SAP quer tornar empresas "à prova de futuro" com IA generativa

Multinacional germânica especialista em serviços de cloud concentra energias na inteligência artificial. Companhia liderada por Christian Klein desvenda nova visão no SAP Sapphire de Barcelona.

"Future is waiting and we are ready" (o futuro está à espera e nós estamos prontos). Foi assim que Christian Klein, presidente executivo da SAP, enfatizou na quarta-feira que a gigante companhia especialista em serviços na cloud (nuvem) entrou numa nova fase de transformação do negócio: a Inteligência Artificial (IA) generativa passou a ser o foco transversal às plataformas que o grupo fornece, a fim de tornar as empresas "à prova de futuro" perante as incertezas.

A partir da Fira de Barcelona, onde se realiza a versão europeia do SAP Sapphire - um encontro entre a empresa germânica, empresas-cliente, parceiros, analistas e media -, a SAP está a fazer um ponto de situação do posicionamento no mercado e a apresentar novidades. O mote é "Future-Proof Your Business". O SAP Sapphire Barcelona arrancou ontem e termina esta quinta-feira. O Dinheiro Vivo está no evento.

Se há um ano o foco era aprofundar a digitalização das empresas, defendendo a nuvem como a forma mais sustentável, agora, a SAP dá prioridade à IA generativa para continuar a assegurar "agilidade, resiliência e sustentabilidade" aos negócios das empresas que procuram a companhia.

De acordo com o CEO da SAP, Christian Klein, a IA generativa está a ter "um tremendo impacto na vida privada e na vida laboral das pessoas", por isso, a SAP "quer levá-la ao mundo empresarial". O objetivo, segundo Klein, é "responder a qualquer necessidade de qualquer empresa", a partir da inovação em torno da IA generativa.

O gestor acredita que a IA generativa pode alavancar o desempenho de diferentes áreas de uma empresa, desde os recursos humanos e departamentos comerciais, passando pelas cadeias de abastecimento e pelo departamento financeiro, até tornar o trabalho do chief information officer, que tem a função de transformar a análise de dados em decisões preditivas e menos incertas, "mais eficiente".

As plataformas distribuídas pela SAP já são desenvolvidas com IA, mas, Christian Klein está convicto que a inclusão de IA generativa será "game changer" (leia-se provocará uma mudança disruptiva). A empresa já tem mais de 50 casos de uso implementados, incluindo software e ferramentas em cloud desenhadas para empresas como a Unilever, Pfizer, PwC ou Google Cloud.

"As inovações anunciadas no SAP Sapphire assentam na nossa herança de tecnologia desenvolvida de forma responsável e nas décadas de experiência no sector e em processos que garantem o sucesso dos nossos clientes, hoje e no futuro", afirmou Klein.

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IA generativa une SAP à Microsoft

O caso da Microsoft, contudo, é paradigmático da ambição da SAP. Na terça-feira, as duas empresas anunciaram uma parceria que consiste na integração da plataforma SAP SuccessFactors com o Microsoft 365 e o Copilot (que recorre ao ChatGPT) no Viva Learning (plataforma da Microsoft), bem como com o serviço Azure Open AI da Microsoft.

A ideia é simplificar ações e tomadas de decisão com recurso à IA generativa, por exemplo, em processos de recrutamento ou no desenvolvimento de bases de dados.

"Através de uma integração entre a solução SAP SuccessFactors Recruiting e o Microsoft 365, os gestores vão poder, por exemplo, ajustar as descrições de trabalho usando o Copilot no Microsoft Word com conteúdo adicional e verificações para detetar tendências. As descrições finais de trabalho serão publicadas no SAP SuccessFactors para completar o trabalho, sem que os gestores precisem sair da rotina normal de trabalho". No final do dia, segundo a apresentação do CEO da SAP, o algoritmo com IA generativa vai fazer o match entre a oferta de trabalho aos perfis que teoricamente melhor encaixam na vaga em aberto.

