Num mundo que está a redefinir equilíbrios, Portugal parece estar na corda bamba, mas dos desafios que se antecipam podem surgir grandes oportunidades. Assim se antecipa o futuro, que começa já.
Sinais de alarme que exigem ação

Lisboa, 20/06/2018 - Bruno Bobone, presidente da CCIP. (Leonardo Negrão / Global Imagens)
Já tem algum tempo a previsão de que a economia e as empresas portuguesas serão chamadas a enfrentar novos e exigentes desafios já em 2019, mas agora o quadro ameaçador está mais definido. O contexto que se desenha para o próximo ano tem tanto de preocupante como de consensual: todas as instituições nacionais e internacionais vaticinam o maior arrefecimento da economia portuguesa.
Não podia ser de outra maneira. Todas as previsões apontam para uma conjuntura internacional mais complexa e volátil pelo mundo fora, mas em particular em muitos dos principais mercados que acolhem produtos e serviços portugueses, o que atingirá diretamente as nossas exportações, um dos motores do crescimento e essencial para manter a balança comercial equilibrada.
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Os sinais mais alarmantes surgem dos EUA. Já em dezembro, Barclays, Deutsche, UBS e Wells Fargo adiaram duas operações de colocação de dívida privada empresarial por falta de procura, ao mesmo tempo que o mercado de ações caminha, dia após dia, para o pior mês de dezembro desde 1931: os índices S&P e Dow Jones Industrial estão a cair 7,8 e 6,8 pontos percentuais, respetivamente, valores que falam por si. Em Portugal, estes sinais encontram paralelo no falhanço e adiamento de operações públicas de venda de ações, apesar da qualidade das empresas.
No Reino Unido, ninguém arrisca um prognóstico sobre o desfecho do Brexit e o impacto económico que terá, embora um estudo recente da CIP tenha concluído que, no cenário mais otimista, terá um efeito negativo de 15% nas exportações portuguesas para o Reino Unido - no mais negativo, as perdas potenciais podem atingir os 26%, um golpe profundo que obrigaria muitas empresas a reorientar a sua estratégia.
Na Alemanha, locomotiva económica da União Europeia, também é esperada uma desaceleração. Incerteza política e tensões comerciais mundiais, em especial a guerra comercial entre os EUA e a China, ameaçam afetar as exportações, já que a queda dos índices de confiança reduzem quase imediatamente consumo e procura.
As convulsões políticas e sociais a que assistimos em Itália e França podem também aprofundar a desaceleração económica nesses países, novamente com impacto nas nossas exportações. Por outro lado, os resultados eleitorais na Andaluzia e o possível impacto político na discussão do orçamento em Espanha aumentam o risco de esta apreensão derramar para este lado da fronteira e provocar uma correção em baixa das vendas portuguesas para o seu principal cliente.
Finalmente, é um dado adquirido que o Oriente e especialmente a China têm hoje um peso nos assuntos do mundo que convertem esta região em protagonista inevitável. A visita oficial do presidente chinês à Europa, e em particular a Portugal, dá conta da procura por parceiros diplomáticos - não só comerciais -, que contribuam para as suas aspirações enquanto ator global. Para o caso português, os investimentos chineses são uma oportunidade para renovar e melhorar infraestruturas. Mas o gigante asiático já reconheceu estar a crescer menos por causa da guerra comercial. Veremos o que acontece nos próximos meses e que impacto terá por cá.
Com esta perspetiva, torna-se fundamental preparar o país e os empresários portugueses para aproveitarem as mudanças para se fortalecer e crescer nas suas organizações. E para isso precisamos de que:
1. O governo assuma uma política de rigor nos gastos públicos, deixando de ceder ao populismo dos seus parceiros.
2. Os empresários se esforcem por diversificar mercados, apostando forte em novos destinos africanos e sul-americanos.
3. Os portugueses em geral assumam as suas grandes qualidades de facilitadores de relações entre povos, seja entre empresas seja entre pessoas, assumindo relevância nas decisões dos que comandam o mundo e influenciando-os com os valores que promovem convivência e a paz.
A viragem para um novo paradigma económico, político, social e geoestratégico

Lisboa, 20/06/2018 - Bruno Bobone, presidente da CCIP. (Leonardo Negrão / Global Imagens)
O ano novo, 2019, marca o início a nível mundial, continental e nacional, de um processo de viragem para um novo paradigma económico, político, social e geoestratégico.
Abordarei, pela sua atual relevância, os Estados Unidos da América, a Europa e a União Europeia (UE) e também, especificamente, o Reino Unido, a China, a Rússia e Portugal. Noutra altura, abordarei ainda outros intervenientes deveras importantes, que contribuirão de forma decisiva para esta viragem, como a Turquia, o Irão, Israel, a Índia, a Nigéria, Angola, Moçambique e o Brasil.
