Os primeiros leilões de espetro para uma rede comercial de 5G em Portugal são esperados dentro de dois anos. Altice e Huawei estão a posicionar-se para liderarem na quinta geração de comunicações no país, com um acordo assinado ontem que reforça a cooperação que tem por base os equipamentos da fabricante chinesa. A consolidação da parceria, depois de a Huawei ter já trabalhado com a NOS, acontece porém num momento de reação contra a empresa chinesa.
A operadora britânica British Telecom (BT) revelou ontem que vai descartar todo o equipamento já adquirido à Huawei para o desenvolvimento da rede 5G, bem como os já em uso nas redes 3G e 4G. A decisão acontece depois de, na segunda-feira, o chefe dos serviços de informações britânicos, o MI6, ter alertado contra a utilização de infraestruturas do fabricantes chinês.
Alex Younger, cujos serviços no MI6 analisam os equipamentos, afirmou que o Reino Unido deve tomar uma decisão sobre a participação da Huawei no 5G. Estados Unidos, Austrália, e Nova Zelândia também já barraram este segmento do mercado de comunicações à multinacional chinesa citando preocupações com a segurança nacional.
“Estamos tranquilos e confiantes. Certamente que esta parceria vai superar todas e quaisquer preocupações que possam surgir a este nível”, diz Alexandre Fonseca, CEO da Altice Portugal.
A Altice, porém, quer manter a aposta na colaboração com a Huawei em Portugal, e entende que o país deverá ter um entendimento diferente das preocupações já manifestadas noutras geografias.
“Mais do que qualquer outra preocupação, preocupa-nos, sim, o know-how, a competência, o talento, e a capacidade de desenvolver tecnologia e de investir no nosso país. Isso, a Huawei tem trazido a esta parceria com a Altice – como outros, aliás, têm tido neste âmbito. Estamos tranquilos e confiantes. Certamente que esta parceria vai superar todas e quaisquer preocupações que possam surgir a este nível”, diz Alexandre Fonseca, CEO da Altice Portugal.
O responsável pela operadora MEO defende também que “Portugal, ao longo da sua história, já mostrou por diversas vezes, e durante séculos, que tem uma capacidade quase ímpar do ponto de vista social e relacional em estabelecer relações bilaterais sólidas, de confiança, com os mais diversos povos”. E que “o investimento chinês, do ponto de vista tecnológico, é também importante para o desenvolvimento das nossas redes e da inovação tecnológica de Portugal”.
“Queremos que Portugal seja um dos primeiros países europeus a ter tecnologia 5G disponível. É importante para o crescimento da indústria”, diz Chris Lu, da Huawei Portugal.
Chris Lu, presidente da Huawei Portugal, foi a contraparte na assinatura do acordo de ontem. O responsável diz ter planos para colocar o país na liderança da próxima etapa de comunicações, que será marcada pela intensidade da transmissão de dados máquina-a-máquina. “Queremos que Portugal seja um dos primeiros países europeus a ter tecnologia 5G disponível. É importante para o crescimento da indústria”, diz.
Na reação contra o uso dos equipamentos da fabricante chinesa, está em causa, está a obrigação legal de a Huawei e outras empresas chinesas cederem dados aos serviços de informações chinesas, segundo estipula a Lei de Informações Nacional aprovada pela Assembleia Popular Nacional (o parlamento chinês) em junho do ano passado. O diploma chinês exige a mesma colaboração a qualquer cidadão chinês.
“É muito claro que de um ponto de vista legal, na lei chinesa, a Huawei é obrigada a tornar toda a sua infraestrutura acessível ao governo chinês. A questão não é se o vão fazer, mas que terão de o fazer”, diz Jan Weidenfeld, do instituto Mercator.
“Não é apenas que pode haver elementos tecnológicos em infraestruturas chave. É muito claro que de um ponto de vista legal, na lei chinesa, a Huawei é obrigada a tornar toda a sua infraestrutura acessível ao governo chinês. É muito importante apontar isto. A questão não é se o vão fazer, mas que terão de o fazer, de acordo com a lei”, afirma Jan Weidenfeld, chefe da Unidade de Política Europeia para a China do Instituto Mercator para o Estudo da China (Merics).
O analista do think-tank com sede na Alemanha, onde está também a emergir um debate sobre o uso dos equipamentos, destaca a necessidade de haver um debate sobre uma tecnologia para a qual está prevista a integração de infraestruturas a nível europeu. A Huawei, há 15 anos na Europa, está já a trabalhar com vários países do grupo. Não só Portugal.
“Todos sabemos que a rede 5G será crítica para o bem-estar económico das nações no futuro. E na União Europeia as nossas infraestruturas estão integradas. Devíamos estar a ter um debate. Afeta todos os países da UE, não é um tema exclusivamente português”, defende.