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A política e os engenheiros são coisas muito diferentes, reconhece Nick Clegg, mas foi esse o caminho que o antigo vice primeiro-ministro do Reino Unido escolheu em 2018. De Londres a Silicon Valley, Clegg aponta que "foi a política" quem o abandonou.
Apesar da mudança de cenário, o trabalho atual do antigo político continua a implicar a relação com forças políticas, nomeadamente a nível europeu. Depois de 2018, ano em que se intensificou o debate à volta dos dados e como são usados pelas plataformas digitais, após o caso Cambridge Analytica, que o Facebook enfrenta críticas ligadas à atuação na área da desinformação, discurso político e também à presença de discurso de ódio na plataforma.
Clegg defende que o "Facebook está no centro de vários debates éticos, sociais e culturais", mas que a empresa "está numa jornada de mudança". "Houve uma transformação completa da forma como o Facebook atuou nas eleições de novembro em comparação com as eleições de 2016", sublinhou.
Nick Clegg chegou ao Facebook num momento em que o pêndulo, analogia a que recorreu tanto na sessão como na conferência de imprensa na Web Summit, pendeu para um lado menos favorável para as tecnológicas. "Antes de o tech clash se instalar tudo aquilo que os engenheiros faziam era aplaudido e ovacionado", "quase como se Silicon Valley fosse resolver todos os problemas".
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Comparando os dados com pedaços de madeira, utilizados pelos engenheiros para construir algo, Clegg defende que era "inevitável que as pessoas começassem a pensar" de onde vêm esses dados. Mas também partilha que tem uma preocupação. "É um pêndulo que andou tanto para o outro lado que acabámos por cair num estado em que deixaremos de usar os dados de uma forma inovadora."

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A ausência de mercado único na UE
E foi à União Europeia que Nick Clegg apontou algumas críticas, incluindo na área da regulação. "A questão não é se a regulação da União Europeia é boa ou não mas se é capaz de desviar as atenções do funcionamento de um mercado digital." O responsável do Facebook lamenta que o mercado digital único não funcione como deveria, explicando que as empresas precisam de cumprir várias regras para operar em diferentes países dentro da UE.
Para Clegg é, aliás, a dimensão reduzida dos mercados internos dos diferentesn países que justifica a razão para a existência de poucas empresas de grandes dimensões no mercado tecnológico, especialmente quando comparadas com os EUA ou a China. "A razão para haver empresas" como o Facebook, TikTok ou a Tencent, "é porque essas companhias têm grandes mercados domésticos."
E a preocupação estende-se também ao Digital Services Act, que, como afirmou, ainda não conhece na totalidade. "Enquanto um europeu apaixonado, preocupa-me que quando os reguladores europeus finquem o dente no Digital Services Act não se esqueçam da questão mais importante: a ausência e prática de um mercado digital único."

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