O CaixaBank, que desde ontem tem a oferta pública de aquisição (OPA) sobre o BPI em curso, apresenta algumas críticas aos avanços deste banco ao nível dos rácios de capital e de eficiência no prospeto sobre a OPA. O documento serve também para justificar o preço da oferta, de 1,134 euros por ação, valor abaixo das expectativas dos acionistas minoritários.
As necessidades de capital com que o BPI entrou em 2017 são desde logo um dos focos salientados pelos catalães no documento. O banco presidido por Fernando Ulrich entrou no novo ano com “um deficit de capital para cumprir com o rácio mínimo de capital total fixado em 11,75%”, alertam.
Para voltar a cumprir com estas normas regulatórias, o BPI “decidiu realizar uma emissão de dívida subordinada num valor até 350 milhões”, emissão que, todavia, ainda não avançou. Mas os cálculos do grupo espanhol para a emissão não são animadores: O “custo da emissão (...) será elevado e tal terá impacto significativo nos resultados do BPI”, diz o CaixaBank.
“De acordo com as estimativas (...) o custo estimado anual após impostos da emissão seria de €21 milhões a €26 milhões, ou 23% a 28% dos resultados domésticos do BPI em 2015”, reforçam, considerando que este custo terá “impacto significativo na rentabilidade” do banco.
A este “impacto significativo”, o CaixaBank acrescenta outro, também à conta de obrigações regulatórias. De acordo com os espanhóis, o BPI compara mal com os bancos ibéricos ao nível do capital regulatório que, em setembro, era de 11% contra o “rácio médio de 11,9% dos pares ibéricos”. Os cálculos do Caixa são de que o BPI terá de levantar €215 milhões para alcançar os 11,9%, algo com “impacto negativo na rentabilidade”.
No seguimento destas críticas, o CaixaBank lembra que os custos de financiamento do BPI sairão a ganhar com o sucesso da OPA, já que o banco enfrentará custos menores. Mas as críticas vão além dos rácios e necessidades de capital, com o CaixaBank a salientar os elevados custos e reduzidos dividendos que o BPI antevê.
“O retorno esperado de dividendos da Sociedade Visada para 2016 e 2017 é 0,0% e 0,9%, abaixo do estimado pelo consenso dos analistas de research para bancos domésticos espanhóis”, refere o prospeto. A culpa da reduzida expectativa de dividendos é “em parte consequência do seu menor nível de solvência”.
E se os dividendos estão aquém do esperado, os custos também não vão de encontro à expectativa. Segundo as contas do CaixaBank, “o rácio de gastos com pessoal por receitas” do BPI foi de 44% em 2015, “enquanto o dos seus pares domésticos se situa num nível de 35%”. A comparação agora é com a banca portuguesa.
Este nível de custos mais elevado do que a média da banca, leva o CaixaBank a concluir que o BPI “reportou níveis de eficiência relativos a setembro de 2016 que são significativamente abaixo dos seus comparáveis”, com 72% de custos sobre os rendimentos, rácio que compara com a média de 49% dos comparáveis domésticos.
E para melhorar estes níveis de eficiência, o caminho já está praticamente definido: cortar nos recursos humanos e balcões. O CaixaBank estima que o sucesso da OPA resulte em mais de 100 milhões em sinergias anuais, uma vez que do lado dos custos a maioria dos ganhos virá de “poupanças com pessoal”. Aqui estima-se que só para colocar o BPI em linha com os rácios comparáveis terá de avançar com a “redução de 900 trabalhadores”, corte a que juntará o fecho de mais de 50 balcões do BPI em 2017.