José Sardinha: "EPAL vai construir casas e arrendar para aproveitar os seus ativos"

Presidente da empresa de Águas de Lisboa quer rentabilizar terrenos e edifícios sem uso, enquanto abre apartamentos de renda controlada. A passo rápido no caminho para a autossustentabilidade energética, destaca a veia inovadora que faz da EPAL modelo para outras a nível mundial. E explica porque não vai subir preços na proporção da inflação.

José Sardinha formou-se há 32 anos em Engenharia do Ambiente, no ramo Sanitária. Desde os anos 90, tem atividade profissional em consultoras da área das águas, na Academia e no Grupo Águas de Portugal (AdP). E em 2012 foi nomeado presidente do Conselho de Administração da EPAL Empresa Portuguesa das Águas Livres.

O governo vai exigir que empresas de água, luz e gás comuniquem todos os anos a lista das casas vazias para aplicar o arrendamento forçado de casas devolutas. A EPAL tem condições de fornecer a informação?
Claro. Temos os dados e estamos disponíveis para colaborar.

Mas são dados fáceis de coligir?
Sim, são dados que temos. Temos sistema próprio que desenvolvemos de gestão comercial - o Aquamatrix, que é aliás líder de mercado.

Não levanta problemas de proteção de dados, confidencialidade?
Os dados não têm informação pessoal, essa está protegida. São as moradas que estão sem consumo.

Mas fornecer registo de moradas não é informação pessoal?
Nós fornecemos o que nos é solicitado pelas autoridades. Enquanto empresa pública, é o nosso papel.

A EPAL já fechou as contas do ano 2022? Como foram os resultados?
Sim, a AG está prevista ainda neste mês e estão fechadas. Os resultados são bons. Somos uma empresa pública muito estável, financeiramente saudável, que gera riqueza para o país, paga impostos e é contribuidora nata. Todos os anos temos resultados positivos e neste também - até com recorde histórico.

Por influência da inflação?
Não. Porque as tarifas aplicadas no ano passado não refletem os valores da inflação que entretanto surgiu. Foram ajustadas ao valor do ano anterior, antes da guerra.

Mas as contas refletem certamente subida de custos, sobretudo com energia para a bombagem que deve ser a principal despesa da empresa...
Sim, na estrutura de custos, de facto a energia é muito importante, razão pela qual desenvolvemos um plano pioneiro a nível mundial - que está agora em aplicação também no Grupo AdP, com vista a produzirmos a nossa própria energia, 100% verde. A EPAL vai produzir a sua energia, incluindo a frota. Os investimentos estão em curso, incluindo turbinas colocadas dentro das condutas de água potável, nomeadamente a que traz água para Lisboa e que vai produzir mais energia do que a necessária até para produzir essa mesma água.

E vão injetar na rede?
Não, vamos alargar o autoconsumo a outras instalações da empresa. No final do projeto, que é pioneiro e já tem 55 milhões de investimento na rua - fotovoltaicas a eólicas e turbinas nas condutas -, seremos autossustentáveis em energia. E mais importante: imunes a qualquer perturbação do mercado nacional ou internacional de energia. É uma mais-valia que desenvolvemos e que ampliamos ao grupo.

E qual foi a percentagem de aumento de custos no ano passado?
Curiosamente, a conta de energia até se reduziu em função essencialmente do processo de estabilização do preço energético.

A EPAL consome cerca de 150 GW por ano de eletricidade. A estratégia de autoprodução não deveria já instalada?
Não vamos nada tarde, somos aliás a primeira empresa do mundo a fazê-lo. No setor da água, a nível mundial, este é um projeto pioneiro. Neste momento, também a AdP é o primeiro grupo mundial a ter nas suas operações nacionais e internacionais a autossustentabilidade e produção própria de energia elétrica verde nos seus planos de investimento. Temos até sido seguidos por outros grandes grupos.

Referiu as turbinas na água de Bode...
É nas condutas, não na barragem. É nas que já têm a água potável a caminho de Lisboa que se instala turbinas para produzir a energia, logo não se gasta rigorosamente água nenhuma.

Disse ter 55 milhões na rua. É o investimento total? A que prazo?
São cerca de quatro anos no caso da EPAL, Na AdP até 2030. O investimento previsto são 170 milhões no primeiro caso - compara bem com uma conta de energia antes da crise na ordem dos 12 milhões por ano, é um investimento que se paga a si próprio. E no caso AdP que mimetiza isto acrescentando a componente de biogás e gases renováveis - também com projetos pioneiros - são cerca de 370 milhões para uma conta de energia antes das perturbações na casa dos 75 milhões/ano.

E de onde vem o financiamento?
Meios próprios. Paga-se a si próprio. Estamos a contar connosco mesmos para executar, como fazemos em todos os projetos. Não há sequer comparticipação de fundos comunitários. Se vierem, são bem vindos, mas é um projeto muito meritório porque os recursos que liberta servem para financiar o próprio projeto.

