O BCP já pagou quase 700 milhões de euros em juros de obrigações de capital contingente (CoCos), um empréstimo do Estado aos bancos para fortalecer a estrutura de capital e o balanço, realizados em 2012, numa altura em que o setor bancário nacional estava sob forte pressão.
O banco liderado por Nuno Amado teve custos com este empréstimo, até ao momento, de 698,4 milhões de euros, disse ao Dinheiro Vivo fonte oficial do BCP. Dos três mil milhões a que recorreu, o banco amortizou 2,25 mil milhões em 2014 e outros 50 milhões já este ano.
Segundo os números do BCP, em 2012 os juros pagos foram de 134,8 milhões de euros. No ano seguinte, 269 milhões de euros e, em 2014, de 180 milhões de euros. Em 2014 o BCP devolveu 2,25 mil milhões de euros, depois de um aumento de capital, o que levou a que o montante de juros pagos em 2015 descesse para 65,3 milhões de euros.
Já em 2016, e até ao final de setembro, foram pagos 49,1 milhões de euros, embora fonte oficial frise que os números finais só poderão ser apurados após o final do ano. Deverão, contudo, rondar os 65 milhões de euros - na altura do fecho de contas de 2016, os juros pagos pelo BCP já terão assim superado os 700 milhões de euros apurados até setembro deste ano.
Além do BCP, o BPI, CGD e também o Banif subscreveram estes instrumentos, com uma taxa de juro de 8,5%, que aumenta 25 pontos base todos os anos e 50 pontos no quarto ano. Feitas as contas, o BCP está este ano a pagar juros de 10% pelos CoCos.
Ao todo, os bancos pagaram mais de 1,2 mil milhões de euros de juros de CoCos desde 2012, como noticia o Dinheiro Vivo hoje, sendo que o BCP é responsável pela maior parte do valor: perto de 58% do total.
O banco liderado por Nuno Amado recebeu três mil milhões de euros de CoCos e já amortizou 2,3 mil milhões de euros, disse ontem fonte do BCP ao Dinheiro Vivo. Ou seja, este ano o BCP devolveu 50 milhões de euros de CoCos, apesar de ter comunicado a intenção de reembolsar antecipadamente 200 a 250 milhões de euros.
O pedido para avançar com um pagamento desta dimensão chegou a ser apresentado a Bruxelas, como revelou Nuno Amado, mas o contexto - crise da banca europeia, o Brexit, a volatilidade das bolsas e as próprias alterações acionistas no BCP, com a entrada dos chineses da Fosun -, acabou por deixar esta intenção para segundo plano e a autorização acabou por não chegar, ainda que a entrada da Fosun ajude ao pagamento deste empréstimo.
Feitas as contas, o BCP fica com 700 milhões de euros por devolver e tem de o fazer até junho do próximo ano. Ao Dinheiro Vivo, fonte oficial do BCP reafirmou no entanto a intenção de "de pagar a totalidade no primeiro trimestre de 2017, decisão que será tomada em concertação com a DG Comp".
O BCP será o único banco ainda com CoCos por devolver em 2017. A queda do Banif leva a que os seus CoCos não sejam devolvidos e o BPI já pagou a totalidade do empréstimo. Já os 900 milhões que a CGD ainda não reembolsou serão convertidos em capital como parte do plano de recapitalização do banco público.