Um quarto dos livros vendidos em 2020 foram comprados em hipermercados

Associação que representa editores e livreiros foi "apanhada de surpresa" pela decisão do governo de impedir a venda de livros em espaços de retalho alimentar durante este novo confinamento.

Em ano de pandemia, os portugueses compraram quase menos dois milhões de livros que em 2019. O alerta para esta realidade já tinha sido dado pela APEL, associação que representa livreiros e editoras. Os números da GfK, cedidos ao Dinheiro Vivo, mostram que, em 2020, foram vendidos 9,8 milhões de livros, menos 18% que em 2019. Foram gastos 128,7 milhões de euros em livros - menos 17% que no ano anterior -, dos quais 33,6 milhões de euros foram despendidos em livros adquiridos em grandes superfícies de retalho alimentar - uma quebra de 8% face a 2019.

Os dados da empresa de estudos de mercado mostram que as livrarias e outros espaços que não sejam hipermercados foram responsáveis pela venda de 95 milhões de euros em livros, menos 19% que no ano anterior. Contudo, olhando para o peso dos canais para a venda de manuscritos é possível perceber que nos hipermercados subiu dos 23,7% em 2019 para 26,1%. Já nas livrarias e outros espaços, a tendência foi inversa: em 2019 representavam 76,3% e no ano passado o peso foi de 73,9%.

João Alvim, presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), afirma ao Dinheiro Vivo que "o que aconteceu no ano passado, durante o confinamento, está muito bem identificado, também pelos dados da GfK: as vendas, em média, caíram 55%". E explica que as vendas realizadas em espaços que não são hipermercados "caíram 70%", enquanto "as vendas dos hipermercados caíram 20%" nas semanas em que as restrições de movimentos estavam em vigor. "Durante aquele período de confinamento ninguém andou a ganhar quota de mercado a ninguém. O que houve foi uma perda generalizada. Os hipermercados caíram menos porque, apesar de tudo, mantiveram alguma venda".

No primeiro estado de emergência, implementado em março e abril, as grandes superfícies de retalho alimentar mantiveram-se de portas abertas, podendo vender bens essenciais, que não alimentares. Também naquela época, foi decretada a obrigatoriedade de as livrarias encerrarem. Contudo, e tal como no atual confinamento, as livrarias podem estar abertas para fazerem vendas através de um postigo.

O líder da associação que representa o setor sublinha que no ano passado "os hipermercados não venderam mais do que em 2019. O buraco que houve durante o período de confinamento é que foi muito grande e isso não se recupera de um dia para o outro. As coisas vinham a andar bem em setembro. De repente, começaram a travar e o ano ficou francamente a abaixo".

No atual confinamento, o governo prepara-se para impedir a venda de livros em hipermercados. A APEL diz que "nunca foi ouvida" sobre esta matéria e que foi "apanhada completamente de surpresa". E mostra-se preocupada com o fecho de um canal relevante para a venda de livros.

"O mercado do livro em Portugal tem diversos canais comerciais, dos quais 90% é através de uma venda ao retalho, seja ele especializado ou não", explica João Alvim. "O online era uma atividade que tinha uma expressão relativamente diminuta [antes da pandemia] e que cresceu bastante. Mas o crescer bastante não é compensar o que desapareceu. Não vai compensar o grande bolo, que escoa 90% da atividade dos editores e que vende para o país inteiro. Isso não é possível compensar encerrando e dizendo que a venda ao postigo e no online satisfazem as necessidades das pessoas. Não é verdade", remata.

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