"Armadilha de baixo crescimento". É assim que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) caracteriza a economia global, presa num ciclo vicioso onde não são claros os benefícios da globalização e num contexto de esgotamento da atual política monetária.
A economia mundial este ano vai crescer apenas 2,9%, uma décima abaixo da estimativa de junho e o valor mais baixo desde 2010, segundo as previsões dos economistas da OCDE. E é o segundo aviso de contração: o Banco Central Europeu também reviu ligeiramente em baixa as suas previsões de crescimento face a junho, embora tenha mantido praticamente inalteradas as metas de inflação. Para 2017, a previsão é de um crescimento de 3,2% mas alguns países preocupam.
"A economia mundial mantém-se numa armadilha de fraco crescimento com constantes dados desapontantes a pesar sobre as expectativas mundiais de crescimento e fracos dados de transações comerciais, de produtividade e baixos salários", diz o relatório. "As políticas orçamentais devem aproveitar o contexto de baixas taxas de juro para promover um consumo que alavanque o crescimento".
A revisão em baixa das previsões está relacionada com o abrandamento das trocas comerciais globais, sobretudo por causa da contração económica na China e também à queda do preço do petróleo, que desde o início do ano tem castigado os mercados.
A previsão para os mercados emergentes melhorou mas as perspetivas de crescimento nas economias mais desenvolvidas deteriorou-se, o gorou as expectativas para um crescimento global em torno dos 3% para este ano e para o próximo. Desde o início da crise financeira que o crescimento está estagnado nos 3%, muito abaixo dos 4% registados na década anterior.
Zona euro cresce menos, 2017 preocupa
A zona euro, segundo a OCDE, vai crescer menos uma décima do que a previsão de junho, fixando-se em 1,5%. Os Estados Unidos deverão crescer 1,4% em vez dos 1,8% de junho. Só a Alemanha, o Reino Unido e o Brasil vão registar uma melhoria na economia.
A Alemanha deverá crescer 1,8%, duas décimas acima das previsões de junho mas em 2017 crescerá apenas 1,5%. O Reino Unido (mesmo em contexto de Brexit) vai avançar 1,8%, mais uma décima do que a previsão anterior. O impacto chega em 2017, com a OCDE a cortar a previsão de crescimento do Reino Unido para 1% e a reduzir a da zona euro para 1,4% (e abaixo da meta revista pelo BCE, de 1,6%).
No Brasil, a braços com uma recessão profunda, a economia vai recuar 3,3% em 2016 - um sinal positivo face à previsão de abrandamento de 4,3% em junho. França e Itália também tiveram revisões em baixa do crescimento para 2017.
Angel Gurria, secretário-geral da OCDE. Fotografia: EPA/FILIP SINGER
O valor avançado pela OCDE preocupa: a previsão fica abaixo dos 3% considerados o valor mínimo antes de uma recessão global, numa altura em que a zona euro continua a lutar contra um crescimento anémico e grandes economias mundiais como a China estão a crescer abaixo do esperado. Enquanto o Japão também está em crise há décadas e tem apostado em estímulos à economia. Nos Estados Unidos, os dados de crescimento são mais animadores mas ainda não foram suficientes para a Reserva Federal Norte-Americana avançar com uma subida das taxas de juro, embora hoje se esperem novidades sobre o tema.
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Qual é o caminho?
O foco, diz a OCDE, é apostar na saúde e na educação. A nova análise da OCDE avisa ainda que a política monetária está esgotada e em risco de criar distorções financeiras.
O fraco crescimento tem provocado a estagnação de muitos países o que provocou um choque com a globalização - a prova é o Brexit, a aprovação da saída do Reino Unido da União Europeia, que mostra o descrédito na globalização, além do crescimento de movimentos nacionalistas em vários países europeus, gerando também protecionismo à economia.
Para manter a legitimidade do projeto global, a política económica tem de procurar promover os interesses do coletivo e não apenas de alguns, diz Catherine Man, economista-chefe da OCDE. Os governos devem focar-se "em despesa que tenha benefícios para o crescimento no curto e no longo prazo e que promova a igualdade".
Assim, os investimentos em saúde, educação, e subsídios para crianças vão fazer crescer a economia e assegurar que os benefícios da globalização são distribuídos pela sociedade.
As políticas tradicionais que se focam no investimento e na infraestrutura podem promover o crescimento mas apostar na saúde e na educação vai trazer mais benefícios na redistribuição das receitas com as trocas comerciais e o crescimento económico pelas populações, o que ajudará todos os sectores da sociedade e vai trazer mais apoio para o apoio num comércio liberalizado.
Política monetária esgotada