OCDE. BCE vai subir taxas de juro e mantê-las em máximos até ao final de 2024

OCDE projeta que a taxa diretora do BCE suba dos atuais 3,5% para mais de 4% ainda este ano e que fique neste patamar muito elevado até final de 2024. Mas pode ser pior se a inflação se "enraizar".

As taxas de juro de referência da zona euro, do Banco Central Europeu (BCE), devem subir muito mais, ainda este ano, podendo ultrapassar os 4% e depois ficar neste nível de aperto até ao final do próximo ano, estima a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) nas suas novas previsões económicas intercalares (outlook intercalar), ontem divulgadas (sexta-feira, 17).

A OCDE diz que o crescimento económico na área da moeda única parece estar a aguentar e reviu em alta a previsão de expansão da zona euro, este ano.

"O crescimento na zona euro será lento em 2023, mas os benefícios dos preços de energia mais baixos e a queda da inflação devem ajudar o ritmo de crescimento a melhorar gradualmente", refere a organização sediada em Paris no novo outlook.

Há três meses, a OCDE previa que a zona euro avançasse apenas 0,5% este ano, agora aponta para 0,8%. E acrescenta que "o crescimento médio anual em 2024 passa para quase o dobro dos 0,8% projetados em 2023", cerca de 1,4% a 1,5%, segundo o novo estudo.

A recuperação "frágil", como lhe chama a OCDE, assenta na aceleração das maiores economias, mas os ritmos são baixos, na mesma.

A Alemanha cresce 0,8% em 2023 e 1,7% no ao que vem, França passa de 0,7% este ano para 1,3% no próximo e Itália acelera de 0,6% este ano para 1% em 2024.

Espanha, o maior parceiro económico de Portugal, mantém o ritmo em ambos os anos desta nova previsão: cresce 1,7%.

O problema é a inflação, que não dá sinais animadores, sobretudo a inflação subjacente (sem alimentos e energia), que vai "persistir elevada".

Na zona euro, a inflação total deve chegar a uma média de 6,2% este ano (bem mais do que previu o BCE na quinta-feira, 5,3%), caindo para 3% em 2023, valor que, em todo o caso, continua muito acima dos 2% pretendidos pelo BCE.

Mas há uma leitura pior. É que a inflação da zona euro parece estar enraizada.

Segundo a OCDE, sem contar com a evolução dos preços da comida e da energia, a inflação subjacente deve chegar a 5,2% este ano na zona euro (mais meio ponto percentual do que no exercício da organização em novembro). Depois baixa, mas fica colada a 3% no ano que vem.

Lagarde e o grande incómodo com "persistência" da inflação

Na quinta-feira, Christine Lagarde também assinalou grande incómodo com a "persistência" deste ritmo elevado nos preços, descontando os bens essenciais alimentação e energia.

"As pressões subjacentes sobre os preços permanecem fortes. A inflação excluindo preços dos produtos energéticos e dos produtos alimentares subiu para 5,6% em fevereiro e outros indicadores da inflação subjacente também se mantiveram elevados", disse Lagarde, justificando a decisão de subir fortemente as taxas de juro (a taxa diretora central aumentou de 3% para 3,5%).

Muitos economistas apelaram a maior contenção, mas tal não aconteceu.

Segundo Lagarde, os especialistas (economistas) do BCE esperam agora que "a inflação subjacente da zona euro seja, em média, de 4,6% em 2023, valor que é mais elevado do que o avançado nas projeções de dezembro".

O valor avançado ontem pela OCDE (os referidos 5,2%) também parece dar argumentos ao BCE para continuar a apertar juros e a encarecer o custo dos créditos bancários.

OCDE apoia o BCE: quer mais subidas de juros

Assim, a OCDE defende que "a política monetária tem de permanecer restritiva até haver sinais claros de que as pressões inflacionistas subjacentes são reduzidas de forma duradoura".

"São ainda necessários novos aumentos das taxas de juro em muitas economias, incluindo os Estados Unidos e a zona euro. Com a inflação de base a diminuir lentamente, é provável que as taxas de política monetária permaneçam elevadas até 2024", defende a organização liderada por Mathias Cormann e cujo economista-chefe é o antigo ministro do PSD, Álvaro Santos Pereira.

