Trabalhava a partir do seu quarto na casa de família, quando um dia chegou à agência de casting Sonder um briefing mundial. A Coca-Cola procurava um travesti para a sua campanha europeia Choose Happiness: What Are You Waiting For
. Fred Canto e Castro não esperou. “A Coca-Cola tinha uma campanha gigante e precisava de imensas pessoas. Queriam um conjunto de personagens, entre as quais um travesti, e nenhuma agência tinha um em carteira e nós também não. Fomos à procura. Fomos ao Finalmente
, fizemos cinco a seis castings a travestis, hoje nossos agenciados, e um deles filmou para a Coca-Cola”, lembra o fundador da Sonder.
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Hoje a agência de casting de “pessoas autênticas” já pôs mais de mil agenciados a filmar para cerca de 30 países mais de 500 campanhas para marcas como a Nike, H&M, NOS ou Super Bock. “Há muitas campanhas que estão a ser feitas para o Mundial que têm agenciados nossos”, diz. Fechou o ano passado com uma faturação de 520 mil euros e já faz planos para se internacionalizar.
Tudo começou com um pitch que Fred Canto e Castro fez à sua avó, até agora o único investidor na empresa. Na sala de jantar lá de casa convenceu-a da ideia que ganhou raízes depois de um trabalho de curso. Partiu de uma constatação simples: as pessoas não gostam de publicidade, as marcas estão a mudar a forma como comunicam, mais do que modelos aspiracionais pretendem “pessoas autênticas, como nós, com as quais nos consigamos identificar para criar uma relação”. Tinha 19 anos.
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“Vi que havia este shift enorme no mercado, mas com um problema: as pessoas autênticas não sabem que podem fazer anúncios e, como tal, as agências tradicionais tiveram dificuldade em recrutar”, diz. “Há uma diferença entre ser real e normal e ser autêntico. O que faz a diferença é a atitude perante a vida, é o termos personalidade, algo de diferente, não nos conformarmos. É esse tipo de pessoas que a Sonder procura.”
Internacionalizar a empresa
Largou o curso, o quarto virou o escritório e durante nove meses dormiu no sofá da sala. Quinhentos agenciados a passar lá por casa depois, o pai “sugeriu” que mudasse a empresa para outras instalações. Passou para a LX Factory. “Às vezes temos de ter aquela pressão para sairmos da nossa zona de conforto, e foi o melhor que me aconteceu: começámos a crescer muito mais rapidamente”, garante.
Para crescer perceberam que não podiam ter tantas pessoas a trabalhar na contratação de agenciados. “Decidimos digitalizar uma grande parte da empresa. Começámos por criar o nosso próprio software e há oito meses decidimos digitalizar o setor que era operacionalmente mais pesado: a aquisição de agenciados”, descreve. Os interessados em candidatar-se enviam um vídeo e podem pedir informação online. Há um bot que responde e “80% das pessoas acham que estão a falar com alguém do outro lado”.
Depois das campanhas, levaram o conceito de “pessoas autênticas” para os eventos, para os promotores. “Claramente que é mais difícil. É uma indústria que não despertou tanto para isso”, comenta. Na publicidade o conceito chegou para ficar. “Todas as marcas querem pessoas autênticas, as que ainda preferem modelos são as de perfumes e cosmética”, afirma.
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Desde o ano passado, a Sonder está no Porto. “O nosso foco é recrutar nas cidades onde há procura, mas temos candidaturas do mundo inteiro”, explica. O objetivo é expandir a operação para o exterior. “O nosso modelo de negócio é altamente escalável, conseguimos fazer isso tendo só uma pessoa a trabalhar por cidade. Tudo vai depender dos próximos meses. Estamos a fazer pesquisa para perceber qual a melhor forma de escalar a empresa. Se com um investidor e uma pessoa local, se com franchising, se com representação como fazem as agências tradicionais. Há várias hipóteses em jogo e não estamos comprometidos com nenhuma”, diz. Até setembro querem decidir. Depois? Cidade do Cabo, Barcelona e Berlim “são sempre cidades apetecíveis”.
Há cerca de um ano devolveu o investimento feito pela avó. “Devolvi-lhe o empréstimo e paguei-lhe juros, por brio.”