A atual Administração Americana, liderada pelo presidente Donald Trump, não tem uma ideologia e um ideal político; o seu objetivo primordial é adotar um comportamento economicista capaz de atingir a superioridade e o desenvolvimento económico como essência e êxtase final.
A arte e a forma de fazer política serão cada vez mais, para a Administração Trump, um meio e não um fim, i.e., a política será uma subserviente da economia. Assistiremos, por isso, a um reposicionamento geoestratégico diferente daquele a que até agora estávamos habituados: a defesa da ideologia política e a defesa de causas ideológicas - tão vincadamente marcantes no auge da Guerra Fria - desaparecerão, para criar novas oportunidades económicas, gerando concentração de esforços (humanos, de fabricação de infraestruturas e militares) na exploração de novas zonas geográficas fundamentais para a extração, transporte e transação de diferentes produtos e serviços (destacar-se-á, pela sua importância, o mar Ártico).
A Europa, o Velho Continente, apresenta sintomas de doenças crónicas que poderão ser irreversíveis. Aqui, a defesa dos valores ideológicos e políticos continuará a prevalecer. De facto, os esforços para aí se canalizam, descurando, a médio prazo, os investimentos necessários nos setores produtivos e de investimento, ao passo que se intensifica um envelhecimento populacional que só os choques civilizacionais decorrentes da imigração poderão, no imediato, atenuar.
A União Europeia (UE) integra atualmente 28 Estados-membros que, em grande maioria, antes de serem Estados eram (e são) nações, i.e., a nação antecedeu o Estado. O surgimento das atuais correntes de extremismo (de direita e/ou de esquerda, e contributivas para o fenómeno populista) mais não é do que o subconsciente destes Estados-nações. Do ponto de vista político, prevejo que a UE, em 2019, continuará a estar mais preocupada em assegurar a empregabilidade dos seu atuais tecnocratas e em manter o status quo, a preocupar-se com o controlo dos défices orçamentais e com o controlo bancário dos seus membros, não dando sinais evidentes de estar a trilhar um caminho que considero fundamental para se consolidar e reforçar do ponto de vista político, social, militar e económico, podendo os exit tornar-se o único caminho possível para cada um dos países integradores da UE.
Com o brexit, o Reino Unido antecipou-se a um eventual futuro movimento na UE, o que lhe permitirá, futuramente, retomar a total soberania política, económica, social e migratória e estabelecer livremente, e independentemente da sua natureza, acordos bilaterais e/ou multilaterais com outros países. Os efeitos decorrentes do brexit permitirão igualmente que o Reino Unido retome a sua vocação como superpotência de “puro poder”, determinante para intervir de forma autónoma no equilíbrio entre forças europeias e/ou mundiais diversas.
Em 2019, a China continuará, com a sua “paciência e serenidade”, o caminho de progresso e expansão económica, conquistando e influenciando novos territórios e mercados, com a criação de novas rotas comerciais (Nova Cintura da Rota da Seda). No entanto, ao invés da política americana, entendo que Pequim, com o tempo, mudará o seu paradigma de expansão económica; a China utiliza a sua expansão como meio para atingir um fim último, in casu, a sua crescente e marcante influência política mundial e regional (Eurásia). Acredito que a influência política e a crescente “colonização”, em diversos países, será como o fim último do expansionismo económico chinês.
Também a Rússia, embora de forma mais subtil, planeará as suas determinações expansionistas, quer de influência política quer de influência económica, permitindo uma maior aproximação a outros mercados internacionais e regionais a que, no passado, dificilmente acederia, gerando maior investimento e captação de investimento estrangeiro. Contudo, não deixarão de ser preocupantes as suas ambições expansionistas, com vocação militar.
Por último, Portugal poderá, por ora, abstrair-se do xadrez mundial e aproveitar para internamente criar, executar e consolidar as suas políticas de criação e captação de investimento produtivo, de gestão e ordenamento do território (colocando ponto final na dicotomia litoral/interior), de políticas de empregabilidade e fiscais atrativas e justas, a par de outras medidas de, por exemplo, rejuvenescimento populacional, não só por aumento da natalidade, mas, para os que cá estão e para incentivar o repatriamento dos nossos emigrantes, pela criação de melhores condições de vida e de melhores salários.
Se o conseguirmos, seguramente que o Ano de 2019 poderá ser, para Portugal, um ano de futura viragem de paradigma económico, político, social e com uma importância e relevância geoestratégica mundial (nomeadamente face à sua posição geográfica, acesso marítimo e terrestre), sendo bem capaz, se o país for bem-sucedido na execução das suas políticas internas e externas, de autonomizar-se da UE, permitindo - quem sabe, num futuro não muito longínquo - ser totalmente independente e livre e que os nossos políticos, os nossos intelectuais e a generalidade da sociedade empresarial e civil ponderem se faz ou não sentido iniciar um processo de consulta às portuguesas e aos portugueses com vista a um eventual Portexit.