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A aposta na introdução de IA generativa nas plataformas que a SAP desenvolve tem em vista, também, uma abordagem à falta de capacidades tecnológicas que algumas empresas têm. Num vídeo transmitido durante a intervenção do CEO da SAP, Satya Nadella, presidente e CEO da Microsoft, defendeu que esta aposta pode ser explicada do ponto de vista do contexto atual. Havendo dados e capacidade tecnológica, passa a ser possível "transformar a forma como as organizações atraem e desenvolvem o recurso mais importante: as pessoas".

Por outro lado, considerando a dimensão mundial global da SAP, os dados gerados em diferentes processos têm um potencial significativo para melhorar a operação das empresas, independentemente do setor de atividade. Por isso, este anúncio é também visto como uma forma de aumentar o poder dos dados e dos sistemas, em qualquer área, de acordo com Klein.

Focada em preparar o negócio das empresas que recorrem à companhia, a SAP criou novas funcionalidades para dar condições às empresas a atuar de outra forma, passando, por exemplo, de processos intuitivos a um envolvimento mais personalizado tendo em vista melhores resultados. Isto, no melhor dos cenários - depreende-se das palavras de Klein -, permitirá diminuir riscos e criar automatismos mais precisos. Por exemplo: a IA generativa que a SAP quer permitirá cruzar dados recolhidos nas plataformas da empresa com dados de outras plataformas; e permitirá levar a contabilidade de carbono para outro patamar, incorporando a medição da pegada de carbono de uma operação para um nível transacional.

Além disso, como o grupo germânico quer alavancar modelos de negócio com a IA generativa, a SAP está a desenhar a sua própria política de ética e a definir standards internos de como usar a IA generativa. O objetivo é preparar o grupo para futuras regras e legislações sobre IA, nas diferentes regiões do mundo.

"Num mundo que hoje enfrenta tensões geopolíticas, escassez de produtos e de competências e novas regulamentações, as empresas continuam a recorrer à SAP para obter soluções para resolver desafios mais prementes", explicou Christian Klein.

SAP investe quase 20% das receitas em I&D

O CEO da SAP não falou em números de investimento, ou seja, quanto está a investir o grupo em IA generativa. No entanto, as contas do primeiro trimestre de 2023 do grupo indicam que o rácio de custos com investigação e desenvolvimento na SAP equivale a 18,9% das receitas totais. Ora, a SAP faturou 7,44 mil milhões de euros até março, o que significa que a despesa com I&D ascendeu a mais de 1,4 mil milhões de euros, nos três primeiros meses do ano.

A SAP fornece software e aplicações empresariais a empresas privadas e públicas de 25 setores de atividade diferentes, tendo capacidade de fornecer plataformas a empresas de qualquer dimensão. Segundo o grupo alemão, 87% (ou 44 biliões de euros) de todo o comércio mundial passa, direta ou indiretamente, por plataformas SAP.

No final de 2022, o lucro operacional era de 1,7 mil milhões de euros (+17%) e as receitas totais da SAP tinham crescido 4%, para 29,52 mil milhões de euros. O negócio cloud foi responsável por mais de 11 mil milhões de euros das receitas. Só nos primeiros três meses de 2023, as receitas cresceram 9%, em termos homólogos. A previsão da empresa é terminar o ano com um lucro operacional de, pelo menos, 8,6 mil milhões de euros.

Até 2025, e já considerando a aposta na IA generativa, a SAP espera atingir 21,5 mil milhões de euros em receitas com a cloud, chegando aos 37,5 mil milhões de euros de receitas totais. O outlook indica também um lucro operacional de 11,5 mil milhões de euros.

A previsão foi feita já depois do grupo ter anunciado a eliminação de três mil empregos (2,5% da sua força laboral), para reduzir custos até 350 milhões de euros anuais a partir de 2024, depois da queda de 50% dos lucros em 2022.

A SAP foi fundada em 1972 em Waldorf, Alemanha, e está cotada na bolsa de Frankfurt. Emprega mais de 105 mil pessoas em todo o mundo, das quais cerca de 500 em Portugal. No mercado português, 70% das empresas que recorrem à SAP são pequenas e médias empresas.

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* O jornalista viajou a convite da SAP

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