Todos os anos há milhões de euros que ficam por reclamar em contas bancárias, seguros de vida e cofres um pouco por todo o mundo, por desconhecimento dos seus legítimos herdeiros. Pedro Martins percebeu-o quando, após um voo muito atribulado em que deu consigo a pensar ‘e se este avião caísse agora...’, foi pesquisar que soluções seguras havia no mercado e descobriu que não havia nada. Assim nasceu a 3NCRYPT3D, a startup portuguesa que assegura a solução tecnológica para o envio de “informação essencial”, de forma automática, a familiares ou parceiros de negócio em caso de morte ou noutras circunstâncias definidas pelo utilizador.
A ideia nasceu em 2011, mas só em 2015, quando Pedro Martins se cruzou com Magne Olsen, marido de uma amiga de infância e “com muitos anos de experiência em programação, designadamente na criação de software para aeroportos”, é que começou a tomar forma. Mas só este ano o serviço foi comercialmente lançado, estando a aplicação disponível na Apple Store, no Google Play e na Microsoft Store. “Tivemos uma fase muito longa de desenvolvimento porque éramos dois a pensar a solução, mas só um a implementá-la. E a questão da salvaguarda dos dados era fulcral. Ninguém pode ter acesso à informação”, diz Pedro Martins, CEO da 3NCRYPT3D, com sede em Vila Nova de Gaia e apoiada pelo programa Bizspark da Microsoft.
A solução foi implementar um sistema de dupla encriptação, também designado por zero knowledge encryptation, que garante que as mensagens e anexos são encriptados na própria aplicação, com uma chave única, que só o utilizador possui no seu dispositivo, antes de serem guardadas nos servidores da empresa. “Garantimos, assim, que a informação fica protegida de hackers, de governos ou de agências de espionagem. Nem mesmo o staff do 3NCRYPT3D pode aceder-lhe”, garante o empresário nortenho.
Uma pesquisa rápida na internet permite perceber que, só nos EUA, se estima que haja mais de 40 mil milhões de dólares por reclamar, seja em contas bancárias, em seguradoras ou junto de outras entidades. E, claro, há sempre que ter em conta as novas realidades, como os investidores em criptomoedas. “Se negociar em criptomoedas ainda é algo complexo, como é que alguém que tem milhares ou milhões de euros no blockchain vai indicar à família os pormenores da sua carteira digital e os respetivos códigos de acesso? A probabilidade daquele dinheiro ficar ali perdido é enorme”, frisa Pedro Martins.
O serviço está disponível mediante subscrição anual, por 69,90 e 99,90 euros, sendo que a primeira modalidade tem uma limitação no número de mensagens a enviar. Que não se restringem, apenas, a situações de morte, aquilo que a aplicação classifica de 'o pior cenário possível'. Não, o cliente da 3NCRYPT3D pode, também, programar o envio de mensagens temporizados, para um determinado dia e hora, ou de mensagens imediatas, estas só disponíveis no plano premium. O que torna o serviço interessante até para jornalistas de investigação em cenários de risco, destaca a empresa.
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E como sabe a 3NCRYPT3D que algo aconteceu ao utilizador e que deve enviar a informação que tem guardada? O cliente deverá fazer login na sua conta pelo menos uma vez a cada 30 dias, período que a empresa designa de Heartbeat. Se não reagir a nenhum dos quatro emails de alerta que a empresa lhe envia ao longo desses 30 dias, passado que esteja 50%, 75%, 95% e 100% do prazo, e se mantiver inativo, serão contactados os seus agentes de ativação de entrega – pessoas de confiança que o próprio cliente terá definido quando criou a conta – para confirmar se alguma coisa lhe aconteceu. A duração do período de heartbeat pode ser alterada por iniciativa do utilizador. "E mesmo que lhe roubem o telemóvel poderá sempre ir a um webcafé ou a um computador no hotel e fazer um login muito simples para indicar ao sistema que está tudo bem e desautorizar aquele telemóvel para acesso à conta", explica, ainda, Pedro Martins.
E apesar de nascer em Portugal, a ambição é global. “Nos próximos cinco anos queremos controlar o mundo ! Bem, queremos que o mundo saiba que a 3NCRYPT3D existe e sempre que alguém se interrogue sobre o que fazer para salvaguardar algum tipo de informação sensível que pense de imediato na nossa oferta”, diz. "Os resultados financeiros serão uma consequência disso e surgirão naturalmente", acrescenta. Brasil e América Central, onde o risco “está muito presente no dia-a-dia das pessoas”, são os alvos, mas, primeiro, o foco será a África do Sul, logo que terminada a tradução da documentação para inglês. Depois virá o espanhol.
Nascida de um investimento de de 50 mil euros em capitais próprios e empréstimos de familiares e amigos, a 3NCRYPT3D conta hoje com cinco pessoas, todas com competências em áreas específicas: Pedro Martins é o CEO e Magne Olsen o Chief Technology Officer. Nuno Pinto da Silva assegura a área estratégica e de parcerias e Beatriz Costa o marketing. Rita Brandão é a Chief Operating Officer.
Em Portugal, a empresa procura estabelecer “parcerias estratégicas” com bancos e companhias de seguros, como a que firmou já com a fintech nBanks. E em novembro estará na Web Summit para se dar a conhecer e contactar potenciais investidores. Pedro Martins admite que, mais tarde ou mais cedo, o acesso a venture capital será “essencial”. Mas a ideia é conseguir a entrada de smart money, ou seja, de alguém que contribua com know how e não apenas dinheiro.