O financiamento das startups portuguesas ainda está longe da média europeia. Em 2018, cada ronda de investimento teve, em média, 10 milhões de euros, quando a média europeia foi de 13,1 milhões de euros, mostram os dados do relatório "Portugal Startup Outlook", elaborado pela BGI e pela EIT Digital. Mais de dois terços do financiamento das startups portuguesas vêm do capital estrangeiro.
"A partir da série A de financiamento, dominam os investidores estrangeiros", assinala Otito Dosumu, o responsável da BGI que apresentou esta quarta-feira o relatório aos jornalistas em Lisboa.
No ano passado, foram obtidos 600 milhões de euros em capital de risco pelas startups portuguesas. Só que mais de metade deste montante - 310 milhões de euros - foi obtido por uma só empresa: a OutSystems, que começou em 2001 num escritório em Linda-a-Velha e que tornou-se, em 2018, o segundo unicórnio português - empresa com avaliação de pelo menos mil milhões de dólares. Esta ronda de financiamento acaba por influenciar os dados de Portugal relativos ao ano passado.
Já em 2019, até ao final de agosto, cada ronda de financiamento de uma startup portuguesa foi, em média, de 2,8 milhões de euros, muito longe dos 17,1 milhões de euros registados, em média, no Velho Continente.
Os Estados Unidos são o país que mais contribui para o financiamento das startups portuguesas, com 33,99%; os investidores portugueses têm um peso de 27,86% - sobretudo nas rondas pre-seed e seed; o Reino Unido surge em terceiro lugar, com 11,22%.
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Ainda assim, há países que dependem ainda mais do investimento estrangeiro em capital de risco: em Espanha, os fundos internacionais são responsáveis por perto de 90% do financiamento; na Alemanha, são cerca de 80%.
Porto à frente de Lisboa
Na divisão por cidades portuguesas, o Porto ficou à frente de Lisboa. As startups da Invicta ficaram com 36,71% do financiamento captado. Lisboa surge em segundo, com 28,44%, à frente de Coimbra, que tem um peso de 11,99%.
O Porto é ainda a cidade com mais trabalhadores em startups - 800, quase o dobro dos 500 funcionários registados nas startups portuguesas.
Quase metade do investimento (49,74%) foi colocado em novos negócios estritamente tecnológicos. As startups que desenvolvem serviços e retalho tiveram um peso de 20,62%. A área da saúde teve um peso de 12,93%.
O investimento mais rentável, no entanto, foi gerado pelas fintech: por cada euro investido nas startups financeiras, foram gerados 3,45 euros em receitas.
Burocracia é problema
O relatório da BGI e do EIT chama ainda à atenção para o problema da burocracia em Portugal. "A lei portuguesa não tem em conta o empreendedorismo. É preciso resolver as disparidades entre startups e PME's. Não se pode colocar tudo no mesmo cesto", alertou Otito Dosumu.
Isso explica porque é que o país, neste indicador, registou dois pontos em 2018, quando a média europeia é de 2,5 pontos. Em 2015, com o anúncio da mudança da Web Summit para Portugal, o país chegou a ter uma avaliação de 3,5 pontos.
Este relatório foi elaborado com base nos dados disponibilizados pela plataforma Informa D&B e pelo portal Dealroom.