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Vistas da praia, as três eólicas do parque offshore Windfloat Atlantic têm uns dois centímetros de altura. Se tanto. Mas quando nos aproximamos delas, tão perto que quase lhes tocamos, sentimo-nos muito pequeninos. Mais ou menos como quando, do chão, procuramos o topo de um arranha-céus. A estrutura destas eólicas instaladas no mar alto, a 18 quilómetros da costa de Viana do Castelo, é massiva. A base triangular tem 30 metros de altura; a torre tem 100 metros e cada uma das três pás tem 82 metros de comprimento. Tudo junto é como ter um edifício de 210 metros de altura a flutuar de uma forma tão suave que parece estar fixo. Tal como um barco ancorado em alto mar.
Aliás, "estas plataformas flutuantes foram desenhadas num conceito de embarcação e de construção naval", explica ao Dinheiro Vivo José Pinheiro, o diretor do projeto liderado pela EDP. Só assim seria possível instalá-las ali, algures no Oceano Atlântico, sem nesga de terra à vista, mas onde há mais vento, portanto, maior produção de eletricidade. "Com esta tecnologia é possível explorar vento em locais que antes eram inatingíveis. As tecnologias normais, por exemplo, as usadas no Mar do Norte, onde está a maioria das eólicas offshore, estão limitadas a 60 metros de profundidade. Com estas podemos ir até 400 metros de profundidade e, portanto, a todas as costas do mundo", explica. Além disso, por serem flutuantes, estas eólicas são "menos intrusivas, já que não há penetração física no solo [fundo do mar]". E como são feitas do mesmo material de um barco, não prejudicam o ambiente. Até atraem crustáceos, que se fixam na base da estrutura.

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Os impactos ambientais são, por isso, muito baixos, garante José Pinheiro. No que respeita à fauna animal, tiveram apenas de garantir que não se pescasse num raio de 20 quilómetros de distância do cabo elétrico subaquático que liga este parque eólico a terra e que pertence à Redes Energéticas Nacionais (REN). De resto, têm de monitorizar os movimentos das aves, tal como acontece num parque eólico onshore (em terra), e também o movimento dos cetáceos, como golfinhos ou baleias, por causa do som que as eólicas fazem quando estão a operar.

© DR
Nesta manhã de terça-feira, quando visitamos o Windfloat - o primeiro parque eólico offshore em Portugal -, o som das pás gigantes a girar era tão suave que mal incomodava o silêncio de todo aquele mar. Mas nesse dia - felizmente para quem enjoa em barcos - o mar e o vento estavam calmos, muito calmos. E em terra transpiravam-se quase 30 graus, num dos dias mais quentes deste ano em Viana do Castelo. Num dia de vento normal, com as eólicas a funcionar em pleno, o som das pás a girar será sempre mais forte, apesar de as turbinas que são produzidas atualmente serem cada vez mais silenciosas. E é esse som que pode afetar os cetáceos que a EDP tem monitorizado, sem incidentes.

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A estas vantagens tecnológicas e ambientais acresce ainda a facilidade de instalação, repara José Pinheiro. Toda a estrutura é construída em estaleiro, incluindo a montagem da torre e da turbina, e depois é levada para alto mar, numa viagem que pode demorar dias, dependendo da distância. Chegando ao local, a eólica é ancorada e ligada ao cabo que liga à rede elétrica nacional.
França, EUA e Coreia do Sul

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Com tanta vantagem tecnológica, ambiental e de instalação e com os números do primeiro ano completo de operação a corresponderem às expectativas, a EDP diz estar pronta para exportar esta tecnologia, que começou a desenvolver em 2011, na EDP Inovação. "Este é um projeto de engenharia portuguesa e alguma da cadeia de construção também foi em Portugal, em Setúbal e Leixões, e o nosso objetivo sempre foi exportar esta tecnologia, cujo potencial é enorme", conta José Pinheiro.
Assim, já no próximo ano, entra em operação um "parque muito semelhante ao Windfloat Atlantic" no Golfo de Lyon, a 16 quilómetros da costa de Leucate, uma vila no sul de França. Será o primeiro parque fora de Portugal a usar esta tecnologia flutuante e, com três unidades, cada uma com 10 MW de potência, é quase "um irmão gémeo do Windfloat", comenta José Pinheiro.
Mais para a frente, ainda sem data prevista, as eólicas que agora estão apenas ao largo de Viana do Castelo também serão instaladas nas águas profundas dos EUA e da Coreia do Sul. De acordo com o site da Ocean Winds, a empresa que junta a EDP Renováveis e a francesa Engie e que gere o negócio dos parques eólicos no mar, o projeto dos EUA será instalado na Baía de Humboldt, junto à cidade de Eureka, no norte da Califórnia. Terá entre 100 a 150 MW de potência o que, pelas contas do Dinheiro Vivo, pode significar entre sete e 15 eólicas flutuantes, dependendo da capacidade de cada uma, que pode ser de 10 ou 15 MW.
Já o parque da Coreia do Sul - o Korea Floating Wind - será instalado no mar do Japão, a 80 km da costa de Ulsan, conhecida por Cidade Hyundai por ser ali a maior fábrica de montagem da marca automóvel. Terá "1,5 GW de potência", distribuídos por três parques, conta José Pinheiro, e segundo o mesmo site, cada uma das turbinas usadas deverá ter uns 15 MW o que significa que podem ser instaladas ali cerca de 75 eólicas semelhantes às que estão agora ao largo de Viana do Castelo.

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Uma questão de preço
Além destes três projetos, a EDP Renováveis e a Engie continuam à procura de outras oportunidades mas existe um critério: "Olhamos para países com ambientes regulatórios previsíveis", repara o diretor do Windfloat Atlantic. Ou seja, procuram mercados onde os leilões ou concursos para atribuição de contratos de venda de eletricidade estejam já definidos e tenham um preço por megawatt hora (MWh) que suporte o investimento ainda elevado que esta tecnologia tem.
Por exemplo, o Windfloat Atlantic custou 125 milhões de euros e a tarifa que a Ocean Winds recebe pela venda da eletricidade é, em média, "de 140 euros por MWh". Um valor elevado "porque é uma tecnologia nova", mas que, a "médio prazo" poderá "chegar ao valor do offshore convencional [fixo e em águas menos profundas]" que ronda os "50 a 60 euros por MWh", explica José Pinheiro. Mas, "para isso, é preciso uma grande encomenda" que permita a industrialização destas eólicas flutuantes, acrescenta.
Os três parques em desenvolvimento deverão ajudar a dar esse passo, bem como outros projetos que poderão surgir no curto prazo porque, de acordo com a estratégia da EDP para os próximos quatro anos, a construção de eólicas no mar é uma das grandes apostas da empresa.
A jornalista viajou a convite da EDP