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Os efeitos do aumento do custo de vida e da subida das taxas de juro já estão a travar a dinâmica do mercado imobiliário português. Com menos rendimentos disponíveis e com os custos do financiamento bancário em escalada, os portugueses começam a adiar a aquisição de nova habitação.
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O retrato estatístico da habitação no quarto trimestre de 2022 é claro. Entre outubro e dezembro, meses em que habitualmente se realizam o maior número de transações no ano, foram vendidas pouco mais de 38 500 residências, menos 16% que no mesmo período de 2021.
E é preciso recuar ao quarto trimestre de 2017 para se observar um menor número de aquisições. Estes indicadores serão as primeiras evidências de uma inversão no mercado, que já se vem a sentir noutros países da Europa.
O valor das transações nos últimos três meses do ano passado atingiu assim os 7,4 mil milhões de euros, volume que traduz uma quebra de 10,5% face ao quarto trimestre de 2021, divulgou ontem o Instituto Nacional de Estatística (INE).

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Esta quebra nos negócios imobiliários foi acompanhada por um abrandamento no crescimento do preço das casas no país. No quarto trimestre do ano passado, o índice de preços da habitação registou uma subida homóloga de 11,3%, a taxa mais baixa registada no ano, e uma quebra de 1,8 pontos percentuais face ao trimestre anterior.
A conjuntura económica começou a fazer-se sentir com mais acutilância e não só junto dos portugueses. A procura internacional também abrandou na reta final do ano passado. De acordo com os dados do INE, nos últimos três meses de 2022, as famílias adquiriram 32 847 casas, uma quebra homóloga de 16,4%, tendo investido menos 12,4%, perfazendo um total de 6,2 mil milhões de euros.
Neste período, foram vendidas 2616 residências a compradores internacionais, das quais 1336 respeitaram a cidadãos da União Europeia e 1280 a investidores de outros países. Estes números representam um decréscimo homólogo de 20,6% no total das aquisições de realizadas por estrangeiros.
Os indicadores referentes ao período do verão apontavam já para uma desaceleração nas operações de compra de habitação. Agora, a publicação das estatísticas do mercado habitacional em 2022 desfizeram as dúvidas.
Como adianta o INE, o exercício de 2022 apresentou duas realidades distintas. Nos primeiros seis meses do ano, o mercado registou um crescimento de 14,1% no número de operações de venda e de 30,7% em valor.
Na segunda metade do ano dá-se uma inversão, que acompanha a decisão do Banco Central Europeu de terminar com os juros negativos e subir as taxas diretoras. No total do segundo semestre de 2022, o número de transações caiu 9,6% e o volume de negócios desceu 1%.
Ano de novos recordes
Apesar do abrandamento do mercado, 2022 foi - sem surpresas -, um ano de recordes no imobiliário português. Venderam-se perto de 168 mil casas, um aumento de 1,3% face ao exercício anterior, e o volume das transações atingiu os 31,8 mil milhões de euros, mais 13,1%, impulsionado por mais uma subida histórica dos preços.
Comprar casa ficou 12,6% mais caro no ano passado, um incremento 3,2 pontos percentuais face a 2021. Segundo o INE, foi a taxa de variação média anual "mais elevada na série disponível".
O instituto faz ainda notar que, entre 2018 e 2022, o valor das casas transacionadas cresceu 50,6%, muito acima do aumento no número de transações, que subiu 11%.
As famílias portuguesas compraram 145 515 casas, o que representa 86,7% do total das vendas, o registo mais elevado desde 2019. O número de transações corresponde a um aumento de 2,7% face a 2021. Os portugueses investiram 27,3 mil milhões, um aumento de 13,2% (85,8% do total do volume transacionado).
Do total das quase 168 mil casas transacionadas no ano passado, 10 722 foram adquiridas por cidadãos estrangeiros, um aumento de 20,2% quando comparado com 2021. Estes compradores investiram 3,6 mil milhões na aquisição dessas casas, mais 25,3%.