Stanley Ho, empresário macaense que controla 57,79% do grupo que explora os casinos do Estoril, de Lisboa e da Póvoa de Varzim, poderá não concorrer à nova concessão da zona de jogo do Estoril, concurso que deverá ser lançado antes do final do ano, apurou o Dinheiro Vivo.
O empresário, que tem vários negócios no país, estará insatisfeito com o processo para a atribuição da exploração do jogo em casino, numa altura em que falta pouco mais de um ano para terminar o prazo do atual contrato da zona de jogo que engloba os casinos do Estoril e de Lisboa.
Mas não é só Stanley Ho que demonstrará descontentamento. As licenças do Estoril e também da Figueira da Foz terminam a 31 de dezembro de 2020 e pouco ou nada se sabe dos critérios que vão regular o concurso. Há muito que os concessionários reclamam da morosidade na apresentação dos pressupostos concursais.
No grupo Estoril Sol, os ânimos estão aquecidos. Há fortes e prolongadas críticas ao que vozes internas designam de gestão corrente, ou mesmo autogestão. O negócio regista quebra de receitas e o aproximar do fim da concessão levou a uma travagem nos investimentos. Ainda recentemente, o grupo admitiu, ao Dinheiro Vivo, que o “fantasma” do fim da concessão tem condicionado os investimentos e obrigado a uma gestão “mais cautelosa” e “eficiente”.
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Nos primeiros nove meses do ano, todos os casinos do universo da Estoril Sol viram os seus proveitos cair. Lisboa gerou 63,2 milhões de euros de receitas com o jogo, uma quebra de 1%, no Estoril a descida foi ainda mais acentuada, menos 4,8% para 46,1 milhões. Mais a norte, o cenário não foi muito diferente, apresentando o Casino da Póvoa uma quebra de 2,4% para 34,1 milhões.
Amorim na corrida
Mário Assis Ferreira, vice-presidente do grupo, escusou-se a comentar quer o eventual abandono de Stanley Ho do negócio do jogo no país quer a gestão do grupo. Já Jorge Armindo, presidente da Amorim - Entertainment e Gaming International, sociedade que detém 32,67% do grupo Estoril Sol, adianta que “a concessão do Estoril não é um assunto que tenha sido discutido com Stanley Ho”, mas sublinha que “há um interesse” em ir a jogo.
Na sua opinião, a performance do grupo que, à semelhança de outros, tem “anos bons e outros piores, não prejudica a sua importância”. O gestor defende que o grupo Estoril Sol tem todas as condições para “ser um ganhador” e a intenção da Amorim “é apoiar” a proposta a concurso.
Pequenos investimentos
No primeiro semestre deste ano, a Estoril Sol apresentou receitas totais (jogo físico e online) de 111,9 milhões, um aumento de 3,2% face ao homólogo de 2018, um crescimento impulsionado pelos jogos eletrónicos. Os proveitos nos casinos caíram 2%. Neste período, investiu 400 mil euros, em linha com anos anteriores, “embora tenha registado uma ligeira diminuição, sobretudo no Casino Estoril e no Casino Lisboa, cuja concessão de jogo termina em dezembro de 2020”, lê-se no relatório e contas. O grupo gerou 19,2 milhões de EBITDA, uma quebra de 5%, e lucros de 9,3 milhões, menos 8%.
Dentro de semanas
O lançamento dos concursos públicos internacionais para as concessões do Estoril e da Figueira da Foz estarão por semanas. Ainda antes das eleições de outubro, os concessionários foram ouvidos pelo governo que lhes assegurou estar tudo preparado. Questionada a Secretaria de Estado do Turismo, que tem a tutela do jogo, confirma que já foram “ouvidos os operadores do setor e na sequência da tomada de posse” do governo. O lançamento “será efetuado oportunamente”. Neste momento, “está em curso a preparação dos procedimentos concursais para atribuição de novas concessões para as zonas de jogo cujos contratos se encontram a terminar”, diz ainda. Junto dos concessionários foi possível apurar que “está por semanas”.
A Amorim Turismo, que explora o casino da Figueira da Foz, está interessada em concorrer a uma nova concessão da sala. “Claro que sim”, sublinha Jorge Armindo. Entre janeiro e setembro, o casino gerou receitas de 12,3 milhões, mais 3,3% do que no homólogo de 2018. Ainda assim, o gestor sublinha que é necessário analisar as condições. Como recorda, atualmente os casinos estão sujeitos ao pagamento de uma contrapartida mínima anual, pensada tendo em conta o crescimento permanente das receitas da atividade, o que não se veio a verificar.
Em 2013, intentaram ações judiciais contra o Estado devido a esta matéria, alegando a alteração das circunstâncias que estiveram na base da negociação dos contratos, como os pressupostos de crescimento da atividade e a concorrência que entretanto se instalou no mercado dos jogos online e ilegais. Os processos ainda correm.
Para o empresário Manuel Violas, que explora através da Solverde as concessões de Espinho, Algarve e Chaves, o processo “está atrasado”, mas admite que, “à partida, está interessado” em concorrer. Manuel Violas confirma a reunião com o governo antes das eleições e lembra que, nessa altura, “estaria tudo preparado para lançar os concursos” do Estoril e da Figueira da Foz. As concessões das salas que estão sob a alçada da Solverde só terminam em 2023.
Receitas caem para 235,7 milhões
Onze casinos
Os 11 casinos a operar no país geraram receitas brutas com o jogo de 235,7 milhões de euros nos nove primeiros meses do ano, menos 1,2% do que no homólogo de 2018.
Estoril com maior queda
A sala do Estoril apresentou a maior queda. As receitas atingiram os 46,1 milhões, menos 4,8%. Lisboa, que integra a zona de jogo do Estoril e que vai agora a concurso, caiu 1%, para 63,2 milhões. A sala da Póvoa, cuja concessão termina em 2023, totalizou proveitos de 34,1 milhões, menos 2,4%. Todos são explorados pela Estoril Sol.
Espinho
O Casino de Espinho totalizou receitas de 36,2 milhões, menos 2,2%. A performance nas três salas do Algarve foi, no global, positiva, assim como no Casino de Chaves. As concessões terminam em 2023. A exploração está nas mãos da Solverde.
Figueira da Foz
A sala da Figueira da Foz, cuja concessão termina no fim de 2020, registou proveitos com o jogo de 12,3 milhões, uma subida de 3,3%. O casino é da Amorim Turismo.