A arrogância não está em Cristiano Ronaldo, está em não admirar a arrogância de Cristiano Ronaldo. Só o facto de se referir a ele próprio na terceira pessoa diz tudo sobre o respeito que lhe devemos. Como diz Fábio Coentrão, há pessoas que deviam lavar a boca antes de falar sobre ele. Pois também acho. É a figura mais pública de Portugal, a referência nacional mais internacional. A crista mais levantada que se conhece. O nosso maior caso de sucesso. E não é um sucesso qualquer: é um poema.
A história do sucesso de Cristiano Ronaldo acontece numa época em que a sorte passou a ser a variável menos importante no mundo do futebol e em que a competição, o esforço e o profissionalismo tomaram a dianteira. Só mesmo os melhores em todas as competências conseguiram chegar ao fim. E Cristiano Ronaldo chegou do fim do mundo, dos confins da Madeira ao topo do futebol, e ficou por lá anos sem fim como o melhor jogador de todos os tempos. E porquê? À custa de muito talento, de muito trabalho, de muita ambição, de muita resiliência e de muita disciplina. Mas mais do que tudo, a sua história é a história de uma família. De um pai que o deixou órfão e que ele teima em manter vivo, de uma mãe que o leva ao colo como se ele nunca tivesse saído de Os Andorinhas e das irmãs que são as suas sentinelas. O orgulho que ele tem em tudo isto é o poema.
A lágrima fácil, as emoções que o fazem ofender-se com as críticas e morder a boca, a ausência total de cinismo, o orgulho quase infantil de querer marcar só mais um golo, de conseguir saltar só mais um centímetro ou de se achar o homem mais bonito do mundo. É tudo isto que faz de Ronaldo um herói. Não fosse todo este lado de carne e osso, criticável, vulnerável, e ele seria apenas mais uma máquina infernal de futebol. Sem interesse, sem alma e, por isso, sem o sucesso histórico.
Diz ele que quer ser um exemplo. Como? Um exemplo de trabalho, de esforço, de resiliência, de foco. Mas as novas gerações não querem saber, têm muitas distrações, têm tudo. E encolhe os ombro com melancolia. Se ele tivesse tido um Cristiano à disposição teria aproveitado para aprender e para o seguir. Para assimilar tudo o que esse deus teria para lhe ensinar. Mas os miúdos agora são diferentes, explica-nos na malfadada entrevista em inglês. Numa entrevista em que estava ele sozinho contra um Império, e nós, os seu compatriotas, a morder-lhe cobardemente as canelas sem vergonha nenhuma. Sem partilhar da sua arrogância e sem o mínimo de orgulho pelo "vai à merda" em inglês que o nosso herói universal anunciou em prime-time a um clube e a um treinador cujo nome ninguém sabe pronunciar.
Cristiano é um herói, e o problema é esse. No nosso país tritura-se heróis, inveja-se o sucesso e destrói-se a riqueza. Eu estarei sempre do lado do Ronaldo.
Jurista