E não equacionam instalar solar flutuante em Castelo do Bode?
Está fora de causa porque conseguimos atingir sem isso e porque isso tem um capex ligeiramente superior ao solar em terra, logo privilegiamos este. Até porque grande parte da nossa produção baseia-se em fotovoltaico mas sobretudo num mix de energias: também hídrica (que produz com capex muito interessante e rentável 24 horas por dia) e eólica (e temos já até uma turbina para 100% autoconsumo que diria que é a única no país). No caso das outras empresas do grupo que têm também saneamento coloca-se então a componente dos gases, que têm outras externalidades, aliás como esse nosso projeto. A primeira tem que ver com produção de reagentes verdes - hoje compramo-los na indústria mas estas perturbações de supply chain levaram a que nas principais cidades (Hong Kong, Tóquio) já se produza nas ETA os próprios reagentes. A ideia é estar imune a perturbações na cadeia. Tem vantagem de controlo do custo, garantia de resiliência face a perturbações de mercado e além disso estes reagentes são feitos com energia 100% verde. Parte disto é aproveitada para cloro para desinfetar a água. E aqui também há um subproduto que hoje já não o é, o hidrogénio verde. No lado dos gases renováveis saliento dois: a produção nas nossas ETAR de biometano - porque o país não tem recursos petrolíferos, mas tem estas estruturas que produzem biogás, a partir do qual se pode fazer biometano e injetar na rede ou até usar na nossa frota. Portanto, as renováveis vieram pôr um país deficitário como Portugal num que consegue ir mais à frente na autossustentabilidade. Finalmente, no biometano também se produz CO2, seguindo o que de melhor se faz no mundo - na Dinamarca, este é usado para as mais variadas coisas, de medicamentos a cosméticos, indústria, etc., é feito em ETAR e aqui também temos. Aliás, serve para fazermos o equilíbrio calcocarbónico (uma das etapas de tratamento da água potável), deixando-nos de novo imunes a agitações. São projetos em curso e que representam sustentabilidade.

Será a EPAL totalmente circular.
Exato, e temos muitos projetos a esse nível. Por exemplo as lamas de ETAR, que eram resíduos, já têm licenciamento para passarem a ser matéria-prima para produzir cerâmicas, tijolos, telhas, mas também material pré-fabricado em betão - bancos de jardim, mesas... E ainda como coadjuvantes agrícolas de correção do Ph dos solos. E finalmente como coagulantes - um reagente que se usa no tratamento de águas residuais e que o país importa. Com investigação própria na empresa e com a Academia, conseguimos transformar essas lamas em reagentes, garantindo mais purificação das águas residuais e redução muito significativa no consumo de energia nesse processo.
São projetos de circularidade que têm muito que ver com o negócio da empresa, com interação com a academia e a sociedade produtiva - fábricas, etc. - e temos muitas parcerias a esse nível. Mas temos também muitos projetos em comum com outras organizações, como ONG de apoio a estruturas como a ACAPO, CERCIS, etc. que desenvolvem com os nossos materiais em fim de vida - folhetos informativos, em vez de irem para o papelão, vão ser produtos de merchandising, resultado de um concurso que lançámos com a ETIC. A empresa posicionou-se nestes anos não só como pioneira, com reconhecimento lá fora, mas também como empresa que não anda sozinha, leva a academia, a indústria, e não esquece um conjunto de outras organizações em Lisboa, onde temos a sede, mas também noutros municípios, do Douro ao Baixo Alentejo. Parcerias produtivas que também têm componente de integração social.

Face à crise inflacionista, subiram as faturas em atraso?
Não, mantêm-se os níveis dentro do padrão da empresa. Notou-se um pouco de aumento na altura da troika, mas desde então está estável.

Então não houve cortes e baixadas ilegais?
Não temos esse registo, não.

O preço da água para o consumidor doméstico residente em Lisboa está neste momento nos 42 cêntimos por m3 no primeiro escalão. Este é um tarifário que vai sofrer alterações neste ano?
Os nossos tarifários são flat, sofrem atualizações de acordo com a inflação.

Então vão subir 7,8%?
Não não. O previsto é um valor mais de 300% abaixo disso.

Mas vão subir?
Vão ser atualizados muito abaixo da inflação. E não apenas na EPAL mas nas demais empresas. Ou seja, temos um desiderato, para além dos desafios em cima da mesa, que é procurar mais eficiência de forma a acomodar nas operações os grandes incrementos de custos. Estamos a falar de FSE (fornecimentos e serviços externos) e mostro o caminho que fizemos: há 11 anos, os FSE eram 39 milhões por ano, no ano passado foram 28 milhões, o que é fantástico porque então fornecíamos 34 municípios mais Lisboa e hoje, com vias de gestão delegadas da Águas de Vale do Tejo, fornecemos a mais de 100, muito mais atividade com custos mais baixos. Estão a pensar, então subiu custos com pessoal... mas não, em 2009 eram 45 milhões e agora são 25 milhões/ano.

