Miguel Queimado, Pedro Queiró e João Borges são três portugueses que estão a conquistar as escolas, as universidades e várias instituições do Brasil. Através da plataforma DreamShaper, dão ferramentas para os mais jovens transformarem os seus sonhos em startups de sucesso. Lançado em 2014, este software é utilizado atualmente por 17 mil alunos, de 96 parceiros. E a startup até já paga dividendos aos seus investidores.
A plataforma desenvolvida em Portugal permite criar um plano de negócio em várias etapas, abordando oportunidades de negócio, testes de conceito, planos de marketing e negócio, contando com a ajuda de vídeos tutoriais. Além da parte financeira, a DreamShaper trabalha as componentes pedagógica e comportamental dos estudantes. Em alguns casos, esta plataforma funciona mesmo como uma pré aceleradora de negócios, que recorre à metodologia utilizada por universidades como as de Harvard, Stanford e Georgetown.
O trabalho da DreamShaper é desenvolvido em parceria com os professores, que supervisionam os progressos. Nas primeiras lições, os alunos propõem ideias para a discussão da viabilidade dos projetos. Nas aulas seguintes, os jovens ficam focados, principalmente, na apresentação de resultados de pesquisa e trabalho na plataforma digital.
“Quando começámos no Brasil, havia muito poucas disciplinas de empreendedorismo e pessoas para ensinar isso. O nosso software, ao contrário de outros projetos na área da educação, não vai contra os professores, o que explica boa parte do sucesso”, assinala Miguel Queimado, em entrevista ao Dinheiro Vivo.
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Com uma equipa de 12 pessoas, a empresa divide-se entre os escritórios de Lisboa - equipas de tecnologia, produto e conteúdos - e do Brasil, onde fica o departamento comercial, operações, pesquisa e serviço de apoio ao cliente.
Até chegar a este ponto, a DreamShaper teve um percurso atribulado e como que nasceu duas vezes. A primeira foi em 2008, a partir da associação Acredita Portugal, que promove um dos maiores concursos nacionais de empreendedorismo. Este evento serviu como uma “ferramenta pedagógica aberta a toda a gente. O nosso plano inicial, como esperávamos poucas candidaturas, era dar apoio direto aos projetos”.
Só que houve logo 700 inscrições. “A primeira versão da DreamShaper foi para responder ao facto de haver tantos candidatos. Era uma plataforma que aspirava ensinar empreendedorismo a qualquer pessoa e desenvolver o seu sonho de forma prática.”
A trabalhar, na altura, na consultora McKinsey, Miguel Queimado liderou a equipa especial da consultora que estava a acompanhar a Acredita Portugal. Só que entretanto “surgiu uma oportunidade única com o grupo Groupon e tive de me dedicar a essa função a tempo inteiro”.
Foi necessário esperar seis anos para que a DreamShaper tivesse o seu segundo fôlego e fosse constituída como startup. “O Brasil era o primeiro mercado a atacar e a economia tinha fortes taxas de crescimento.”
Miguel Queimado juntou-se a duas pessoas que “percebiam de tecnologia, marketing, educação e vendas para o segmento empresarial”, como Pedro Queiró, engenheiro de física nuclear no Instituto Superior Técnico, e a João Borges, que trabalhava numa empresa de vendas de dados no Brasil. O investimento inicial foi de 750 mil euros, exclusivamente de capitais próprios.
Seis meses depois, “o Brasil começou a mergulhar na crise” e iniciou-se a “travessia no deserto”, que serviu para os três fundadores terem “sempre preocupação com os custos e uma proposta de valor que agora está a ser-nos muito útil”. Para singrar neste mercado também é necessária “resiliência, tenacidade e criatividade”, assinala o criador da Acredita Portugal. O Brasil está apenas na posição 123 do ranking de facilidade de fazer negócios elaborado pelo Banco Mundial.
Com a economia brasileira a crescer, a startup que se divide entre os dois países irmãos está a começar a olhar para outros países, como Argentina, Chile e México. Para este passo ser dado, esta startup está disposta a receber investimento externo, algo que não aconteceu antes mesmo depois de terem sido apresentadas algumas propostas “tentadoras” no passado.
Entretanto, está a ser desenvolvida uma tecnologia para portais de pagamento e que poderá abrir a plataforma da DreamShaper aos consumidores. A empresa está também a recrutar quatro pessoas para o escritório de Lisboa, para posições de back-end, front-end, marketing e desenvolvimento de negócio. Podem estar a terminar o curso ou ter até três anos de experiência.
Há ainda um programa, chamado Projeto Vida, que deverá “ajudar os jovens no primeiro ano da universidade a descobrir o que querem fazer” futuro.