Produtores de novos peixes querem conquistar amantes de salmão, bacalhau e atum

A piscicultura pode tornar o abastecimento alimentar mais estável e, ao mesmo tempo, tornar-se mais sustentável, de acordo com investigadores na Hungria e na Noruega.

Atenção amantes de peixe! Gabor Hetyey recomenda vivamente um novo prato: peixe-gato frito.

Hetyey não é nenhum chef de restaurante na sua Hungria natal. Contudo, pertence a uma organização com sede em Budapeste, que ajudou a produzir uma nova variedade de peixe-gato após uma década de investigação.

Melhor espécie

A sua entidade sem fins lucrativos coordenou um projeto financiado pela UE para demonstrar as promessas da piscicultura, também conhecida como aquicultura. O novo tipo de peixe-gato, desenvolvido como resultado da iniciativa, pode adaptar-se rapidamente a diferentes ambientes de produção, cresce mais rápido e é mais resistente a doenças.

"Um dos principais resultados do projeto foi o recém-criado peixe-gato híbrido germano-húngaro, produzido a partir de duas das melhores linhagens, mas sem relação entre si", afirmou Hetyey, diretor-geral da Kseris.

A piscicultura será crucial para garantir alimentos suficientes para uma população global em crescimento, agora com 8 mil milhões de pessoas, uma vez que os oceanos e os mares já se encontram no limite da sobrepesca. Além disso, os peixes fazem parte de uma dieta saudável pois contêm nutrientes tais como ómega-3, vitaminas e minerais.

"Estamos a pescar a um ritmo muito superior à sua capacidade de reprodução", disse Hetyey. "Ao mesmo tempo, a procura por peixe está a aumentar progressivamente."

O projeto, denominado SilGen, criou um sistema de produção em massa de peixes-gato de água doce e de qualidade superior. A iniciativa decorreu durante 24 meses até ao ano passado, com base na investigação iniciada em 2012 por cinco empresas líderes na área da piscicultura e investigação.

Os investigadores começaram por criar a melhor versão domesticada possível do peixe-gato europeu. Mapearam os genes do peixe e identificaram características benéficas para melhorar a descendência até à criação da nova espécie, que adotou o nome do projeto.

Além de se adaptar melhor, crescer mais rápido e ser mais resistente, o peixe-gato SilGen oferece benefícios ambientais, pois a sua criação envolve menos químicos e antibióticos, de acordo com Hetyey.

"O peixe-gato SilGen pode ser produzido e distribuído de uma forma mais sustentável", afirmou. "O sistema é único em oferecer uma solução completa ao criador - não só para a produção, mas também para a comercialização e distribuição."

Saboroso e fácil

Para além de tornar a criação de peixe mais eficiente, o projeto centrou-se nos consumidores, facilitando-lhes o consumo de peixe-gato em casa. Este projeto concebeu um método para oferecer filetes de peixe-gato prontos a cozinhar, com planos para disponibilizar este produto na Alemanha, Hungria e Eslovénia.

"O consumidor europeu moderno não tem tempo nem energia para comprar peixe não processado. Em vez disso, prefere comprar filetes sem espinhas e prontos a cozinhar", afirmou Hetyey.

Os investigadores esperam que este produto de supermercado de conveniência possa aumentar o consumo de peixe-gato em toda a Europa e satisfazer a crescente procura de alimentos locais, produzidos de forma sustentável.

Embora o peixe-gato seja relativamente desconhecido dos consumidores, a sua carne branca e textura firme poderiam torná-lo uma alternativa apelativa ao bacalhau, salmão e atum. Hetyey afirma que o peixe precisa de ser preparado da forma correta para ter hipóteses de conquistar os amantes de peixe.

"O peixe-gato, enegrecido ou frito, é um dos peixes mais saborosos do mundo - mas apenas quando é temperado e bem cozinhado", disse.

Os criadores do SilGen estão a trabalhar em conjunto com agricultores e restaurantes para tornar o peixe mais amplamente disponível. De acordo com Hetyey, estão a decorrer negociações promissoras com produtores de peixe interessados em utilizar a tecnologia SilGen.

Expressões genéticas

Embora encontrar a melhor espécie possível de peixes para piscicultura ainda se baseie geralmente na genética, os genes apenas explicam parcialmente as diferenças físicas dos peixes.

A epigenética, que inclui o estudo de como o ambiente pode alterar o funcionamento dos genes, pode tornar-se uma poderosa aliada na melhoria da criação de peixes para alimentação.

Ao contrário das alterações genéticas, a maioria das alterações epigenéticas são reversíveis e não alteram uma sequência de ADN. No entanto, podem ativar ou desativar determinados genes e, consequentemente, ajudar os animais a sobreviver em diferentes ambientes.

"São quase como interruptores de genes", afirmou o professor Jorge Fernandes, especialista em Biologia Molecular da Universidade Nord, na Noruega.

Quando começou a ler sobre a domesticação de peixes, o professor Fernandes já trabalhava na epigenética há anos. Ficou fascinado com a rapidez com que a aparência de criaturas como os peixes-dourados pode alterar-se - como por exemplo, as suas cores, o número de barbatanas que possuem ou até que ponto os seus olhos dilatam.

"Era um tema que não me saía da cabeça, nem mesmo à noite", afirmou. "E, a dada altura, pensei: não se trata apenas de genética." Isto marcou o início do projeto EPIFISH, com a duração de seis anos, até 2022.

Financiado pelo Conselho Europeu de Investigação, o projeto estudou o papel da epigenética na domesticação e seleção de peixes para proporcionar mais conhecimento aos criadores e produtores.

Nativa do Nilo

A iniciativa centrou-se na tilápia-do-nilo, nativa do norte de África e uma das espécies de peixes de criação mais vendidas no mundo.

"É bastante tolerante às novas condições ambientais e pode comer quase tudo, o que a torna uma espécie muito bem-sucedida para a aquicultura", afirmou o professor Fernandes.

A tilápia-do-nilo cresce muito mais nas explorações do que nos seus habitats nativos. O professor Fernandes queria compreender as alterações epigenéticas que permitiram que os peixes se adaptassem rapidamente e crescessem melhor em cativeiro do que na natureza.

Observando os marcadores epigenéticos, os investigadores descobriram que os genes do metabolismo lipídico dos peixes de criação são mais ativos do que na natureza, pois estes consomem mais gordura na sua alimentação. Se consumirem demasiada gordura, isto pode, no pior dos casos, causar uma doença chamada "fígado gordo".

Este conhecimento poderá ajudar os produtores a compreender a melhor forma de cultivar tilápias num ambiente de cultivo e tornar a sua produção mais sustentável a longo prazo.

Próximo passo

Os resultados do projeto EPIFISH poderão eventualmente ser aplicados a outras espécies de peixes.

"Com um pouco mais de investigação, poderiam também ser utilizados para a produção seletiva de salmão, robalo, carpa e outras espécies de criação importantes e ser expandidos a outras características além do crescimento, como a resistência a doenças", afirmou o professor Fernandes.

Entretanto, de volta à Hungria, país sem litoral, Hetyey expressou confiança no futuro apelo ao consumidor de peixe-gato SilGen - desde que se torne uma oferta mais comum nos supermercados e restaurantes.

"Acreditamos que o único obstáculo ao consumo de peixe-gato SilGen é que os consumidores ainda não o provaram", afirmou.

A investigação neste artigo foi financiada pelo Conselho Europeu de Investigação (CEI) da UE. Este artigo foi originalmente publicado na Horizon, a Revista de Investigação e Inovação.

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