O Eduardo convida-nos a conhecer as suas "vacas felizes"

Os Açores são um dos poucos locais do mundo onde as vacas andam livres todo o ano. E isso reflete-se na qualidade e quantidade do leite produzido.

O desafio foi lançado. Ir até Ponta Delgada, São Miguel, e comprovar, in loco, que as vacas do Terra Nostra pastam livremente. Todos os dias do ano. Algo que acontece em apenas três locais a nível mundial. E os Açores são um deles.

Tendo por base esta especificidade, e a importância que tem ao nível da sustentabilidade, mas também da consciência animal - uma preocupação que ganha cada vez mais adeptos - a Terra Nostra criou uma campanha em que as pessoas podem ligar para um número e falar com o Eduardo. Trata-se de uma pessoa real. Na verdade, um dos 140 produtores certificados do Programa Leite de Vacas Felizes Terra Nostra. José Eduardo Pereira vem de uma família ligada às vacas há várias gerações. Hoje seis dos 12 irmãos dedicam-se a esta atividade. No caso do Eduardo, faz parte do programa "Vacas Felizes", que obriga a cuidados extra.

A campanha é simples. Foi criado um número para o qual as pessoas que querem conhecer as vacas felizes devem ligar até 31 de maio. A probabilidade de efetivamente conseguirem falar com o Eduardo é remota, porque ele está no campo, a acompanhar os animais. Mas irá selecionar as mensagens que lhe parecerem mais interessantes e os autores poderão conhecer a vida de um produtor de leite dos Açores.

Os "vencedores" terão a oportunidade de receber uma viagem até à Ilha das Vacas Felizes, onde podem conhecer o Eduardo, visitar as suas cem vacas felizes na pastagem e ver "com os seus próprios olhos" o trabalho diário desenvolvido para garantir que a Terra Nostra entrega o melhor da pastagem. E perceber que cada uma tem o seu próprio nome e que o Eduardo conhece-as a todas.

Mas não se trata apenas de ir até lá e perceber que as vacas têm total liberdade. Liberdade para "passear" pelos campos, para comer, para descansar, mas, também, para quando é altura, seguirem a sua líder - há sempre uma - e irem até "casa" onde lhes é retirado o leite. Algo essencial para não terem infeções que, se não forem detetadas a tempo, podem levar à morte do animal.

A família Pereira sempre foi pioneira no ramo. Eduardo e o irmão Luís, por exemplo, decidiram investir num sistema que, colocado como colar em cada animal, não só permite fazer a sua rastreabilidade como monitoriza todo um conjunto de dados. Desde a temperatura, o historial médico, a sua vida toda, e inclusive se está prestes a entrar no cio ou mesmo se a vaca está prenha. Dados que permitem ter uma abordagem preventiva.

Se antes Eduardo tinha de fazer uma vistoria diária e individualizada a cada animal - com as devidas limitações inerentes - hoje "ataca" apenas os animais cujos valores fizeram soar algum alerta. Desta forma, não só poupa tempo, como consegue detetar possíveis problemas muito mais cedo. O que se traduz, por exemplo, numa menor necessidade de intervenção veterinária, logo, menos medicação. E isso significa melhor qualidade de vida para as vacas e, claro, melhor leite para os consumidores.

Ambos os irmãos consideram o sistema como uma excelente ferramenta de trabalho e um investimento a longo prazo. Porque adianta "serviço de qualidade", na medida em que conseguem ter um maior controlo individual das vacas e atuar de forma preventiva. "Ajuda-nos a usar muito menos antibióticos", afirma Eduardo. Além de que os alertas ajudam a detetar problemas que se se descobertos tarde demais podem inclusive levar à morte do animal. Hoje a primeira tarefa dos irmãos, logo de manhã, é consultar o sistema para verificar o andamento das suas "meninas". "Agora não perdemos tempo com as vacas que estão boas", aponta Luís Pereira. As duas vistorias visuais que eram feitas a todas as vacas já não são necessárias. Com isso os produtores podem dedicar o seu tempo a outras atividades. Além disso, como aponta Luís Pereira, o sistema regista toda a vida dos animais, como também dos solos, as práticas e aplicações de adubos das pastagens onde as vacas andam. "Toda a atividade da exploração consta do sistema", diz Luís Pereira, que acrescenta que "só conseguimos melhorar se tivermos dados".

Uma estratégia em três pilares

Esta campanha, na prática, mostra o resultado de uma estratégia a três níveis levada a cabo pela Terra Nostra. Tudo começa com a agricultura regenerativa, que Luís Gonzaga Pereira está agora a levar a cabo - uma espécie de projeto-piloto e cobaia para os outros irmãos - que consiste em analisar o solo e plantar culturas que se entreajudem e proporcionem uma maior variedade e diversidade de raízes e, com isso, maior riqueza e força para o solo. Um investimento que resulta numa melhor nutrição para as vacas que estão na pastagem e que num leite de maior qualidade.

Esta é uma aposta relativamente recente. A marca e os produtores ainda estão a analisar os dados e a testar quais as melhores culturas. Mas a ideia é tratar o solo de forma que este se possa regenerar - o que se vê, tipicamente, são culturas uniformes, o que não são a melhor escolha para a riqueza do solo, além de serem algo cansativas (como nutrição) para as vacas. Ao plantar diferentes culturas o solo fica mais protegido, possibilitando, inclusive, o aumento da biodiversidade. E isso é bom para todo o ecossistema, como o ser humano no fim da linha (ao consumir um leite de melhor qualidade).

Os produtores como jardineiros e protetores da ilha

Na prática, lembra Eduardo e Luís, os produtores, ao cuidarem das pastagens, acabam por funcionar, de forma informal, como jardineiros, mas também como protetores do terreno que percorre a ilha. Isto porque, infelizmente, há muito descuido por parte das pessoas que consideram que, por ser campo, é igualmente caixote do lixo. Apesar de ser uma propriedade privada o facto de estar junto à estrada faz com que as pessoas tenham comportamentos inaceitáveis. No tempo que o Dinheiro Vivo passou na pastagem deu conta de várias garrafas de vidro, embalagens de sumo e de leite... coisas que deveriam estar no caixote do lixo e não no terreno. Mesmo porque podem pôr em causa - se por acaso o produtor não reparar - a saúde das vacas. Além de prejudicar o ambiente.

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