Mas a OCDE diz mais. No novo outlook, avisa que "outro risco central diz respeito à escala incerta e à duração do aperto monetário necessário para baixar a inflação de forma durável".

"Os aumentos contínuos das pressões ou margens de custo, ou os sinais renovados de um desvio ascendente das expectativas de inflação a médio e longo prazo, devem obrigar os bancos centrais a manter as taxas de política monetária mais elevadas durante mais tempo do que o atualmente esperado", defende a organização que congrega as economias mais desenvolvidas do mundo.

No estudo, a OCDE projeta que a taxa de refinanciamento (refi) do BCE continue a sua escalada este ano e que a lata pressão sobre as prestações bancária se mantenha em máximo até finais de 2024.

Como dito, a taxa refi do BCE acaba de subir para 3,5%, o valor mais elevado desde o tempo da falência do banco norte-americano, Lehman Brothers, em 2008, que precipitou a economia global para uma crise financeira e bancária (e depois de dívida pública) sem precedentes.

Segundo a OCDE, este ano, não havendo nenhum evento extremo e problemas graves no setor bancário, não obstante algumas ameaças sérias, como o Credit Suisse, que se despenhou em bolsa esta semana e teve de pedir ajuda ao banco central da Suíça, a taxa da zona euro ainda vai subir mais, podendo ultrapassar os 4%.

Num gráfico publicado no outlook, a taxa definida por Frankfurt pode aumentar até cerca de 4,25% no decurso deste ano. E, na opinião da OCDE, ficará nesse patamar até final de 2024. É preciso recuar a julho de 2008 para encontrar um valor tão elevado, mostra o histórico do BCE.

Peritos da Economist antecipam cenário parecido

Num estudo recente, a Economist Intelligence Unit (EIU) também confirmou este cenário de aperto prolongado sobre o crédito.

A EIU prevê que as taxas de juro continuem a subir até meados de 2024, na Zona Euro e nos EUA.

Na área da moeda única, indica a EIU, a taxa central deve chegar a 4% ainda este ano e ficar neste patamar durante um ano pelo menos, dizem estes analistas.

Portanto, no melhor cenário, as taxas de juro só devem começar a descer (e devagar) na segunda metade de 2024, segundo a unidade do grupo The Economist.

Mas, se houver uma recidiva da inflação muito alta por causa de um agravamento súbito da guerra ou de um estrangulamento inesperado nos fornecimentos de matérias-primas, o cenário de descida projetado para fins de 2024 pode ter de ser adiado.

A presidente do BCE tomou nota das novas "tensões" no setor bancário, que tiveram um primeiro episódio grave há cerca de uma semana com a falência de dois bancos nos Estados Unidos e a seguir os problemas no gigante Credit Suisse, que está literalmente colado às fronteiras da zona.

"Projeta‑se que a inflação permaneça demasiado elevada durante demasiado tempo" e que, portanto, "temos ainda muito caminho para percorrer" em termos de subidas de taxas de juro, alertou Lagarde.

BCE investiga em detalhe como estão os bancos

Ainda assim, a líder do BCE referiu que "estamos a acompanhar de perto as atuais tensões no mercado e prontos a responder conforme necessário, no sentido de preservar a estabilidade de preços e a estabilidade financeira na área do euro", ressalvando em seguida que "o setor bancário da área do euro é resiliente, apresentando posições de capital e liquidez fortes".

Mas como nada é adquirido e a incerteza é máxima, Lagarde acrescentou que "o nosso conjunto de instrumentos de política monetária permite inteiramente proporcionar apoio em termos de liquidez ao sistema financeiro da área do euro, se necessário, e preservar a transmissão regular da política monetária".

Seja como for, o BCE está realmente preocupado com os bancos e anda a inquirir mais sobre o problema, a tentar perceber se há razões para temer contágios ou novas surpresas desagradáveis.

Segundo a Lusa, que citou jornais alemães, o BCE convocou ontem "uma reunião extraordinária do conselho de supervisão" para "trocar pontos de vista e informar os membros sobre os recentes desenvolvimentos no setor bancário", afirmou um porta-voz citado pela imprensa alemã, segundo reportou a agência portuguesa.

"Já no início da semana tinha havido uma reunião extraordinária devido à turbulência no setor bancário que agita as memórias de 2008 quando os problemas nos EUA levaram a uma crise financeira global."

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