Houve muita automatização?
Sim, aliás o nosso quadro de pessoal é bastante inferior ao que tínhamos há 11 anos, menos 126 pessoas na estrutura, num total de 640. Conseguimo-lo com muita mecanização, automatização de tarefas e projetos inovadores. O projeto da energia, por exemplo: estamos a construir um dos poucos centros de gestão de energia e emissões no mundo, primeiro em Portugal. Quem connosco trabalha nisto é a Siemens, uma das maiores empresas do mundo, que tem apresentado isto na Alemanha como um dos projetos mais importantes em Ambiente.

Mas quanto vai afinal aumentar o preço neste ano?
São poucos cêntimos, que corresponde a 2,7%.

Com essa otimização de custos, porque é que o tarifário não deixa de ser flat e é baseado no negócio?
Mas é, só que está projetado ao longo de anos. As empresas deste setor beneficiaram muito de fundos comunitários. A geração presente beneficia toda. Ou seja, se projetamos tarifários flat é porque os fundos do passado e os de que usufruiremos são projetados para a nossa geração, para a dos nossos filhos e netos, porque os business plans são a 30 ou 40 anos. Há uma preocupação acentuada de fazer chegar os benefícios e eficiências que conseguimos à geração atual e à futura.

Ter água mais barata não incentiva mais gastos?
Em situações extremas como a que se viu na Cidade do Cabo, essa foi a solução e teve resultados. Mas não estamos aí. Felizmente não temos um país com problemas desse nível.

Temos desigualdade no território...
E temos desperdício. As perdas de água nas entidades gestoras é de 30% a 40%, com alguns municípios a chegar aos 80%. Não há sustentabilidade ambiental ou económica que aguente. Nisso, a EPAL está no top 10 mundial: desenvolvemos tecnologia 100% portuguesa para isso e que foi comprada já para muitos municípios. Temos o Bill Meter, que está no mercado para perdas aparentes - que são diferentes das reais. Desenvolvemos tecnologia para nos tornarmos mais eficientes e termos menos desperdício. Ao fazê-lo, temos mais dinheiro, a capacidade de investir aumenta, desenvolvemo-nos mais e fica mais água nas barragens. É o nosso contributo.

Além do consumo de água, a fatura apresenta contas e taxas da Câmara Municipal de Lisboa. Isso não devia estar noutra fatura?
Não posso pronunciar-me... na fatura vai a nossa conta e a de terceiros, está definido na lei - são abastecimento, saneamento, resíduos sólidos e taxas e impostos. As diversas autoridades dizem-nos que contas devemos transportar e somos mero veículo.

Mas a indexação dos resíduos sólidos urbanos ao consumo de água não causa alguma distorção?
Depende. Há países que o fazem de forma diferente, usam sistemas de faturação direta em função dos resíduos sólidos. Mas o mundo ocidental desenvolvido associa resíduos e saneamento à conta da água, porque há alguma correlação e é uma forma de garantir receita para as entidades que prestam esse serviço público também essencial.

E os contadores quando passam a ser inteligentes, a terem um comunicação bidirecional?
Há muitos tipos de contadores e já temos alguns bairros em Lisboa com uns desse tipo. Mas há que ter alguma atenção: isso significa investimento significativo em contadores e custos de comunicação. Fica bem dizer que é fantástico, mas do ponto de vista económico não é rentável. O que temos é uma estratégia diferente: desenvolvemos produtos inovadores, como o Water Bip, que já tem largas dezenas de aderentes em Lisboa, e oferecemos serviço associado como um alerta de consumo anormal se deixar a torneira a pingar. Este serviço é business to consumer e o primeiro cliente a aderir, no dia em que lançámos, foi o Ministério das Finanças. Porque promove eficiência. Mas também bancos, os Pingo Doce, universidades, etc. aderiram. A nossa prioridade é levar novos produtos ao mercado em vez de o inundar com despesa, queremos criar valor. Fizemo-lo aí, com o Museu da Água e com uma série de outras iniciativas, muitas focadas em Lisboa.

Tais como?
Como os projetos que temos para construir habitação para pôr no mercado de arrendamento.

A EPAL vai construir casas?
Temos projetos para isso, sim.

Mas qual é a lógica?
É rentabilizar os ativos que temos.

Mas vão construir ou reabilitar?
Ambas. Temos por exemplo projetos para construir uma residência universitária para filhos e netos dos nossos trabalhadores num espaço que temos [na Av. Liberdade]. Há uma dupla componente: aproveitar e garantir que os ativos não perdem valor e se mantêm estáveis - isso é importante para a cidade mas também para o acionista, consequentemente para as contas da empresa. E também com isso procura-se criar valor para a sociedade, para a cidade, para o país e para os trabalhadores da nossa empresa.

