Joseph Francois, diretor do World Trade Institute da Universidade de Berna diz que o peso da manufatura nas exportações deixa Portugal mais exposto do que outros parceiros europeus a aumentos de tarifas nos Estados Unidos. Mas o impacto imediato será limitado.
Que impacto se pode esperar que as subidas de tarifas nos EUA tenham nas exportações portuguesas?
O perfil de comércio de Portugal com os EUA não é igual ao dos restantes países. Está sobretudo focado na manufatura e menos nos serviços. Isso significa que Portugal está mais exposto do que Reino Unido e Alemanha porque há pouco enfoque nos serviços. Por outro lado, o tipo de produtos que Portugal exporta não é aquele que está a ser visado do lado dos EUA: aço, alumínio, veículos automóveis. Pelo menos nesta primeira ronda não é claro que vá ter grande impacto em Portugal. Além disso, os EUA representam apenas 7% das exportações.
Mas é o mercado mais importante fora da União Europeia.
É importante enquanto mercado externo. Mas não preocupa tanto a ameaça de uma única linha de tarifas dos EUA como o facto de a Administração Trump ameaçar globalmente o sistema de comércio, as garantias de acesso ao mercado. Está a tentar criar tensões entre membros da UE e a pôr em causa a estabilidade da OMC. Estas são questões de um nível mais sistémico que para Portugal serão também mais preocupantes.
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Haverá efeitos de propagação dentro da UE? Por exemplo, se a Alemanha for atingida com tarifas automóveis.
Sim, mas, para colocar as coisas em perspetiva, na Europa haverá muito mais danos com o brexit, seja em termos de acesso ao mercado, seja na disrupção das cadeias de valor. De todo o modo, há risco. Aquilo que os europeus têm - pelo menos, por definição - é uma resposta coletiva. Trump não consegue isolar cada um dos países. Isto é importante. Para Portugal, e para a preocupação imediata com quais serão os produtos afetados, nesta primeira fase, o mais importante são os efeitos indiretos, aquilo que acontece ao resto da Europa. Estranhamente, a retaliação que a UE possa vir a adotar poderá na verdade ajudar Portugal, no sentido em que limita as exportações dos EUA para a Europa. Mas este não será um efeito de grande dimensão.