Michael O'Leary: "Não voaremos para mais nenhum aeroporto além do Montijo"

O CEO da Ryanair pede ao governo que avance rapidamente com uma decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa e garante que nenhuma das outras seis localizações em estudo é opção. Michael O'Leary diz ainda que a TAP está a enviar passageiros" para a low-cost" e reforça interesse em ter centro de treinos ibérico no Porto.

Rute Simão
Lisboa 31/01/2022 - Michael O"leary, CEO da Ryanair © Rita Chantre / Global Imagens

A lista de opções para a construção do novo aeroporto na região de Lisboa não pára de aumentar e soma já sete localizações que serão alvo de estudo durante os próximos meses pela Comissão Técnica Independente (CTI), cuja decisão final será conhecida no final do ano. O CEO da Ryanair não vê com bons olhos o alargamento da discussão sobre a futura infraestrutura do país e assegura que o Montijo é o único caminho a seguir.

"Não voaremos para mais nenhum aeroporto além do Montijo, é a única opção para Ryanair. Se o governo português escolher outra opção? Iremos ignorar, continuaremos a crescer em Faro, no Porto e na Madeira. O Montijo está do outro lado da ponte, as outras localizações são a centenas de quilómetros de Lisboa. Ninguém quererá voar para lá.", assegura Michael O'Leary em entrevista ao Dinheiro Vivo.

O gestor da empresa irlandesa assume que "é uma loucura pensar sequer em fechar a Portela" para avançar com uma solução única em Alcochete ou em Santarém, por exemplo. Atualmente, estão em cima da mesa sete localizações: Portela + Montijo; Montijo + Portela; Portela + Santarém; Alcochete; Santarém e, mais recentemente, entraram na análise as opções de Beja e Alverca, conforme avançou a CTI à Lusa.

O CEO da companhia de baixo-custo acredita que a capacidade do Montijo aliada ao aeroporto Humberto Delgado será suficiente para servir a capital portuguesa. "O Montijo poderá facilmente receber 20 milhões de passageiros e a Portela chegar aos 30 milhões de passageiros por ano. O turismo iria crescer, iriam ser criados postos de trabalho, toda a gente iria beneficiar. O Montijo é a solução a longo prazo; com um total de 50 milhões de passageiros por ano em Lisboa, não será necessária outra solução" indica, pedindo ao governo que "construa o terminal e abra o Montijo rapidamente".

"Expandam a Portela, abram o Montijo e poupem os milhões de euros dos contribuintes em estudos de soluções estúpidas de aeroportos a centenas de quilómetros", sugere.

"TAP está a enviar clientes para a Ryanair"
Com o aeroporto da Portela esgotado, o CEO da Ryanair reitera as críticas à TAP pelo bloqueio de slots que diz que não estão a ser rentabilizados. "Estamos muito zangados com o facto de o governo português permitir que a TAP continue a bloquear slots em Lisboa. Há muitos slots que poderíamos usar e que a TAP não usa. Poderíamos usá-los para trazer mais passageiros", lamenta. O responsável não poupa críticas à companhia de bandeira portuguesa que diz estar a perder passageiros para a low cost.

"A TAP está a enviar os clientes para a Ryanair e depois nunca mais os recupera porque os clientes percebem que podem voar por 40 euros pela Europa. Por que haveriam de voltar a voar com a TAP que ou tem uma greve, ou um voo atrasado ou cancelado? A TAP recebeu 3,2 mil milhões de euros dos contribuintes e retribui com preços altos e um mau serviço", adianta.

O gestor recusa também olhar tanto para a TAP como para a easyJet como concorrentes no país. "Não competimos com a TAP. A TAP não cresce no Porto enquanto nós abrimos 11 novas rotas, e praticamente não voa em Faro. O crescimento que estamos a ter não é por roubar passageiros à TAP, a TAP é que continua a oferecê-los. Já a easyJet não compete connosco porque as tarifas deles são três vezes superiores às nossas"; justifica.

"A easyJet só está a crescer em Lisboa porque ficou com os slots que deveriam ser nossos. Foi uma decisão política. A TAP não queria a Ryanair porque prefere competir com a easyJet.. A tarifa média da easyjet são 75 euros, a da Ryanair são 40 euros e a da TAP 110 euros. A TAP quer competir com alguém de 75 euros não de 45 euros", prossegue.

Sobre o futuro da TAP, Michael O'Leary acredita que o governo deverá avançar com a venda "o mais depressa possível" e aponta a dona da Iberia e da British Airways como o melhor negócio para o país. "A IAG sabe o que faz e conseguiu fazer crescer a Iberia. Seria bom para Portugal, a TAP não sobreviverá sozinha. A Lufthansa não quer saber de nada e a Air France-KLM é a pior opção de todas, eles não se conseguem gerir a eles próprios", analisa.

Porto continua na corrida ao centro de treinos Ibérico
A localização do novo centro ibérico de treinos da Ryanair continua a ser uma incógnita. O líder da companhia aponta uma decisão final para fevereiro e abertura para setembro. Para já, ainda não se sabe qual será o destino do investimento de 50 milhões de euros. O'Leary diz continuar em negociações com Madrid e com o Porto.

"Precisamos de uma localização relativamente barata, investiremos cerca de 50 milhões de euros em simuladores. O objetivo deste centro é receber pilotos e tripulantes de todas as bases de Espanha e de Portugal", esclarece o CEO, que refere estar em conversações com o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira.

Ao Dinheiro Vivo, a autarquia esclarece que no "Porto não estariam reunidas as condições necessárias para a instalação do novo centro de treinos da Ryanair". Rui Moreira defendeu, recentemente, outras localizações viáveis a Norte do país para receber o o centro de treinos, como Vila Nova de Gaia, Matosinhos e Vila do Conde. Mas Michael O'Leary nega que alguma destas localizações satisfaça os interesse da low cost que quer estar posicionada junto do aeroporto Francisco Sá Carneiro.

Já sobre as novidades para os próximos meses, a cidade do Porto e de Faro serão as grandes apostas da Ryanair para o verão IATA em Portugal. Com 19 novas rotas - 11 na Invicta e oito no Algarve - a low cost irlandesa irá operar mais de 1600 voos no país a partir de abril. O crescimento da operação irá permitir à companhia basear mais quatro aviões e criar 200 novos empregos.

O CEO da Ryanair adianta que irá reunir esta quarta-feira, 01, com João Galamba. "Temos planos entusiasmantes para fazer crescer o turismo no Porto e esperamos apresentar-lhe esses planos a ele", explica, garantindo que viu como positiva a recente mudança de cadeiras no ministério das Infraestruturas. "O Pedro Nuno Santos não era um grande ministro, por isso não foi uma perda sua saída", conclui.

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