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"2023 poderá ser um ano histórico" para a região de turismo do Porto e Norte de Portugal. Esta é a convicção de Luís Pedro Martins, que acaba de iniciar um novo mandato à frente da agência de promoção turística do Porto e Norte, assente na captação de seis novas companhias aéreas que neste verão vão iniciar operação para o aeroporto Francisco Sá Carneiro. A israelita Sun D" Or, a Austrian Airlines, a Air Baltic, a Norwegian, a Scandinavian Airlines e a islandesa Play já agendaram a sua estreia nos próximos meses. A conectividade aérea - fator que considera crítico para o sucesso do território -, será também reforçada no estio com novas rotas por transportadoras com conhecimentos firmados do mercado, como a Ryanair, Easyjet e Eurowings.
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Mas, ainda assim, não chega para responder aos anseios de crescimento da região. Como aponta o também presidente da Entidade Regional Turismo do Porto e Norte de Portugal, "o mercado europeu não nos oferece preocupação, porque estamos bem servidos e registámos que as companhias que voavam para o aeroporto em 2019 não só recuperaram as rotas como em muitos casos reforçaram a oferta". Já o mesmo não se pode dizer dos de longa distância. "Mercados como os EUA, Brasil, Canadá, Ásia e Pacífico são muito importantes, de maior valor, visitam-nos em contraciclo ao que é o verão, dando um forte contributo para combater a sazonalidade e permitindo aumentar a estadia média, mas nestes casos faltam ligações".
Lentidão da TAP
A TAP já anunciou que vai reforçar neste verão os voos intercontinentais a partir do aeroporto do Porto, passando a ter ligações diárias para Nova Iorque, três semanais para São Paulo (Brasil) e abrindo uma rota para Luanda (Angola), além de aumentar as frequências para algumas cidades europeias. No entanto, sublinha Luís Pedro Martins, "estes anúncios, à exceção do voo para Luanda, não são uma novidade, mas apenas uma reposição do que existia em 2019. As ligações para Zurique e Genebra ficam muito longe das frequências que existiam em 2019". O presidente das duas organizações de promoção do turismo regional lembra que, em 2019, "já não estávamos muito satisfeitos" com a operação da TAP e "esta é uma reposição lenta do que tínhamos em 2019, que contrasta com a reposição bastante acelerada por parte de outras companhias, que na maioria dos casos ultrapassaram em 2022 a operação que tinham em 2019".
Nesta matéria, Luís Pedro Martins espera agora que o novo ministro das Infraestruturas, João Galamba, dê continuidade ao trabalho do seu antecessor. Há cerca de três meses, o grupo de trabalho liderado pela Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) e onde marcaram presença várias organizações da região entregou um estudo que identificava as companhias aéreas que poderiam resolver a questão da conectividade com os mercados de elevado potencial para a região, reforçando a necessidade da criação de um fundo no âmbito do Orçamento de Estado para apoiar campanhas de comunicação e de marketing para promover novas rotas intercontinentais. Com a demissão de Pedro Nuno Santos, a expectativa é que dossiês que estavam em cima da mesa "sobrevivam para lá dos ministros", diz.
Palavra à região
Para Luís Pedro Martins, é essencial que seja a região a decidir quais as ligações de longo curso que são mais interessantes para o crescimento do turismo e a aplicar as verbas do Fundo para a Conectividade Aérea nas rotas que considera mais relevantes. "É uma ambição da região e é justo para o Porto e Norte de Portugal, como também para o Algarve ou ilhas", sublinha. O responsável aponta os exemplos de Barcelona e Canárias, que têm verbas para promover voos. E no caso do Porto e Norte é necessário captar transportadoras para aumentar o fluxo de turistas de mercados estratégicos como os EUA, Canadá e Brasil. Na sua opinião, há companhias, como as brasileiras Azul ou a Latam, que poderiam realizar voos para o Porto de cidades do sul do Brasil, que hoje não têm resposta. Também no caso dos EUA deveriam ser promovidas rotas de Boston e São Francisco. "A procura é mais do que a oferta", justifica.
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Com o leque de companhias que operam para a cidade, Luís Pedro Martins quer este ano manter a aposta em Espanha, França, EUA, Alemanha, Reino Unido e Brasil, mercados considerados estratégicos para a região, e apostar fortemente no Canadá e Israel. Deste último país, a cidade irá contar a partir de março com dois voos semanais provenientes de Telavive. Isto sem descurar o crescimento em origens como Itália, Países Baixos, Bélgica, Suíça e Polónia. Há países como a Alemanha e a Polónia onde a guerra na Ucrânia poderá ter um efeito de retração no consumo e por inerência nos gastos em lazer, mas a distância geográfica de Portugal ao conflito pode traduzir-se num benefício. Certo é que no ano passado a região conseguiu ultrapassar todos os indicadores de 2019. Em 2022, o turismo no Porto e Norte de Portugal gerou proveitos da ordem dos 700 milhões de euros, um aumento de 20% face ao exercício pré-pandémico, registou seis milhões de hóspedes e 11 milhões de dormidas.
Apoio às empresas
E agora prepara-se para um novo crescimento. Como frisa Luís Pedro Martins, que é desde 2020 o rosto e voz única da promoção turística da região, "olhamos para 2023 com grande expectativa de igualar e até mesmo ultrapassar os valores de 2022, que já foram históricos". Afinal, justifica, "os mercados recuperaram a confiança, o destino mantém-se com os seus padrões de segurança e notoriedade internacionais bastante elevados, há um reforço muito grande das companhias que vão voar pela primeira vez para a região, há também um aumento significativo da capacidade hoteleira". Claro que "o conflito na Ucrânia, a inflação, a subida das taxas de juro, os preços das matérias-primas podem ter impacto nos mercados mais próximos, mas temos a vantagem competitiva de estarmos afastados do conflito".
Neste contexto, é também necessário olhar para o tecido empresarial do setor, lembra o responsável. "É preciso apoiar as empresas que ficaram descapitalizadas com a pandemia, pois apesar de 2022 ter sido um ano bom ainda não chegou para compensar". Na mesa de trabalho, está também a preocupação com a retenção de talento, a melhoria dos produtos turísticos, o desenvolvimento de novos modelos de comercialização, a criação de um cluster de turismo da eurorregião Norte de Portugal/Galiza e a expectativa de que a ligação ferroviária a Espanha pela linha do Douro seja concretizada.