Fuga para os carros
A partir de segunda, além do bilhete ou do passe validado, só com a máscara de proteção posta é que poderemos apanhar o autocarro, o comboio, o metro e o barco. Com lotação limitada a dois terços e veículos limpos mais vezes, várias empresas já estão prontas para retomar a oferta. Só que estas garantias deverão ser insuficientes para evitar uma fuga para os carros dos portugueses que tiverem de se deslocar para trabalhar nas próximas semanas.
“As únicas pessoas que vão voltar ao transporte público são aquelas que não têm opção pelo transporte individual. Quem puder, escolhe o carro porque o receio de contágio é maior do que o esforço pelo ambiente”, antecipa Pedro Barradas. “Isto pode prejudicar o sistema de financiamento dos transportes públicos, com a duplicação de custos operacionais. Se isto for assim, teremos de ter o Estado a compensar as empresas de transportes”, completa o responsável de estratégia da consultora Armis ITS.
A especialista Rosário Macário, do Instituto Superior Técnico, corrobora e acrescenta: “É natural que as pessoas se organizem para usar o transporte individual. Haverá maior densidade de pessoas e propensão para partilhar carros, com menores riscos.” Outro fator a convidar para o regresso dos carros está relacionado com a descida dos combustíveis “e que até poderá levar os portugueses a comprarem automóveis em segunda mão”, no entender de Pedro Barradas.
Para travar a fuga dos utentes, a CP e a Fertagus vão repor a totalidade dos comboios, exceto no Intercidades e no Alfa Pendular da empresa pública; o Metro do Porto garante que vai ter oferta próxima do normal para cumprir todas as regras; nos autocarros, na STCP, a oferta estará nos 95%, enquanto na TST a haverá ficará nos 60%. Na Rede Expressos, haverá pelo menos 15% dos horários, podendo chegar aos 25% nas próximas semanas. A nível nacional, a oferta de autocarros não deverá ultrapassar os 25%, segundo a associação ANTROP.
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Convencer os passageiros a voltar a usar os transportes públicos também vai depender do jogo da perceção. “Só quando se comprovar que o transporte coletivo tem a densidade necessária é que as pessoas deverão regressar a estes serviços”, acrescenta a especialista do IST.
Conter as novas enchentes nos transportes também depende das empresas. “Vamos começar a retomar a normalidade mas de forma muito progressiva. As empresas e organizações têm de pensar muito bem no reatamento de atividade. Devem estabelecer escalas de uma ou duas semanas e desfasar horários entre os trabalhadores”, recomenda a psicóloga Dalila Antunes, especialista em mobilidade.