ALEP: Verão pode ser pior do que o de 2020. "Nas últimas semanas, 50 mil reservas canceladas"

A Associação que representa o Alojamento Local pede ao governo "um novo balão de oxigénio de imediato" e a fundo perdido ou "o setor não vai resistir". AHRESP em entrevista ao DV já clamava por injeção de apoios a fundo perdido.

Apesar da chegada do verão, para o setor do turismo os dias continuam cinzentos. No início deste mês, Londres retirou Portugal da lista verde de destinos para os quais os ingleses podem viajar sem terem de cumprir quarentena no regresso a casa, o que levou a centenas de cancelamentos. E, no final da semana passada, a Alemanha, colocou Portugal na lista vermelha, o que obrigará todos os viajantes provenientes do território português a uma quarentena de 14 dias. O setor do alojamento local (AL) fala em milhares de cancelamentos nas últimas semanas e teme não aguentar o verão, se o governo não apoiar o setor com uma injeção de apoios a fundo perdido.

"As restrições colocadas a Portugal pelo aumento de casos, agravadas pela associação à nova variante Delta, gerou uma nova vaga de cancelamentos nunca antes vista. Os níveis de cancelamentos de reservas no alojamento local atingiram em junho de 2021 os valores mais altos dos últimos 12 meses. Nas últimas semanas, 50.000 reservas foram canceladas", diz a Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), em comunicado.

A associação frisa ainda que o dia 4 de junho e 27 de junho (quando Portugal saiu da lista verde e neste domingo devido à decisão da Alemanha, respectivamente) "foram os dois piores dias de sempre em termos de cancelamentos. Só no domingo foram canceladas 3.000 reservas, muitas da Alemanha".

Por isso, a associação liderada por Eduardo Miranda diz que o alojamento local tem vivido uma "montanha russa" no espaço de poucas semanas. "Em maio, com a entrada na lista verde do Reino Unido sentimos de imediato uma esperança de um verão aceitável com um ressurgimento das reservas. Agora, cerca de um mês depois, o cenário inverte-se e temos verão praticamente comprometido que arrisca ser pior ainda que o do ano passado", diz Eduardo Miranda, em comunicado.

"O problema não é apenas os cancelamentos que colocam a perder o que se conseguiu em maio, mas acima de tudo a quebra de reservas que caiu para menos da metade" à medida que Portugal é visto lá fora como um destino de risco da nova variante, nota

"A combinação destes dois fatores é bombástica. Junho acabou por se mostrar um fracasso, julho está perdido com os cancelamentos e agosto pode estar comprometido, pois estas vagas levam semanas a serem controladas. Sinceramente, as perspetivas não são nada boas. Tememos pelo futuro não só do alojamento local, mas do Turismo como um todo", remata o responsável.

Para se ter uma ideia, as dormidas em alojamento local vinham a crescer até 2019. Nesse ano, foram 10,2 milhões, de acordo com os dados do INE, que contabiliza apenas os alojamentos locais com 10 camas ou mais. No ano passado, este tipo de alojamento para viajantes, devido aos efeitos da pandemia, contou com 4,1 milhões de dormidas. E em 2021, até abril (últimos dados disponibilizados pelo gabinete de estatística), as dormidas em AL ascenderam a pouco mais de 592 mil.

Neste sentido, o setor pede ao governo medidas de apoio a fundo perdido e alerta que, sem estas, o "setor não vai resistir".

"É urgente reativar para estes grupos mais fragilizados, programas com fundo perdido do género do Apoiar ou algo similar para ajudar a suportar esta nova quebra. Mesmo o apoio a Tesouraria das Micro e Pequenas do Turismo de Portugal, que teve o fundo perdido cortado em maio, precisa ser retomado com efeitos retroativos, pois apesar de os empresários estarem já muito endividados, ainda há quem precise de apoio a Tesouraria e a banca fechou a porta ao turismo", diz a ALEP.

Neste sábado, em entrevista ao Dinheiro Vivo e TSF, Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP, pedia também apoios a fundo perdido, alertando que a restauração e alojamento não iriam conseguir sobreviver o inverno sem estes.

"É fundamental injetar dinheiro na tesouraria das empresas a fundo perdido. Não temos outra alternativa. Não podemos criar mais endividamento nestas empresas e precisamos também de resolver a questão das moratórias, porque não estão resolvidas. Há a prorrogação até ao final do ano, se a entidade reguladora europeia aprovar, porque ainda falta essa aprovação, só foi aprovada ao nível da Assembleia da República, e precisamos de planos de renegociação da dívida também", dizia Ana Jacinto.

A responsável dizia ainda que "precisamos que esse plano [de reativação do turismo] se traduza na prática e que possa injetar dinheiro nas empresas. Mas tem que ser já! Porque não estamos na tal retoma que toda a gente pensava que íamos estar à data que nos encontramos. E quando acabar o verão, as empresas vão entrar na época mais difícil".

"A época baixa e que habitualmente vamos tendo uma almofada e algum reforço de tesouraria adveniente da época alta. Já o ano passado isso não aconteceu. E este ano, se não acontecer é desastroso porque não vamos ter capacidade de suportar mais um inverno. Os apoios têm de entrar é agora", acrescentava.

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