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A Contrastaria é o mais antigo mecanismo português de defesa do consumidor que ainda se encontra em pleno funcionamento, remontando ao século XIII. A diretora do organismo, Paula Pedro, relembra que, embora seja "uma atividade de heranças e tradições profundamente enraizadas", a Contrastaria continua a reinventar-se e a inovação está "no seu ADN", sendo disso exemplo o projeto Uniquemark.
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Integrada na atual Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM), a Contrastaria assegura o serviço de ensaio e marcação de artigos com metais preciosos, hoje realizado por laboratórios acreditados e técnicos de marcação especializados que garantem a certificação com todo o rigor, prosseguindo a exponencial modernização no setor.
O melhor exemplo do caminho inovador que está a ser palmilhado pela Contrastaria é o projeto Uniquemark, desenvolvido em parceria com a Universidade de Coimbra, e que se pretende que esteja disponível "a médio-prazo", explica Paula Pedro. A inovação consiste na criação de uma marca de certificação única, não clonável, através de técnicas como a dispersão aleatória de pó de diamante e uma nova técnica de marcação a laser.
Mas a revolução do sistema Uniquemark não fica por aqui, está igualmente na possibilidade de validar a autenticidade das marcas recorrendo a um simples smartphone, explica a gestora, sublinhando que assim se entra "numa nova era na segurança e rastreabilidade das marcas da Contrastaria".
A transformação digital tem estado, então, na ordem do dia, especialmente desde a pandemia de covid-19 que levou à alteração dos modelos de negócio. Já em 2020, a Contrastaria não se deixou ficar para trás face aos desafios emergentes e fez por inovar o serviço que disponibilizava aos seus clientes, nomeadamente ao facultar um novo sistema de agendamento que permite tirar senhas online, eliminando a obrigatoriedade do contacto físico.
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Na verdade, este ciclo de transformação já permite, atualmente, que um operador económico não tenha de deslocar-se à Contrastaria para resolver assuntos administrativos, "nem tão pouco para proceder ao ensaio e marcação das suas peças", explica Paula Pedro, diretora da Unidade de Contrastaria e de Fiscalidade da Imprensa Nacional Casa da Moeda.
São várias as soluções que facilitam a vida aos operadores, desde os formulários digitais ligados ao Balcão Único e-Portugal, que permitem tratar de todos os assuntos administrativos, até aos novos serviços disponibilizados como o transporte seguro e a marcação nas oficinas - ainda em fase piloto -, passando pela oferta de um serviço "chave-na-mão" em parceria com as Alfândegas do Porto, denominado Pick & Go.
Inclusive, no sistema de gestão de atendimento existe uma senha prioritária que garante uma "via verde" para a entrega de obra, tornando o processo "fácil, cómodo e rápido", o que possibilita que os operadores económicos tenham "a Contrastaria à distância de um clique".
Contrastaria em números
Para Paula Pedro, diretora da Contrastaria, a necessidade de regular o valor dos metais preciosos e estabelecer os toques legais surgiu "ainda antes da época de apogeu dos Descobrimentos" e esta é uma incumbência pela qual o organismo tem zelado ao longo de mais de 140 anos.
É fundamental que os consumidores saibam que a marca da Contrastaria é obrigatória para todos os artigos de prata acima dos dois gramas e de ouro acima das 0,5 gramas. Esta é "a marca que faz a diferença. E faz mesmo", afirma a gestora. Esta marca é a razão pela qual o mecanismo de defesa do consumidor certificou mais de 5,3 milhões de peças de ouro e prata em 2022, o que se traduz num aumento de 19% face ao ano anterior e de 53% quando comparado com os números de 2020.
Só no ano passado, entraram na Contrastaria mais de 13,5 toneladas de metal precioso, dos quais 11 897 quilos de objetos em prata e 1717 artefactos em ouro. A dinâmica do setor também se demonstra pelos quase 62 mil atendimentos registados em 2022 e é "imbuída do espírito de melhoria contínua" que a Contrastaria tem melhorado progressivamente os seus níveis de serviço.
Em termos médios, no ano passado, foram precisas somente 5 horas e meia para entrega de obra entrada para ensaio e marcação no serviço expresso, que nos momentos de pico de atividade chega a atingir os 87% da quantidade total de artigos de metal precioso. Para a diretora da Contrastaria, este nível de exigência é compatível com as necessidades atuais dos operadores económicos, que atuam num mercado cada vez mais exigente "em que não se produz para stock, mas sim, por encomenda", explica.
Foram 1835 os operadores que recorreram ao serviço em 2022, sendo que cerca de 600 eram industriais e mais de 200 eram armazenistas, divididos por Gondomar (25%), Porto (33%) e Lisboa (42%). Mas apesar de existirem mais operadores na capital, é no Norte que está concentrado o maior volume de atividade, com mais de 94% das peças a chegar à Contrastaria pelo Porto e por Gondomar. A gestora explica ao Dinheiro Vivo que o perfil dos clientes "é muito diferente", mas que no Norte do país, além da quantidade de peças que dão entrada serem bastante superiores, muitos dos operadores chegam a ir "todas as semanas e outros até diariamente à Contrastaria".
Previsões para 2023 e estado da arte no setor
Na opinião da diretora da Contrastaria, o setor da ourivesaria atravessa um momento bastante promissor e os números demonstram uma "excecional dinâmica", perspetivando um futuro otimista. As previsões para 2023 são "as melhores, dentro do contexto de incerteza global que vivemos", mas a "vitalidade do setor tem reflexo nos níveis de produção" registados nos dois primeiros meses do ano.
A Contrastaria Portuguesa será "um parceiro de futuro", modernizando os seus serviços numa visão que alia tradição e inovação e visando sempre oferecer "o melhor serviço aos seus clientes e consumidores finais", numa lógica de contribuição para a revitalização e crescimento do setor.
No entanto, existem alguns desafios que têm de continuar a ser endereçados, principalmente ao nível de manter a "resiliência inabalável" perante situações de incerteza. Mas também se coloca a questão de reforçar continuamente a visibilidade da Contrastaria e da marca de contraste junto dos cidadãos em geral, explica Paula Pedro. "Estamos conscientes da responsabilidade de cuidar do legado histórico que herdámos e de o transmitir às próximas gerações", remata a gestora.
Texto editado por Teresa Costa