Nunca se tinha feito um programa desta natureza em Lisboa, reunindo na mesma plataforma todas as entidades centrais de mobilidade da capital portuguesa. Depois de um período de candidaturas, bootcamp e seleção de 14 startups, o Smart Open Lisboa Mobility está neste momento em fase de testes e provas de conceito de ideias, que estão a ser desenhadas para melhorarem a mobilidade dos habitantes na cidade.
O programa é liderado pela Câmara Municipal de Lisboa e está a ser gerido com o apoio da Beta-i. Os principais parceiros são o Turismo de Portugal, Cisco, NOS, Axians, Santa Casa da Misericórdia, TOMI, Carris, Metropolitano de Lisboa, EMEL, Brisa, Daimler e Ferrovial.
“Até setembro, os parceiros e as startups estão a alinhar os últimos detalhes sobre cada piloto que vai ser desenvolvido”, explicou ao DN o diretor do Programa SOL, Gonçalo Faria. A fase de experimentação e pilotos está marcada para 16 de setembro e irá durar até 15 de novembro, culminando num demo day em que serão apresentados os resultados finais dos projetos.
A seleção das ideias foi feita entre 130 startups nacionais e internacionais (num total de 38 países) que se candidataram à iniciativa, e de onde saíram, primeiro, 24 para estarem num bootcamp em Lisboa e 14 para avançarem até ao final. “O grande objetivo é que todos os pilotos que vão ser desenvolvidos se traduzam na criação de parcerias entre as startups e as entidades envolvidas no programa, a anunciar no demo day, adianta Gonçalo Faria, o que significa que “todas as startups” poderão sair do programa com algum tipo de parceria.
João Faria, gestor de projeto da Axians, acrescenta que a intenção é que daqui “surjam soluções de mobilidade para serem implementadas o mais rapidamente possível na cidade de Lisboa”, sendo o ideal “já em 2019”, a seguir à fase de testes. A Axians, tal como os outros parceiros, está a ajudar as equipas a construir o modelo de negócio e a oferecer mentores e soluções tecnológicas.
Quanto ao investimento, a contribuição será validada “em conjunto com os parceiros”, não estando definido um orçamento para o projeto. A empresa está a “disponibilizar tecnologia e recursos humanos” no desenvolvimento das startups e vai considerar um outro tipo de investimento “se surgir uma boa oportunidade no futuro”, reforça João Faria.
A Beta-i, que faz a gestão operacional do programa, também refere que não é possível apontar um valor global de investimento, “porque quer os pilotos que vão ser desenvolvidos quer as futuras parcerias a ser anunciadas no final do programa têm impacto no valor global”, diz o diretor, Gonçalo Faria. “O investimento é feito por todo o conjunto dos parceiros envolvidos”, adianta.
Melhorar a mobilidade
As startups selecionadas vão testar soluções de estacionamento e condução, de partilha de veículos e outros aspetos que condicionam a vida diária dos lisboetas. As equipas portuguesas são a Cardio ID, a Parkio e a Wall-i. Da vizinha Espanha vêm a Eccocar, a Xesol Innovation, a Shotl e a Meep App. Há ainda a AppyParking e a Third Space Auto, do Reino Unido, a e-floater, a Idatase, e Airpark e a MotionTag, da Alemanha, e a LifePoints, do Canadá.
Em termos de empresas portuguesas, as soluções são dirigidas a áreas diferentes. A CardioID, com sede na Maia, desenvolveu um sistema que identifica os condutores através do eletrocardiograma e pode ser embebido em vários produtos. Um deles é o CardioWheel, uma capa de volante integrada com produtos anticolisão como o da Mobileye, geolocalização e telemática. A startup liderada por André Lourenço tem como foco a redução dos acidentes rodoviários e melhorias operacionais, focando-se neste contexto em frotas de autocarros e camiões.
Já a Parkio desenvolveu um sistema que liga os condutores aos lugares de estacionamento disponíveis, facilitando o pagamento e aumentando a taxa de ocupação dos parques. Quanto à Wall-i, o conceito é abrangente: a empresa criou uma rede de meios de difusão de mensagens usando visão por computador, através de um aparelho de Internet das Coisas que se liga a qualquer ecrã, autocarro, metro, estação de combustível ou outro espaço. A ideia é que as empresas de mobilidade usem o sistema para mostrar informação relevante aos cidadãos e viajantes, além de que a tecnologia vai também ajudá-los a compreender os hábitos de deslocação. O resultado deverá ser a melhoria da qualidade de serviço dos transportes e da satisfação dos utilizadores.
Há ainda outros conceitos interessantes em prova. Por exemplo, os espanhóis da Eccocar desenvolveram uma solução de partilha de carros e carrinhas para empresas, rent-a-cars e concessionários. O problema que a startup quer resolver é o do desperdício, em que muitos veículos estão estacionados por longos períodos de tempo em frotas possivelmente sobredimensionadas. A solução permite reservar e abrir um veículo sem necessidade de chaves. No contexto do SOL Mobility, a empresa vai converter carros de alguns dos parceiros em veículos partilhados, propondo-se reduzir as suas frotas em 30% e poupando em custos de combustível e despesas de táxis.
Os alemães da MotionTag, que criam serviços a partir dos sensores dos smartphones, vão lançar a aplicação Smart Lisboa. O intuito é ajudar os utilizadores a entenderem o impacto das suas deslocações no ambiente e a perceberem, por exemplo, quanto tempo passam em transportes. A empresa quer “recolher informação valiosa sobre os padrões de mobilidade” dos lisboetas e turistas, que os parceiros poderão depois usar para criarem melhores ofertas e experiências.
A Carris é um desses parceiros e o CEO Tiago Farias já declarou o seu entusiasmo com os resultados do programa até agora, “especialmente pela qualidade das startups” e por ser uma iniciativa muito específica. “Esta proximidade com empresas que estão focadas no que é novo no campo da mobilidade, e que trabalham diariamente na evolução de novos conceitos, está completamente alinhado com a nossa estratégia.”