Das contrariedades criamos valor

Terminamos 2022 como um ano que, em termos agronómicos, foi o ano mais seco de que temos memória. Estamos num ano em que há uma guerra na Europa e em que se perspetiva a resolução da pandemia por COVID-19.

Estão reunidas todas as condições para que 2022 seja um ano mau. Mas, e como se costuma dizer no setor, até ao lavar dos cestos é vindima. Mesmo tendo em conta todas as perspetivas que me levam a dizer que será um mau ano, para o setor não podemos resumir dessa forma. Em termos agronómicos o ano foi particularmente agressivo, devido à seca, mas a chuva no fim do ciclo conseguiu amenizar a situação. Temos perdas de produção mas a perspetiva é de vinhos de qualidade. Os brancos estão prometedores e vamos esperar pelos tintos. Qualitativamente pode ser um ano melhor que 2021.

Em termos de mercados, diremos que o setor do vinho em Portugal se comportou positivamente. Poderia não ter sido, mas não foi esta a realidade. Estamos a ter bons resultados na exportação. Exportar mais e com melhor valor. O mercado nacional não tem decrescido. Não há motivos para ver o copo meio vazio, devemos ver o copo meio cheio e há necessidade de continuar a trabalhar. Não há que deitar a toalha ao chão.

Para os produtores nacionais, o grande desafio são as questões em torno do mercado em si. Um mercado global onde a instabilidade política tem consequência na estabilidade económica. A inflação irá também ter o seu papel no resultado do setor em 2023. O vinho não é um bem de primeira necessidade, e caso as pessoas tenham menos dinheiro, pode ser algo a excluir da lista de compras. O contexto em que estamos a viver e onde as alterações climáticas são uma realidade, mas no setor do vinho ganham uma preponderância ainda maior, são também uma grande preocupação.

As alterações climáticas podem ter um impacto significativo na indústria do vinho. Mudanças nos padrões de temperatura e precipitação podem afetar o crescimento da uva e o desenvolvimento de diferentes variedades de vinho. Além disso, eventos climáticos extremos, como secas, ondas de calor e inundações, podem danificar as vinhas e reduzir o rendimento das vindimas.

Também a tecnologia está a tornar-se cada vez mais importante para a indústria do vinho. A viticultura de precisão, por exemplo, usa dados de sensores climáticos, drones e satélites para ajudar os viticultores a otimizar a gestão das vinhas e melhorar o rendimento das vindimas. Outras tecnologias, como o controlo do stress hídrico com irrigação de precisão, podem ajudar os agricultores a adaptarem-se às mudanças nas condições climáticas e minimizar os danos nas vinha e consequente produção. A vinha é hoje a cultura perene que necessita de menor quantidade de água por hectare.

Acredito que o trabalho em rede que a ADVID tem vindo a desenvolver desde a sua criação, bem como a transferência de conhecimento, é fundamental para responder aos desafios do setor, permitindo a melhoria contínua e sustentada da qualidade das uvas e vinhos.

José Manso, presidente da ADVID

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