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Utilizar a Inteligência Artificial (AI, na sigla inglesa) para digitalizar rapidamente e sem erros produtos, descrições, preços e fotos dos menus dos restaurantes e pô-los online numa multiplicidade de plataformas é a inédita solução que oferece o projeto Menu.AI e que o levou a conquistar o 1º Prémio do Poliempreende 2021. A final nacional decorreu esta quinta-feira, 16 de setembro, no Instituto Politécnico de Santarém, onde o júri do concurso ouviu as apresentações das melhores ideias, elegendo para o 2º lugar o projeto Palmito do Atlântico, da Escola Tecnico-Profissional da Universidade da Madeira.
Do Trip Advisor ao Zomato, da Glovo à Uber Eats, entre muitas outras, para ter sucesso um restaurante hoje em dia tem de estar presente em várias - e quantas mais melhor - plataformas digitais, de preferência com os menus ou cartas do dia e preços bem vísiveis e, se possível, até com imagens dos pratos. Fazer essa digitalização todos os dias e multiplicar esse upload - a que os entendentidos chamam onboarding - para meia dúzia ou uma dezena de plataformas (ou mais) consome muito tempo.
Foi para resolver este problema que Guilherme Tavares, de 24 anos, licenciado em Gestão de Marketing pelo ISCTE e a tirar um mestrado em Gestão de Clientes na Nova SBE, se juntou a João Santos, também de 24 anos, ex-aluno de Engenharia Informática do Politécnico de Setúbal e agora aqui professor assistente de Eletrónica Aplicada, criaram o Menu.AI.
"O Menu.AI é facilmente explicável", avançou Guilherme Tavares pouco depois de ter recebido o prémio. "Com uma fotografia conseguimos digitalizar o menu de um restaurante e fazer, com isso, a sua versão digital: conseguimos ver quais são os produtos, as categorias, o preço de cada um e essa informação fica toda categorizada e digitalizada", explicou.
O jovem responsável contou que a poupança de tempo é a principal vantagem da sua solução. "Fizemos uma matemática e, se cada restaurante em Portugal digitalizar o menu uma vez, por ano são perdidos 80 anos de mão de obra neste processo de digitalizar o menu", revelou Guilherme Tavares.
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"A segunda vantagem é a eficácia: os menus vão ficar mais bem digitalizados. A nossa tecnologia identifica os caracteres e por isso não há tantos erros na transcrição dos produtos e das características", continuou. "E a terceira é a maneira como o menu rapidamente fica na sua versão digital de uma forma categorizada. Ou seja, se usarem aqueles softwares que apenas digitalizam as palavras, esses softwares não sabem dizer o que é um preço, um nome, uma categoria, e o nosso software fá-lo, o que faz com que todo o nosso processo de digitalização seja mais rápido", explicou Guilherme Tavares.
Uma simples foto e fica-se com a versão digital do menu de um restaurante pronta para todas as plataformas
O 1º prémio que o projeto mereceu veio acompanhado com um valor pecuniário de 10 mil euros, atribuído pelo Santander Universidades, parceiro do concurso Poliempreende, que vão ser usados para aumentar a equipa e a capacidade de processamento de dados, ou não fosse este um projeto alicerçado na capacidade de raciocínio de uma inteligência artificial.
Parte do dinheiro vai tambem ser aplicada para "conseguirmos desenvolver mais ferramentas e mais soluções que usem esta tecnologia e que melhorem a vida das pessoas, que esse o nosso objetivo final", concluiu Guilherme Tavares.
Quanto ao prémio, para a dupla de empreendedores representou uma validação da sua ideia. Mostrou-nos que com trabalho intenso e que com entreajuda e perseverança e possível levar projectos adiante", afirmou Guilherme Tavares, admitindo mesmo que poderá vir a alterar a sua vida: "É um projecto com elevado potencial e, se tudo correr bem, poderá representar uma alteração de carreira".
O 2º prémio coube ao projeto Palmito do Atlântico, ideia que consiste em dar uma utilidade às bananeiras que ficam a apodrecer após a apanha das bananas, como explicou João Petito, estudante de 22 anos, do curso técnico-profissional de Cozinha e Produção Alimentar da Universidade da Madeira (UMa) a e um dos membros da equipa.
Separando a bananeira por matérias-primas, o interior do pseudo-caule é utilizado para a alimentação, em conservas ou congelados - "porque ele não apresenta sabor, e eu consigo dar-lhe o sabor que eu pretendo, conferindo-lhe também versatilidade", explica João Petito -, as fibras são usadas para fazer embalagens biodegradáveis ou artigos de artesanato, enquanto as sobras e aparas podem ser aproveitadas para produzir um composto para adubar os solos.

Joao Petito exibe o "cheque" com o valor pecuniário que acompanhou o 2º prémio que conquistou no Poliempreende 2021
© JPetito
"Ou seja, ao adicionar a matéria-prima já decomposta no solo, vai ter inúmeras vantagens, porque não vai atrair as pragas - estas são atraídas por matérias-primas a decompor-se - e vamos verificar que há muitos produtos fitofarmacêuticos no solo, o que se vai traduzir no melhoramento dos solos e estando dentro dos valores permitidos que vão ser impostos em 2030 pela União Europeia", explicou João Petito.
Ao ganhar o 2.ª prémio, o projeto de João Petito e da sua colega de equipa Maria Catarina, tambem estudante da UMA, mas no curso de Psicologia, teve direito a um valor pecuniário de cinco mil euros também financiado pelo Santander Universidades. Segundo João Petito, este montante vai ser usado para concluir a investigação, registar a patente e continuar a avançar com o projeto até montar uma empresa.
"Basicamente, vamos dar continuidade ao nosso projeto", concluiu João Petito, que não escondeu o quanto valoriza o facto de ter conquistado este prémio. "Este prémio foi bastante importante por vários factores. O primeiro deles é porque nós precisamos do valor para darmos continuidade. O segundo: o feedback é muito importante para nós continuarmos com o nosso trabalho, porque isto foi uma valorização e uma motivação para avançarmos e apostarmos cada vez mais e para este projecto chegar longe".