Controlar hábitos de consumo com a mente? Sim, será possível em 2030

A "natureza conectada" é uma realidade prevista pelo estudo "Conected Consumer 2030" da Vodafone, sugerindo que os wearables irão além do controlo de voz, passando a interagir com a mente. Cidades inteligentes serão chave para metas ambientais.

A conectividade e a tecnologia inteligente vão transformar substancialmente a nossa vivência no mundo na próxima década, garante o estudo "Conected Consumer", apresentado esta quarta-feira pela Vodafone. Entre as principais conclusões eis uma estimativa desconcertante: "até 2030, os consumidores serão capazes de controlar os seus hábitos de consumo com os seus pensamentos".

O estudo estima que até ao fim desta década haverá 125 mil milhões de dispositivos conectados. Acresce que "a adoção digital acelerada causada pela pandemia" e a proliferação de soluções inteligentes vão resultar numa combinação de capacidades que serão aceites "sem esforço" pelos consumidores. Tais capacidades serão "uma tendência chave na próxima década", sendo que, fora do ambiente doméstico, os wearables (como smartwaches, comandos de voz e afins) "serão capazes de ir além do controlo de voz, passando a interagir diretamente com o pensamento do utilizador".

Ou seja, em vez de responderem ao som, estas "máquinas" poderão detetar automaticamente, através de um interface "cérebro-computador", sinais "que o cérebro envia automaticamente para a boca". O estudo explica que, dentro em breve, quando forem ditas palavras, os utilizadores poderão dar ordens aos seus smart assistants sem ter de falar em voz alta.

"Isto abre a possibilidade de um futuro sem ecrãs ou um metaverso, onde a comunicação com dispositivos acontece através de redes neuronais, permitindo ao utilizador tomar notas mentais ou até comunicar silenciosamente com os seus dispositivos", sugere a Vodafone.

A "natureza conectada" será uma realidade na próxima década, com o estudo a sugerir que tal poderá ser responsável por "um terço das reduções globais de emissões necessárias para atingir os objetivos de 2030".

Com menos de dez anos para cumprir o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 graus, a Vodafone acredita que a conectividade terá um contributo essencial a dar nas "tentativas globais de restaurar a biodiversidade, fornecendo informação em tempo real sobre o estado do nosso ambiente".

"No final da década, a conectividade será incorporada em árvores, campos e até mesmo nos oceanos, permitindo a monitorização do impacto dos esquemas de regeneração e a avaliação de potenciais ameaças", lê-se.

Uma inovação desta dimensão, realça o estudo, possibilitará às cidades inteligentes identificar e repor o excesso de energia, "permitindo que a energia e o calor não utilizados dos edifícios sejam redistribuídos pelas casas ou espaços públicos circundantes". Isto tudo, a partir da recolha de dados.

Dos dados pessoais como moeda de troca à prevenção de doenças

"Espera-nos uma década de mudanças exponenciais", afirmou Chris Sanderson, cofundador do The Future Laboratory (parceiro da Vodafone) e um dos autores do estudo, durante a apresentação do "Connected Consumer 2030", que decorreu via zoom.

Além da designada "natureza conectada", o estudo sugere outras alterações importantes como a deteção e prevenção de doenças, a partir de dispositivos inteligentes. Já hoje existem wearables que permitem contar passos, medir a tensão ou mensurar as horas e a qualidade do sono. São ações sem crivo científico, mas que já podem ser indicadores de saúde para o utilizador desses gadgets.

Ora, dentro em breve será possível ir além dessas funcionalidades. O estudo da Vodafone e do The Future Laboratory prevê que, nos próximos 10 anos, as casas terão equipamentos que monitorizam proativamente a saúde dos indivíduos, podendo diagnosticar mais cedo eventuais doenças e possibilitando um modelo preventivo de cuidados de saúde.

Os autores do estudo estimam que tal capacidade "poderia poupar à indústria da saúde 39 mil milhões de euros por ano".

O estudo prevê também que os espelhos das casas de banho possam ser equipados com sensores que verifiquem o fluxo sanguíneo e as alterações anómalas da cor da pele, ou com microfones inteligentes que solicitem automaticamente uma prescrição através da deteção de sons de tosse e de espirros. Estes dispositivos serão ainda capazes de realizar medições vitais, tais como a hidratação, o açúcar no sangue e a pressão sanguínea, para prever ou prevenir condições de saúde crónicas.

Há dois anos, a pandemia fez com que 90% dos países enfrentassem perturbações nos seus serviços de saúde essenciais. Agora, prevê-se que a conectividade nos cuidados integrados médicos será "fundamental" o bem-estar numa nova "era de cuidados interligados".

"A conectividade é a chave para esta transformação, ajudando-nos a ser disruptivos e a redefinir aquilo de que a sociedade é capaz", argumentou Chris Sanderson.

O estudo também aponta como a indústria automóvel será impactada pelos veículos autónomos. "Os veículos autónomos utilizarão hologramas e inteligência artificial para criar espaços de retalho automóvel", prevê-se.

Além de transformar a forma como as pessoas se deslocam, os veículos autónomos poderão impactar no "PIB da conectividade dos transportes, atingindo 241 mil milhões de euros até 2030". Como? "Utilizando hologramas imersivos, as marcas de e-commerce poderão mostrar as suas últimas coleções aos passageiros enquanto viajam, permitindo que os clientes passem pelos produtos e até sejam deixados num loja para fazerem uma compra", lê-se.

A inovação tecnológica vai permitir que um dia uma pessoa, ao entrar num veículo, possa controlar a sua viagem através dos dispositivos pessoais, pré-selecionando entre uma série de definições - que vão desde o turismo, ao trabalho e ao lazer -, "com o objetivo de criar uma experiência completamente personalizada".

"Logo que os cidadãos e as infraestruturas se interliguem, será possível uma visão holística das diferentes geografias e das pessoas que nelas vivem. Esta visão irá criar oportunidades exponenciais para uma mudança positiva", referiu Valentina Contini, Fundadora do Laboratório de Inovação da Porsche Engineering e participante no estudo, aquando a apresentação dos resultados.

Segundo Lutfu Kitapci, diretor-geral da Vodafone Smart Tech, a conectividade tornou-se parte do quotidiano nos últimos dois anos. Para este responsável da Vodafone, as conclusões do estudo "destacam a forma como o ritmo de transformação está a crescer, e como estaremos no centro do mesmo com as soluções de conectividade para ajudar governos, empresas e consumidores a enfrentarem os principais desafios da sociedade".

Ora, mas isso leva a uma questão: e os dados? "Tornar-se-ão numa nova forma de moeda", conclui o relatório.

"À medida que a consciência em torno do valor dos dados pessoais cresce, os futuros consumidores exigirão serviços e experiências personalizados em troca dos mesmos. Com 44% das pessoas a nível mundial a preferirem renunciar o conteúdo personalizado ao invés de partilhar informação, o relatório prevê que os dados pessoais se tornem uma moeda que as marcas terão de pagar ou oferecer em troca de uma experiência elevada", lê-se.

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