Com formação em Engenharia de Materiais, Rui Pedro Silva estava a desenvolver - com outros colegas - uma investigação precisamente na área de materiais que armazenam energia dentro de baterias ou supercondensadores, quando perceberam que os resultados que tinham alcançado mereciam sair do laboratório e chegar ao mercado. O caminho não foi fácil e a meta ainda não foi alcançada. Mas já não falta muito. “Comecei a trabalhar naquele laboratório do Instituto Superior Técnico como bolseiro em materiais para energia e os resultados começaram a ser interessantes”, conta.
“O nosso produto é uma bateria. A nossa tecnologia é um sistema eletroquímico - é algo que está dentro das baterias - composto por níquel e carbono. O níquel é conhecido no mundo das baterias e o carbono no dos condensadores. Imagine o produto como uma bateria especial: misturamos os dois dentro da mesma caixinha. Fizemos um híbrido entre bateria e condensador ao juntarmos dois tipos de sistemas que armazenam energia num só. A nossa tecnologia é um sistema que armazena energia composto por níquel e carbono e o seu líquido - há vários tipos - é de base aquosa.” Os três elementos juntos tornam a solução única.
Fundada em 2014, a empresa tem estado focada no desenvolvimento do primeiro produto: uma bateria para o arranque de camiões ou outros veículos com motor a diesel de grande capacidade. A bateria está já a ser testada por potenciais clientes. “Já saímos do laboratório, já fomos ter com o cliente e fizemos demonstrações. Um dos nossos protótipos está a caminho da Mongólia para um teste que vai ser feito agora em fevereiro”, diz o engenheiro, acrescentando que há também testes a decorrer nos EUA e em Portugal.
Mas o caminho para chegar até aqui não foi simples. A empresa tem enfrentado as dores de crescimento comuns a muitas startups que produzem hardware. “Primeiro temos de ter dinheiro para comprar equipamentos para produzir; depois temos de produzir e todas as dores de cabeça que envolve a produção. Neste momento, e graças à Fundação Repsol, conseguimos comprar equipamentos de produção. Estão no nosso laboratório e permitem-nos uma produção razoável. Começámos a fazer tudo à mão, mas já não era possível. Agora, fazemos um protótipo num mês e o objetivo, graças ao novo financiamento que conseguimos obter - o SME Instrument Fase 2 -, é conseguir ter capacidade de produção de dez unidades por mês. É preciso produzir para demonstrar, validar e certificar. Tudo o que é eletroquímica, níquel, carbono e o sistema aquoso - tudo que está dentro das células é nosso. Não mandamos fazer nada fora.”
Rui Silva diz que o objetivo para estes próximos dois anos é a conclusão do desenvolvimento do produto. “Temos de ter a versão comercial final e capacidade de produção de cem baterias ao ano.”
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Fundo de Empreendedores
A C2C-New Cap já captou financiamento da Caixa Capital, bem como da InnoEnergy, da Comissão Europeia (através do SME Instrument Fase 2) e da Fundação Repsol (através do Fundo de Empreendedores, o programa de aceleração para startups da petrolífera).
Empresas que operem na área da economia circular, que tenham tecnologias que permitam acrescentar valor a materiais em indústrias como a química ou tecnologias disruptivas para o setor energético e da mobilidade, e companhias com soluções que permitam maior eficiência nas operações nestes setores podem candidatar-se à nona edição do programa (até 4 de março). As startups que integrem este programa, além de terem acesso a mentoria e à possibilidade de realizar um piloto no universo Repsol, contam com ajuda financeira a fundo perdido (entre 60 mil e 120 mil euros durante um ano, sendo que pode ser alargado para um segundo ano), sem exigência de entrada no capital.
Glória Vidal Torrado, gerente de Empreendedorismo na Fundação Repsol, diz que é precisamente a possibilidade de realizar testes no seio da companhia “o elemento diferenciador que mais atrai as startups”. A responsável salienta que “a Fundação Repsol lucra com o conhecimento sobre os projetos das startups apoiadas. As decisões de eventuais investimentos nessas empresas não são tomadas pela Fundação, mas sim pela empresa”.
A C2C-New Cap participou neste programa de outubro de 2017 a outubro de 2019. O empreendedor português não tem dúvidas de que lhes possibilitou “dois anos de desenvolvimento”.