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Nunca, desde que os telemóveis evoluíram para os dispositivos inteligentes a que chamamos smartphones, o mercado tinha levado um tombo tão grande como o que aconteceu no Natal de 2022. Os dados da consultora IDC mostram que as vendas caíram 18,3% naquele que é habitualmente o trimestre mais forte do ano, uma quebra sem precedentes que encerrou um ano bastante difícil para o mercado. Ainda mais relevante é o facto de as fabricantes terem vendido menos no trimestre natalício que no anterior, algo que era inédito até agora.
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Com esta derrapagem histórica, a quebra no total do ano foi de 11,3%. Um golpe duro para um segmento que tinha prosperado durante os anos de pandemia.
Há uma década que não se vendia tão poucos smartphones: os 1,21 mil milhões de unidades de 2022 marcaram uma inversão aguda do crescimento, atribuída à travagem da procura, elevada inflação e incerteza económica. A IDC levanta agora dúvidas de que a esperada recuperação em 2023 venha a acontecer. Há apenas uns meses, a consultora previa que o mercado voltaria a crescer 2,8% este ano.
"Nunca tínhamos visto remessas mais baixas no trimestre natalício que no trimestre anterior", salientou a analista Nabila Popal. "No entanto, uma procura enfraquecida e um elevado inventário levaram as fabricantes a cortarem de forma dramática nas remessas", explicou.
O inventário existente acabou por ser escoado com a ajuda de saldos e promoções, sendo que as fabricantes estão agora mais cautelosas com o planeamento e a tentar realinhar-se para voltar aos lucros.
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"Até a Apple", sublinhou Popal, "que até agora parecia ser imune, sofreu um revés com a sua cadeia de abastecimento e o confinamento inesperado em fábricas-chave na China." A marca da maçã voltou a liderar o mercado mundial, com 24,1% de quota, mas as suas vendas caíram 14,9%.
Este trimestre desastroso mostra que "a inflação crescente e as preocupações macroeconómicas continuam a tolher os gastos dos consumidores ainda mais do que o esperado, e empurram qualquer possível recuperação para a ponta final de 2023."
Também o analista Anthony Scarsella considerou que 2023 será um ano de cautela, com as fabricantes a repensarem o seu alinhamento de produtos e os canais a pensarem duas vezes sobre o inventário.
Uma nota positiva, se alguma há, é que esta situação pode ser vantajosa para os consumidores. As marcas podem fazer ofertas mais generosas para quem der o seu smartphone à troca na compra de um novo e optar por mais promoções.