E estamos a falar de quantos fogos e em que bairros é que a EPAL vai ser senhorio?
Já somos, porque já temos um património significativo. Estamos a falar de mais de 100 apartamentos, na zona da Baixa e Campo de Ourique.

E vão estar no mercado?
Sim, com rendas controladas, naturalmente.

Voltando à água - ou falta dela. A seca de 2022 moderou os consumos e mudou comportamentos?
O país mudou muito na seca de 2005 - 2004 foi o ano em que distribuímos mais água, 225 milhões de m3 e no ano passado o valor andou pelos 200 milhões de m3. A partir de 2005 foi sempre descendo e agora mantém-se mais ou menos estável. Há grande consciência ambiental, que também promovemos. Somos talvez o único setor que incentiva o consumidor a gastar menos, lançamos campanhas para beber água da torneira - que é de alta qualidade, e beba em todo o lado, em casa, no escritório, etc.. e por isso desenvolvemos garrafas para todo o tipo de público. Uma fill forever que ganhou um concurso mundial entre 5 mil candidatas de 123 países - com várias cores, incluindo as dos partidos da Assembleia para incentivar isso a nível político. É a nossa consciência social. Temos centenas de entidades em Lisboa e pelo país que aderiram ao desiderato de beber águia da torneira nos restaurantes, nos hotéis, nós fizemos parcerias com o setor parta ser mais sustentável e racional. E depois temos parcerias com entidades com mais de 100 anos, o Gota, com a Bordallo Pinheiro é exemplo. E temos uma coleção de garrafas Pritzker, desenhadas por arquitetos que receberam este prémio - privilegiámos os portugueses, Siza Vieira desenhou a Lisbon Soul, este mês vamos lançar a de Souto de Moura, e já convidámos muitos outros pelo mundo, abrangendo todos os continentes para mostrar que a água da torneira é para toda a gente e todos os níveis.

A seca recente viu os níveis de armazenamento da barragem de Castelo do Bode passarem há um ano para 59% da capacidade, agora estão a 90%. Com secas cíclicas e mais frequentes não está na hora de procurar alternativas de abastecimento de água para a Grande Lisboa?
Não há falta de água na Grande Lisboa... a nossa riqueza hídrica é o triplo da espanhola e o dobro da média europeia. Isto diz tudo sobre a disponibilidade hídrica per capita, que no nosso caso é de 7500 m3 por habitante/ano, o valor espanhol são cerca de 2 mil. Seria estranho que o país passasse sede... há é uma matéria de gestão. E sim, Castelo de Bode estava a 59%, mas mais importante do que isso é ter lá a reserva suficiente, estabelecida na lei portuguesa, para garantir consumo contínuo dois anos seguidos, mesmo que não caísse uma pinga. E esses 59% davam e sobravam.

A EPAL já abastece em alta os municípios de Cascais, Constância, Leiria, Loures, Odivelas, Mafra, Oeiras e Amadora, ou seja Lisboa norte. Prevê avançar para outros concelhos?
Abastece esses diretamente - 34 mais Lisboa, onde abastecemos em alta e em baixa -, e também através de gestão delegada mais 70 municípios em abastecimento e 55 em saneamento na ALVT, que vai do distrito da Guarda ao de Évora, toda a zona raiana de grande dispersão (30% do país). E fazemo-lo com enorme equidade: o preço da água na Grande Lisboa e no interior é hoje igual. Desde 2015 que é assim. E isso é muito importante, porque o país é o mesmo e os portugueses têm direito a pagar o mesmo. Mas isto vem só desde 2015, com uma política que arrancou nesse ano e acelerou em 2017. Levar a escala, a eficiência dos grandes centros urbanos ao interior, através deste modelo de gestão, tem consequências ao nível da qualidade do serviço, dos preços e estabilidade dos preços praticados e outros municípios que não pertencem a este conjunto têm-nos vindo a abordar para aderir a este sistema. E estamos dispostos e interessados, porque o que nos move é o serviço público e levar equidade e qualidade a esses territórios. Haverá novidades a esse nível no futuro.

Quantas propostas de adesão ao clube EPAL tem?
Várias em várias geografias. Do norte ao sul do país e do litoral ao interior.

Obedece a candidatura?
Não, são processos transparentes, porque o autarca que o entenda leva isso ao executivo, depois à assembleia municipal e então formaliza através de um pedido, fazemos os estudos, o cálculo do que são os investimentos necessários para atingir o mesmo nível e padrão e articulamos com o governo, nosso concedente e entidade reguladora para formalizar. É um processo administrativo normal.

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