Vivemos tempos muito voláteis. Depois da pandemia e ainda a viver o impacto da guerra na Europa surgem sinais de instabilidade nos mercados financeiros, com as recentes falências de dois bancos nos Estados Unidos (o Silicon Valley Bank e o Signature Bank) e a forte turbulência no Credit Suisse.
De imediato, estes acontecimentos conduziram à memória da crise financeira de 2008 e fizeram soar as campainhas quanto à possibilidade de podermos vir a enfrentar uma nova crise.
A União Europeia tem passado uma mensagem de tranquilidade, sublinhando que o setor bancário da área do euro está globalmente mais fortalecido, tendo aumentado a sua resiliência nos últimos anos, com fortes posições de capital e liquidez.
Porém, há já quem defenda que esta perturbação na banca deverá ter implicações na estratégia de atuação do Banco Central Europeu (BCE). Mesmo assim, perante a perspetiva de que a inflação permaneça muito alta por muito tempo, o BCE decidiu na passada quinta-feira voltar a subir as taxas de juro, em cinquenta pontos base, com a taxa de referência a subir para 3,5%. Significa que não se desviou qualquer milímetro da sua determinação em assegurar o regresso atempado da inflação ao objetivo de médio prazo de 2%, que traduz o seu mandato.
Perante o elevado nível de incerteza, no seu comunicado, o BCE reforça a dependência das decisões sobre as taxas de juro de novos dados económico financeiros e sublinha estar a acompanhar de perto as atuais tensões do mercado, e pronto a responder conforme necessário para preservar a estabilidade de preços e a estabilidade financeira na área do euro.
Resta saber se o BCE tivesse invertido o caminho traçado, num contexto em que a inflação permanece alta, não estaria a dar um sinal de extrema preocupação em relação à solidez e eventual efeito de contágio para os bancos da área do euro?
Certo, é que esta nova subida das taxas de juro vai continuar a causar dificuldades às famílias e às empresas, numa altura em que enfrentam condições mais restritivas no acesso ao crédito. Os resultados do mais recente Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, do Banco de Portugal, sinalizam critérios de concessão de crédito mais restritivos nos empréstimos concedidos a PME, tanto de curto como de longo prazo, e nos termos e condições do crédito, o aumento do spread em empréstimos de maior risco e condições mais restritivas nas garantias exigidas, montante e maturidade dos empréstimos.
Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP)