Casamentos. Setor que vale 900 milhões está preso no "talvez"

O setor dos casamentos tem um volume de faturação de 900 milhões de euros. Praticamente paralisado, e com muitos adiamentos, o setor aguarda para perceber quando vão chegar dias melhores.

Muitos eram os que tinham planeado casar e dizer o "sim" em 2020. E, para muitos, dar o nó não é uma coisa simples; envolve grande minúcia, muitos contactos, muitas escolhas, desde o vestido, passando pelas refeições que são servidas e pelas flores. Em Portugal, o setor dos casamentos é composto por mais de 40 subsetores e representou em 2019 um volume de faturação na casa dos 900 milhões de euros.

É menos de um 1% do PIB português, mas representa centenas de postos de trabalho e de empresas que, nesta altura, vêem o futuro com um grande ponto de interrogação. A chamada época alta dos casamentos ainda não começou mas o rasto que a pandemia da covid-19 está a deixar não é animador.

“O número de casamentos que já foram cancelados neste quadrimestre - março, abril, maio e junho - já foram quase nove mil, o que representa quase 30% do volume de faturação do setor. A previsão também não é muito positiva: quem vai casar não sabe se o pode fazer, bem como a festa como tinha previsto. Isso começar a afetar tudo o que são casamentos de julho, agosto e setembro”, disse ao Dinheiro Vivo António Manuel Brito, CEO da Exponoivos.

As regras que vão vigorar para os restaurantes não se aplicam para os casamentos e outros eventos. Atualmente, os ajuntamentos não podem ter mais de dez pessoas. Para já ainda não há indicação clara sobre como é que estes eventos podem acontecer. Com a Igreja Católica a poder retomar cerimónias religiosas a partir do fim de maio, há a esperança de que alguns casamentos se possam realizar, o que dará uma lufada de ar fresco ao setor.

“Há noivos que ainda estão a manter as datas na expectativa de que consigam realizar o casamento este ano. Contudo, a maioria está a adiar - pelo conhecimento que tenho não existem muitos cancelamentos - mas muitas tentativas de adiamento e cerca de 50% desses são para o segundo semestre de 2021”, acrescenta o responsável da Exponoivos.

Por um lado, a segunda metade do próximo ano abre a porta aos dias de sol e calor e traz a esperança de que a pandemia esteja controlada e que a vacina seja uma realidade. Mas a dúvida é se este tecido empresarial aguenta um ano praticamente parado. Ainda que várias das áreas que fornecem casamentos trabalhem com outras atividades, a realidade do mundo dos eventos é comum: está praticamente toda paralisada e com grande parte das equipas em lay-off.

O adiamento dos casamentos coloca também uma outra questão: os que estavam a pensar em dar o nó em 2021 ficam com uma agenda bastante limitada. Para as empresas significa menos receita.

Noivos preocupados

Vanessa e Ivo vivem em Guimarães e especializaram-se em vídeo para casamentos. Filmam e fotografam casamentos sobretudo no norte do País, mas também andam por vezes por Lisboa e pelo estrangeiro. As preocupações dos noivos começaram a chegar em fevereiro, contam, porque “a maior parte dos nossos clientes para 2020 são estrangeiros que vêm casar a Portugal. Em fevereiro, nas últimas duas semanas, começamos a receber contatos de casais que iam casar em março e que estavam a começar a preparar um plano B para o seu dia”.

Não escondem que, em meados de fevereiro, a agenda para este ano “estava a meio gás. Os casais que nos contratam fazem-nos mais perto da data do casamento, a cerca de 3 a 6 meses antes do mesmo”. Alguns dos casamentos que deveriam ter filmado até maio passaram para o segundo semestre, mas os restantes passaram para 2021.

“O impacto financeiro é enorme. O trabalho que fazemos é pago em 3 partes, e até agora só recebemos 1/4 do pagamento para reserva da data. O restante é pago até ao dia do casamento e na entrega do produto. Dado que o evento não acontece em 2020, não vamos receber este ano o valor correspondente”, revelam.

Para tentar mitigar um pouco este impacto estão a negociar com os casais portugueses que adiaram as cerimónias para o próximo ano para pagarem ¼ do valor total ainda em 2020. E decidiram arregaçar ainda mais as mangas: “Estamos também a criar conteúdo online no YouTube para reforçar a nossa posição como educadores com objetivo de no futuro ter conteúdo online pago”. E como a necessidade aguça o engenho, “há umas semanas tivemos uma ideia de criar um projecto na área têxtil, no qual estamos agora a começar a trabalhar, com a esperança de diversificarmos os nossos rendimentos”.

O portal Espaços para Eventos conta com mais de 400 espaços diferentes, sejam eventos sociais ou corporativos. Mário Pinheiro, CEO, conta que os efeitos da pandemia começaram a sentir-se logo em março nas reservas. “Os eventos acabam por ser os primeiros a sofrer, os primeiros a suspender as atividades, e os últimos a voltarem à atividade principalmente pelo medo de aglomeração das pessoas. Em março, quando tivemos o primeiro caso, de imediato começaram os adiamentos dos eventos”, desabafa.

À Casa do Marquês, que tem espaços próprios para eventos, mas opera também no segmento do catering e da decoração dos espaços, os receios dos clientes começaram a chegar logo em fevereiro, com o cancelamento de eventos internacionais. Miguel Seijo explica que "alguns clientes começaram a adiar para o segundo semestre, outros para o próximo ano e outros cancelaram" definitivamente. "O mercado que ainda vai mexendo qualquer coisa é o dos casamentos e por vários motivos. É um mercado que vive essencialmente do mercado nacional e depois porque são escolhas emocionais. São eventos que são planeados com sensivelmente um ano de antecedência. As alterações das datas gera receios. Mas os noivos também estão divididos: há uns que querem adiar, há outros que querem fazer os casamentos na data".

Apesar de terem clientes que anseiam por manter o casamento para as datas previstas, Miguel Seijo não esconde que não sabe se é possível, estando a aguardar pela definição que vai ter de ser dada pelo governo. Ainda assim, e como é dependente do mercado nacional, o responsável acredita que o setor dos casamentos vai ser dos primeiros a dar a volta.

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