Alojamento local afunda em ano de pandemia

Hóspedes e dormidas caíram 60% até novembro de 2020, mas associação do setor diz que são poucos os encerramentos. Estadias de média duração têm sido alternativa.

Menos hóspedes e menos dormidas em alojamento local (AL) é igual a queda forte nas receitas do turismo. A conta é fácil de fazer: dos pouco mais de dez milhões de hóspedes que as unidades de alojamento turístico, em Portugal, acolheram entre janeiro e novembro do ano passado, 1,8 milhões ficaram em AL e foram responsáveis por 3,9 milhões de dormidas. Trata-se de uma quebra de 60%, em ambos os indicadores, face aos 11 meses de 2019, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística ( INE). Ou seja, o setor recuou para níveis de 2013-2014, anos em que os proveitos foram de 3,5 milhões e 4,3 milhões respetivamente, segundo o INE.

Mas estes números não ilustram o cenário completo da realidade do alojamento local: as estatísticas do INE - e do Eurostat - referem-se apenas a unidades com dez camas ou mais e, de acordo com a Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), deixam de fora a fatia de leão do setor em Portugal. "Dez camas ou mais apanha só cerca de 20%" das camas totais que existem em Portugal em AL, diz ao Dinheiro Vivo Eduardo Miranda, presidente da ALEP. O Registo Nacional de Alojamento Local indica que, em 2020, existiam 95 182 AL em Portugal, responsáveis por 220,2 mil quartos e mais de 371 mil camas.

Eduardo Miranda defende, por isso, que "os números do INE, no geral, apontam apenas para um pouco do que se passou: uma quebra gigantesca de todos os indicadores. No caso do AL, aquela quebra ainda é subestimada porque só apanha um segmento, o que tem mais de dez camas. Os números que temos tido são de quebras de dormidas que, em média, ultrapassam os 70%. Se formos analisar o impacto desde o início da pandemia - março a dezembro - estamos a falar de quebras, em média, que andam em torno dos 75% a 80%".

O retrato não é, contudo, linear no país. Os grandes centros urbanos, como Lisboa e Porto, e que representam em conjunto cerca de 30% do global do AL, contam com descidas acentuadas devido à escassez de turistas estrangeiros - foram 3,8 milhões de hóspedes de janeiro a novembro, o que compara com os mais de 15,6 milhões registado no mesmo período de 2019.

"Temos situações bastante mais graves, como nos centros urbanos, onde a quebra nas reservas anda entre os 85% e os 90% desde março. Já nas zonas do litoral do Algarve, que tiveram alguma bolsa de oxigénio no verão, as quedas andam mais perto das médias gerais dos 65%. No Interior são menos acentuadas, mas é um mercado que representa 3 a 4% do total" do alojamento local, sublinha Eduardo Miranda.

Perante estes números, o que é que está a acontecer ao AL? O responsável assume que há espaços fechados, mas garante que não são muitos. "Grande parte está com pouca atividade e alguns - não muitos - optaram por encerrar. Mas a maior parte está com uma ocupação marginal", sendo que as "situações mais dramáticas são nos centros urbanos, onde estão a tentar outras alternativas". As alternativas passam pelo chamado mercado das estadias de média duração.

Os clientes são sobretudo pessoas, nacionais e estrangeiros que, por motivos vários - profissionais e pessoais - precisam de um local para viver por um período de três ou quatro meses, como é o caso dos "nómadas digitais", estudantes e professores. "Esse é o mercado que de alguma forma despertou. Era um mercado que tinha poucas soluções antes e que, por um lado, pode vir a ficar como um dos mercados de interesse do AL no futuro. Mas no todo ainda é um mercado reduzido", acrescenta.

Parte do AL sem apoios
Com mais de 90 mil registos de AL em Portugal, Eduardo Miranda defende que é preciso desmistificar a ideia de que o alojamento local é alguém que tem uma casa e está a rentabilizá-la. "Não é isso, o AL é um pilar do turismo. As pessoas desenvolvem isso enquanto atividade profissional e têm de contratar pessoas para limpeza, para os check-in e os check-out, para manutenção. São os salários dessas pessoas. Portanto, essa queda tem um impacto gigantesco, no AL e em todo o ecossistema", nota.

As ajudas do governo também abrangem os operadores de AL, mas a ALEP alerta que "para o setor não cair de vez" é necessário que cheguem e alguns sejam calibrados. "Houve alguns apoios. Em especial a linha do microcrédito [do Turismo de Portugal], que foi a mais adaptada à realidade. Estes apoios, que estão a sair agora, são esperados com muita expectativa. São necessários e positivos", adianta.

Depois de dez meses de atividade muito reduzida, a situação financeira das empresas e proprietários de AL é "muito mais dramática" do que no início da pandemia, segundo a ALEP. A implementação dos apoios é fundamental, defende Eduardo Miranda, que considera que é "preciso fazer alguns ajustes porque alguns segmentos do AL ficam de fora desses apoios pelas suas características".

Segundo o presidente da associação representa este setor, "a maior parte do AL são empresários em nome individual, têm características próprias de contratos de rendas. Estamos a tentar conversar com o governo, porque uma parte do AL ficou de fora desses apoios, como é o caso do Apoiar, que incluiu os empresários em nome individual mesmo sem contabilidade organizada, mas tinham de ter empregados a seu cargo. Quem tem um apartamento, não tem funcionários".

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