O Banco de Portugal (BdP) admite poder vir a adotar medidas que dificultem o acesso ao crédito à habitação, para evitar que os bancos fiquem expostos a uma futura crise, anunciou o supervisor bancário no seu Relatório de Estabilidade Financeira divulgado esta quarta-feira.
"A este propósito, o Banco de Portugal pondera adotar medidas com vista ao reforço da avaliação, pelas instituições de crédito, da capacidade creditícia dos mutuários particulares", refere numa nota divulgada no âmbito daquele relatório.
O objetivo do supervisor é prevenir que o aumento na concessão de novo crédito para a compra de casa leve a que os bancos possam correr o risco de terem novo crédito malparado no futuro.
Entre as medidas, o supervisor poderá pedir aos bancos maior exigência na taxa de esforço e na apresentação de mais garantias, levando em conta a futura subida das taxas de juro.
Por outro lado, o Banco de Portugal também pode atuar na questão do prazo máximo de concessão de crédito, já que Portugal empresta a mais anos do que os restantes países da zona euro.
"O nível muito baixo das taxas de juro de curto prazo deverá continuar a contribuir para a menor restritividade dos critérios de concessão de crédito, criando incentivos para uma desalavancagem mais lenta da economia", alerta o banco central.
Sublinha que a "evolução dos preços no mercado imobiliário residencial poderá também ter consequências sobre os riscos para a estabilidade financeira, caso acentue essa menor restritividade no caso particular do crédito à habitação".
E "não ser possível afastar a possibilidade de existirem apreciações excessivas em determinadas áreas geográficas, nomeadamente nos grandes centros urbanos".
"Contudo, os fluxos acumulados de novo crédito à habitação mantiveram uma dinâmica forte no primeiro semestre de 2017, com um peso crescente no valor das transações de alojamentos familiares", diz o BdP.
"Assim, importa assegurar que as atuais dinâmicas do crédito à habitação e da economia, em particular do mercado imobiliário, não comprometam a redução do ainda elevado rácio de endividamento dos particulares e não promovam a acumulação de risco excessivo no balanço dos bancos e a excessiva afetação de recursos da economia ao setor imobiliário", adianta.