Smart Cities: “Os cidadãos vão ser os sensores das cidades”

Alberto Bernal é o cérebro das Smart Cities da multinacional espanhola Indra e falámos com ele no Future Trends Forum, em Sintra.

Tal como a inteligência artificial está na moda e é usada, por vezes de forma ligeira, por departamentos de marketing, "Smart Cities" também é um termo que é facilmente usado quando há pequenos projetos inteligentes na gestão da cidade.

“Há muitos projetos verticais, ou seja, isolados, mas poucos que pensem as inovações para a cidade de forma integrada, que é o que significa na verdade a expressão Smart Cities”. Quem o diz é Alberto Bernal, diretor global de Smart Cities há 10 anos do gigante de tecnologia espanhol, Indra. O responsável lembra mesmo que, na Europa, mais de metade das cidades com 200 mil habitantes ou mais está a fazer projetos de Smart Cities, “mas há um longo caminho a percorrer”.

Bernal veio a Lisboa no passado fim de semana, como patrono do Future Trends Forum (FTF), o Think Thank da Fundação Inovação Bankinter, que se reuniu pela primeira vez em Portugal. Este ano o tema foi “Technology disrupting cities”. Foram selecionados 40 dos 400 patronos da fundação que pudessem ajudar a pensar esta área e estiveram reunidos em Sintra. Além de Alberto Bernal estiveram presentes antigos astronautas e o neurocientista português António Damásio, que também é conselheiro de Estado do Presidente da República.

A palavra mais utilizada por Alberto Bernal na entrevista que deu ao Dinheiro Vivo foi precisamente integração. Numa área em franca expansão, que beneficia nos avanços tecnológicos que permitem pela primeira vez tratar de muita informação vinda de sensores vários em tempo real, há poucas empresas a forneceram o que chamou de sistema operativo das cidades.

E o que são Smart Cities?

“Smart Cities, para nós, é a gestão integral e completa da cidade. A capacidade de integração é feita com plataformas de gestão de sistemas inteligentes”. É a chamada “inteligência global”, que é diferente da chamada “inteligência vertical”, que mais não é do que soluções que permitem ter dados apenas um dispositivo. É o caso dos sensores dos caixotes de lixo ou dos sensores para se saber se os locais de estacionamento estão ocupados ou não.

Nessa área, há muitas empresas a fornecer serviços até porque há necessidades muito diferentes: “haverá sempre quem forneça os dispositivos físicos e sensores, quem forneça as comunicações e há a transmissão dos dados que é das operadoras locais”.

A Indra e empresas como a NEC (que está a criar o ‘sistema operativo’ da cidade de Lisboa) ou a IBM fornecem as soluções de software. Daí que Alberto Bernal defenda que os sistemas de gestão integrada devem ser abertos e não fechados para facilitar a integração dos muitos serviços feitos por várias empresas. “Quando há um software que tem os dados de todos os departamentos e permite agir de forma combinada, vamos ter serviços de muito mais valor”.

E onde está a Indra neste processo? “Somos a empresa com mais projetos de Smart Cities no mundo até ao dia de hoje, temos muitas centenas. Só na gestão inteligente do tráfego estamos em mais de 100 cidades de todo o mundo. Na regulação do trânsito a Indra é, provavelmente, a líder mundial”.

O cidadão como sensor inteligente

Um dos exemplos é Barcelona. A Indra está a participar num projeto, chamado T-Mobilidad, para a gestão integrada da mobilidade da cidade. Novos títulos de transporte intermodal que envolvem autocarro, metro e comboio vão permitir que os utilizadores tenham de esperar menos quando pelos transportes.

Como? O sistema usa em tempo real os sistemas de geolocalização dos vários transportes e acrescenta ainda informação dos smartphones. “Os cidadãos vão ser os sensores permanentes da cidade”, explica Alberto Bernal sobre o projeto de mobilidade inteligente ambicioso, que lembra que essa mesma informação dos utilizadores também será útil para gerir o trânsito da cidade, à semelhança do que a aplicação de trânsito Waze já faz.

“Os sites de turismo que existem são pouco inteligentes”

O turismo é outra das preocupações das cidades que querem ser inteligentes. “Quase todas as cidades querem saber o perfil do turista que chega. A nacionalidade, origem, o que faz na cidade, o gasta”. Os gestores locais querem estar preparados para adapta a oferta turística e captar o turismo que mais lhes interessa. Nesse tópico, “os sites de turismo que existem são pouco inteligentes e muito maus, é preciso melhorá-los”.

As cidades de maior dimensão, acima do milhão de habitantes, “têm mais dificuldades em ter ofertas integradas transversais ou holísticas pela sua dimensão”.

“Em Barcelona ou Málaga, quando temos informação de que vão chegar mais turistas, sabemos que a determinadas horas ou em certas zonas estarão mais pessoas e podemos as rondas do lixo, por exemplo”. O especialista lembrou que também é possível saber que há mais pessoas idosas num determinado bairro, usando os dados disponíveis e, por exemplo, colocar mais caixotes do lixo.

Las Palmas, um dos melhores exemplos mundiais

Um dos projetos mais relevantes e complexos da Indra é em Las Palmas, nas Canárias (Espanha). Alberto Bernal diz mesmo que Espanha é um dos países com melhores exemplos nas Smart Cities, e que nesta área a Europa “bate por completo os Estados Unidos, com poucas cidades verdadeiramente conectadas”. Mas também lembrou que, quando os Estados Unidos quiserem, vão avançar de forma muito rápida.

Las Palmas tem vários projetos experimentais de integração completa num só software. “Lá a gestão das praias é integrada o sistema global, tal como dos resíduos e mesmo os pagamentos por telemóvel nos autocarros ou a gestão do estacionamento (com sensores e informação centralizada)”, explica Alberto Bernal. A ajudar o cidadão a ter toda a informação está também um site e app que permite ter uma ligação direta para receber e dar informação à gestão da cidade.

No tema das Smart Cities, Bernal recorda que “muitas das vantagens dos sistemas integrados são nas infraestruturas e não se vêm no dia a dia mas permitem maior eficiência e poupança de recursos”.

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