%).
A proporção de empregos assegurados pelas atividades exportadoras de todos os Estados-membros (incluindo Portugal) tem rondado sempre os 12%, à exceção de 2013, 2015 e 2017 em que se registou um pico superior a 15%. Em todo o caso, a tendência é crescente desde 2012, que coincide com o primeiro ano de excedente externo das últimas décadas.
A proporção de empregos em Portugal suportados pelas exportações europeias, está muito abaixo da média dos 27, que se situa nos 18%.
Claro que as vendas do próprio país para fora do espaço comunitário representam a fatia de leão: em 2019, quase 528 mil empregos foram assegurados pelas exportações nacionais extra-UE. Se descontarmos o efeito doméstico, os restantes países membros garantiram 88 991 postos de trabalho.
"O número de pessoas empregadas na UE que dependem das exportações, inclui não só o emprego em empresas que estão diretamente a exportar, mas também outras empresas que fornecem bens ou serviços que apoiem a produção para exportação", explica o gabinete europeu de estatística na nota que acompanha a divulgação da nova base de dados.
Os efeitos diretos e indiretos dependem muito das relações económicas e históricas entre os países ou da proximidade geográfica.

Fonte dos gráficos: Eurostat
© Ilustração: Vítor Higgs
Uma complexa matriz
FIGARO é o acrónimo para Full International and Global Accounts for Research in Input-Output. A informação compilada nesta complexa matriz de dados compreende o período de uma década, entre 2010 e 2019, e reporta a 64 indústrias, dos 27 Estados-membros da UE, assim como a países do G20, Noruega e Suíça.
De acordo com o gabinete europeu de estatística, trata-se de uma ferramenta para "apoiar a análise das consequências económicas, sociais e ambientais da globalização" e compreender a "relação entre o emprego, os rendimentos e as trocas comerciais." A granularidade da matriz permite ver quanto uma indústria num país assegura empregos nos restantes e vice-versa. A título de exemplo, as exportações da indústria alemã para países fora da UE apoiaram cerca de 24 mil empregos na indústria checa, representando 0,4% do emprego total no país.
Em 2019, nas três grandes economias da UE - Alemanha, França e Itália - estavam concentrados quase metade (48%) de todos os empregos que dependiam das exportações para fora do espaço comunitário, com nove milhões na Alemanha e cerca de 4,5 milhões na França e outros tantos na Itália.</p>
Nos últimos dez anos, o número de postos de trabalho que foram assegurados pelas vendas a países terceiros registaram um aumento de 32%, passando de 28 milhões em 2010, para mais de 37 milhões em 2019, o que dá um crescimento médio anual de 3%. No início da segunda década do século XXI representavam 14,5% de todo o emprego na UE, no final do período a proporção tinha aumentado para quase 18%.