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O presidente da CP defende a reabertura da linha ferroviária do Douro até à fronteira. Nuno Freitas sustentou esta posição em entrevista à publicação especializada Railway Gazette. O gestor também falou sobre o saneamento da dívida de 2,1 mil milhões da transportadora e ainda admitiu que o regresso do comboio-hotel para Espanha apenas seja possível com um subsídio do Estado.
"Fomos longe demais no encerramento de linhas nos últimos 30 anos. [...] Estou ansioso por reabrir partes abandonadas de corredores importantes como o do vale do Douro, no troço entre Pocinho e Barca d'Alva, porque isso teria benefícios transfronteiriços", referiu o líder da CP. "Infelizmente, não podemos reabrir o lado espanhol - embora tivéssemos sido nós a construir isso - mas pelo menos seria importante reabrir o nosso lado até à fronteira", acrescentou Nuno Freitas à mesma publicação especializada.
A reabertura da Linha do Douro até à fronteira implica um investimento total entre 43 milhões e 163 milhões, segundo contas da Infraestruturas e da Comissão Europeia, respetivamente. Bruxelas já manifestou interesse em comparticipar estes trabalhos.

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No início deste ano, foi entregue na Assembleia da República uma petição com 13 500 subscritores a exigirem a reativação do troço entre Pocinho e Barca d'Alva, encerrado em 1988. A petição foi promovida pela Liga dos Amigos do Douro Património Mundial e a Fundação Museu do Douro.
Na mesma entrevista, o presidente da CP também lamentou que os encerramentos das últimas décadas tenham retirado "muita redundância à rede ferroviária nacional". Exemplo disso é o troço Beja-Funcheira, desativado em 2012 e que permitiria à linha do Alentejo ser uma alternativa à linha do Sul nas deslocações entre Lisboa e o Algarve.
Nuno Freitas também foi questionado sobre os serviços internacionais da CP, desde meados de março reduzidos a uma viagem por dia do comboio Celta (Porto-Vigo) e ao serviço regional da Linha do Leste (Entroncamento-Badajoz). "Os nossos serviços transfronteiriços são subaproveitados. A principal razão é que simplesmente não temos infraestrutura competitiva para esses serviços de passageiros", lamenta. "No futuro próximo, será difícil aumentar esses serviços porque as alternativas rodoviárias e aéreas são muito melhores", acrescentou.
Quando questionado sobre um eventual regresso do comboio-hotel Lusitânia e do Sud Expresso, o gestor assumiu um cenário de ajuda pública: "Os comboios que operamos dão prejuízo mas estamos a trabalhar com a Renfe [congénere espanhola] para tentar otimizar esses serviços, para que possam ser mais úteis e menos prejudiciais financeiramente. Temo que cheguemos a uma situação impossível e, provavelmente, teremos de escalar isto ao nível governamental e encontrar alguma forma de subsidiar este serviço. Temos de ser cuidadosos para não parar completamente estes serviços mas temos de encontrar uma estratégia porque não podemos continuar a perder dinheiro."

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O comboio Sud Expresso é explorado exclusivamente pela CP mas a transportadora portuguesa aluga o material circulante à fabricante de comboios Talgo desde 2010. A manutenção e outros serviços associados ficam por conta da Renfe, a congénere espanhola da empresa pública ferroviária. O serviço não é lucrativo e registou perdas de três milhões de euros nos últimos anos.
Este comboio segue em conjunto com o Lustiânia Comboio Hotel até Medina del Campo, já em Espanha. O Lusitânia é explorado, em conjunto, pela CP e pela Renfe e tem gerado prejuízos anuais de dois milhões de euros. As composições ao serviço do comboio para Espanha estão guardadas em Toledo há vários meses.
Apenas no longo prazo é esperada um reforço mais aprofundado das ligações internacionais: "com a melhoria das infraestruturas e alguns troços, poderemos melhorar muito as ligações entre Portugal e Espanha, sobretudo no corredor Atlântico". Além da nova linha Lisboa-Porto, o programa de investimentos até 2030 contempla uma nova ligação entre Porto e Vigo, que colocará estas cidades a menos de uma hora de distância.

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O saneamento da dívida de 2,1 mil milhões de euros da CP foi outro dos temas da entrevista. Sobre esta matéria, Nuno Freitas conta que a situação esteja resolvida no início do próximo ano. "Até ao início de 2021 chegaremos um acordo para cancelar, se não toda, pelo menos 90% da dívida histórica da CP."