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A Altice Portugal anunciou esta quarta-feira que contratou à Nokia o fornecimento e integração de componentes para o core (núcleo) da sua rede 5G standalone.
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Através de uma parceria estratégica, a Nokia "será responsável pelo desenvolvimento da rede core 5G, incluindo a evolução para uma arquitetura nativa na cloud, onde as funções de rede são implementadas como micro-serviços, numa lógica de negócio de serviços modulares", de acordo com o comunicado enviado à redação.
A gigante finlandesa, que em novembro de 2022 anunciou um centro de investigação para o 5G e 6G em Portugal, fica responsável pelo novo 5G da Altice Portugal.
Neste momento, as redes 5G que existem no país são non-standalone, o que significa que toda a estrutura da rede (exceto a antena) é 4G. A fase seguinte é fazer evoluir as redes para o 5G standalone, onde toda estrutura (núcleo da rede, vulgo core; gestão da rede; transporte terrestre da rede, sistemas de interligação entre redes; e rádio, vulgo antena) é 5G. À medida que as redes 5G dos operadores se vão desenvolvendo, o passo natural é migrar sobretudo o core da rede para componentes 5G.
Ora, no caso da Altice, é a Nokia que vai fornecer os componentes para a parte nuclear das redes 5G do operador.
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A dona da Meo refere, ainda, que este acordo "permitirá disponibilizar serviços inovadores 5G, tais como network slicing, serviços de baixa latência e serviços IoT [Internet das Coisas], de forma massiva, nas comunicações de clientes dos segmentos de consumo e empresarial".
"Por outro lado, irá também fornecer maiores níveis de segurança, utilizando algoritmos de encriptação reforçados para um aumento da privacidade", conclui a empresa.
Anúncio de fornecedor surge após alerta de peritos
A escolha da Altice Portugal pela Nokia acaba por refletir os apelos de Bruxelas - e também das autoridade nacionais -, que pediu às telecom para não utilizarem equipamentos que possam comprometer a segurança e integridade das redes.
O tema remonta a 2019 e surgiu depois de os Estados Unidos, liderados por Donald Trump, terem acusado a chinesa Huawei (e também a ZTE, outro player chinês) de usar as redes móveis para alegadas práticas de espionagem. Até hoje esse tipo de alegações nunca foram provadas, mas isso não impediu a Casa Branca de aplicar sanções às tecnológicas chinesas. No Velho Continente, a União Europeia acabou por lançar um documento com orientações para os Estados-Membros, denominando-o de caixa de ferramentas.
No seguimento da caixa de ferramentas da UE, e também da entrada em vigor de uma nova lei das telecomunicações, o Estado - através de uma Comissão de Avaliação de Segurança - passou a pente fino as redes dos operadores. Tal como o Dinheiro Vivo noticiou em janeiro, os peritos identificaram "algumas" situações que tinham de ser "corrigidas", no âmbito do desenvolvimento das redes 5G. Não terão estado em causa fornecedores específicos, mas sim o cumprimento de critérios de integridade e de segurança relativamente a componentes e equipamentos a que os operadores recorrem.
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Considerando o buzz criado em torno da Huawei, importa referir que, em Portugal, a empresa chinesa é há décadas parceira das principais empresas de telecomunicações em diferentes setores das infraestruturas de rede. Todavia, e apesar de antigas e atuais parcerias com a Huawei, os operadores históricos têm afirmado reiteradamente que não recorrem à Huawei para alimentar o núcleo da rede 5G.
Sabe-se, agora, que a Altice escolheu a Nokia para o core do 5G standalone - o operador tinha aberto um concurso para selecionar um fornecedor há cerca de um ano. A dona da Meo recorre em diferentes áreas das redes móveis à Cisco, Ericsson e Nokia, tendo no passado implementado também diferentes componentes da Huawei na sua rede. Aliás, em 2018, durante a visita de Estado do presidente da China, Xi Jinping, a Portugal, a Altice e a Huawei integraram um dos 17 acordos assinados entre os dois países. Naquele caso, estava em vista uma parceria estratégica para o 5G, mas, depois das recomendações de Bruxelas, a Altice sempre negou usar material da Huawei para o 5G.
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A NOS recorre atualmente à Ericsson e Nokia, mas já teve a Huawei como parceiro para a construção de redes móveis. No caso da Vodaofne Portugal, a Ericsson é fornecedor de longa data das infraestruturas do operador, mas para o 5G a escolha recaiu sobre a norte-americana Mavenir. Refira-se que a Nowo, que passou a deter espetro com o leilão do 5G, ainda não tem rede própria e continua a usar parte da rede da Altice. Já a Digi, que também tem licenças 5G mas cujas ofertas ainda não foram lançadas, tem parcerias para o 5G com Ericsson, Nokia e Huawei em diferentes mercados europeus.
[Artigo complementado com mais informação pelas 13h]