Ready Player One: a Matrix virtual de Spielberg lança avisos

O novo filme de Steven Spielberg mostra um mundo de realidade virtual (RV) próximo da revolução digital atual. Pode um filme acordar o mercado de RV?

Steven Spielberg está de volta aos seus bons velhos tempos, com uma aventura inspiradora e repleta do espírito jovem que o tornou num mestre da Sétima Arte nas últimas décadas. O filme chama-se Ready Player One: Jogador 1, só estreia na próxima quinta-feira, 29 de março, mas já o vimos e traçamos-lhe um retrato da forma como a realidade virtual pode ser peça chave num futuro próximo.

Ready Player One é baseado no livro de Ernest Cline – que também assina o argumento –, lançado em 2011, e que se tornou num fenómeno mundial. Tal como o livro, o filme leva-nos para 2045, para um mundo urbano caótico e distópico quebrado pelo colapso ambiental e económico.

E o que serve como salvação (uma espécie de Euromilhões) para os milhões que vivem na pobreza? Um jogo de realidade virtual, onde pessoas (especialmente os jovens) de todo o mundo podem abstrair-se da sua triste realidade e, se vencerem o jogo onde todos participam, levam riquezas para além da sua imaginação.

Nesta espécie de Matrix, chamada OASIS e que se tornou num substituto da sociedade em colapso, há um novo desafio com a morte do seu criador, James Halliday – um Steve Jobs da época. Ele oferece o seu mundo virtual a quem decifrar um puzzle complexo e repleto de referências aos anos 1980 – dos filmes de Regresso ao Futuro aos jogos Atari. Quem quiser, pode ver a lista completa de referências culturais do filme aqui.

O vilão do filme está personalizado numa empresa (e no seu líder), que comanda o mundo virtual mas que, graças à irreverência e bom coração de Halliday, não controla o jogo. Imagine uma empresa ao estilo da Google, mas que domina não só a pesquisa, mas também todos os sites do mundo. É esse o papel da empresa IOI, com poder para controlar quase tudo e todos.

https://www.youtube.com/watch?v=N5qsl6juiYY

Os avisos com laivos positivos

Ao contrário do filme The Matrix, onde os humanos eram prisioneiros do mundo virtual e viviam em cápsulas para poderem ‘viver’ no mundo virtual, Ready Player One oferece uma visão mais positiva da realidade virtual. O que a aventura épica de Spielberg mostra é que, estar um dia inteiro imerso num mundo artificial e funcionar através de um avatar não tem que isolar os seres humanos.

No filme, jovens que não se conhecem acabam por, através da sua paixão pelas referências aos anos 1980, fomentada pelo criador da OASIS, interagir como verdadeiros amigos dentro do mundo virtual. Mas há avisos claros aos jovens, alertas esses que também fazem sentido no mundo atual em que dominam as redes sociais, onde a insegurança relativamente à forma como os nossos dados pessoais são usados está na ordem do dia.

O filme lembra com frequência que um avatar feminino, jovem e bonito pode pertencer a um criminoso de 100 kg. Ou seja, as aparências no mundo virtual, tal como nas redes sociais, podem ser muito enganadoras. Deixa o aviso, mas vai além disso mostrando como a união de jovens faz a força, mesmo no mundo virtual - é Spielberg a voltar aos temas que o fizeram um ícone do cinema, só que num contexto mais futurista.

O novo filme de Spielberg (que realiza e produz) é, acima de tudo, um excelente menu de degustação para se perceber os potenciais da realidade virtual, a forma como pode permitir uma interação muito próxima da realidade (com os avatares). Mas, como diz o criador deste Matrix chamado OASIS, James Halliday (desempenhado na perfeição por Mark Rylance): “a realidade é o único local onde se pode encontrar a felicidade verdadeira”.

Reanimar o mercado da realidade virtual

Neste mundo distópico só animado pela realidade virtual, a compra de bens virtuais – alguns para ganhar vantagens no jogo – passa a ser central na vida das pessoas. Steven Spielberg, disse recentemente acreditar que os jogos virtuais “vão passar a ser uma super droga” e que esta até é “uma boa altura para escapar” para mundos virtuais.

Na verdade, o mercado da realidade virtual não tem crescido ao ritmo que se esperava nos últimos anos. De acordo com o analista de mercados da empresa norte-americana Jefferies, Mark Lipacis, o filme pode servir de catalisador para a realidade virtual. Ou seja, tem o potencial de se tornar num fenómeno cultural que aumente o interesse na RV (realidade virtual), tal como aconteceu com o jogo para smartphones Pokemon Go.

“Acreditamos que o filme vai aumentar as vendas de aparelhos de RV que usem placas gráficas poderosas e aumentar o interesse em experiências imersivas”, escreveu o especialista, citado pela Variety. A espetacularidade de cenas de ação incríveis, que incluem King Kong, o DeLorean de Regresso ao Futuro e tantas outras referências da 'cultura pop' é um dos pontos indicados para valorizar a experiências de RV. A empresa DigiCapital projeta que a realidade aumentada (prima da virtual) pode representar um mercado de 90 mil milhões de dólares só nos EUA, até 2022.

O filme só estreia na próxima semana, incluindo nos Estados Unidos. Por isso, só depois da estreia é que vamos ficar a saber se Spielberg vai voltar a fazer história (neste caso, no mundo da realidade virtual) ou não. Quanto ao filme, vale bem a pena não só pela tecnologia futurista, mas também pela forma brilhante como Spielberg se reinventa numa aventura ao estilo dos seus bons velhos tempos.

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